Record diz que 'Gênesis' é a maior produção da emissora, mas há quem duvide disso

Novela que estreou nesta semana contará com mais de 250 atores, números musicais e cenários em computação gráfica

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Rio de Janeiro

Principal produto de teledramaturgia da Record para o primeiro semestre de 2021 —e primeira novela inédita desde o início da pandemia, furando a Globo— “Gênesis”, que estreou nesta semana, contará com um elenco de mais de 250 atores, sete fases, números musicais e cenários em computação gráfica, como o Éden exibido no primeiro capítulo.

No lançamento, a emissora afirmou se tratar da maior superprodução da história do canal, que tem se especializado nos folhetins bíblicos. Mas há dúvidas a respeito disso.

“Toda nova novela eles chamam de superprodução. Eu não vejo essa grandiosidade que a Record quer colocar. Isso é mais uma jogada de marketing. O know-how para fazer esse tipo de novela eles já têm há uma década, já testaram o caminho das pedras”, afirma Nilson Xavier, crítico de TV e criador do site Teledramaturgia, referência na área.

Segundo ele, mesmo o diferencial da novela, o grande número de atores no elenco, é passível de ser contestado. Isso porque, como a novela tem diferentes fases, contando a versão bíblica da história do mundo a partir de Adão e Eva, muitos atores e atrizes participam da trama por períodos curtos. “Tem muita criança. Isso incha o elenco”, afirma.

Procurada por meio de sua assessoria de imprensa ao longo da semana, a Record não respondeu às solicitações da reportagem sobre o orçamento e a produção de “Gênesis”.

Um dos maiores sucessos da emissora, “Os Dez Mandamentos”, que inaugurou a fase de novelas bíblicas, teve custo estimado de R$ 700 mil por capítulo. Segundo uma fonte da área, o custo de um capítulo de novela das nove da Globo, até 2013, era de R$ 800 mil. A emissora, no entanto, tem reduzido custos e, portanto, não é possível estimar o valor atualmente, ainda que dificilmente fique abaixo de R$ 500 mil.

Procurada, a TV Globo informa que não comenta os valores das suas produções.

Uma pessoa que esteve na produção do folhetim diz que é difícil estimar o custo de “Gênesis”, uma vez que a produção da novela sofreu ajustes em decorrência da pandemia. Em março, por exemplo, parte da equipe teve de regressar do Marrocos antes do tempo.

Essa mesma pessoa afirma que o projeto, como se tornou regra na emissora, partiu de uma cúpula comandada por Cristiane Cardoso, filha do bispo Edir Macedo, dono da Igreja Universal do Reino de Deus e da TV Record.

Cardoso, que é também apresentadora e escritora, atua como supervisora de texto dos folhetins da casa. O que, na prática, significa dizer que é ela quem determina como uma história vai ser veiculada.

A novela teve várias versões, porque a produção ia mudando de ideia ao longo do processo, e sempre com os textos sendo aprovados por Cardoso e pelas pessoas em volta dela, diz essa mesma pessoa que trabalhou na produção. Ela acrescenta que, no fim de 2019, recebeu um email pedindo que a equipe reescrevesse dez ou 15 capítulos, o que em tese a teria a obrigado a escrever até 30 episódios.

Essas alterações, ao contrário do que acontece em outras emissoras e serviços de streaming, não obedeceriam a questões dramatúrgicas ou de audiência, mas, ao ponto de vista de Cardoso e de sua cúpula.

Em razão das frequentes alterações no texto, dois autores e roteiristas deixaram a novela –Gustavo Reiz e Emílio Boechat. A novela, dirigida por Edgard Miranda, é, hoje, escrita por Camilo Pellegrini, Raphaela Castro e Stephanie Ribeiro. A criação do texto, no entanto, começou em 2018.

Com a estreia da novela, a TV Record obteve 16,1 pontos de audiência na Grande São Paulo, segundo dados do Kantar Ibope, ficando isolada na vice-liderança, a dez pontos do SBT. Cada ponto equivale a a 268 mil domicílios.

O primeiro capítulo da nova trama obteve o melhor desempenho desde “A Terra Prometida”, sequência de “Os Dez Mandamentos”, em 2016.

“Duvido muito que a Record vá repetir o feito de ‘Os Dez Mandamentos’. Tem que acontecer uma coisa espetacular. A Record precisa se mexer muito para chamar a atenção do público. Novela precisa de um tempo de aderência”, afirma Xavier, do Teledramaturgia.

“Os Dez Mandamentos” terminou no fim de 2015 com média de 16 pontos, segundo maior índice desde a retomada das produções do canal, em 2004.

“A cada nova praga era um momento de uma audiência maior [em ‘Os Dez Mandamentos’]”, diz Xavier. Resta saber se a destruição de Sodoma e Gomorra e o dilúvio causarão o mesmo impacto.

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