Descrição de chapéu The New York Times

Caso de tutela de Britney Spears volta ao tribunal após estreia de documentário

Aos apelos por sua liberdade foi acrescentada uma nova mensagem, 'nos perdoe, Britney'

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Julia Jacobs
The New York Times

A batalha judicial sobre o controle das finanças e da vida pessoal de Britney Spears volta ao tribunal nesta semana, em meio a uma discussão renovada sobre como ela foi tratada durante sua ascensão meteórica como estrela pop adolescente e, depois, quando teve problemas de saúde mental.

A questão ressurgiu na semana passada, depois da estreia de “Framing Britney Spears”, documentário produzido pelo jornal The New York Times. O filme narra o conflito sobre a tutela de Spears, um arranjo legal que permitiu que outras pessoas —sobretudo seu pai— administrassem sua carreira de 2008 para cá.

Ao buscar as origens da batalha judicial em curso, o documentário conta a história de uma artista talentosa que, por décadas, se viu cercada de pessoas que buscavam tirar vantagem dela e que terminou levada ao desespero pela insidiosa cultura de celebridades e por paparazzi que nunca a deixavam em paz.

O filme também estuda o movimento #FreeBritney, uma campanha de fãs da cantora que afirma que a tutela hoje vigente é motivada por cobiça.

Desde a estreia do documentário, os apelos pela libertação de Spears se multiplicaram, com diversas celebridades aderindo e amplificando um movimento que no passado estava confinado a um nicho restrito de ativistas e fãs ardorosos.

Em postagens no Instagram e Twitter na última terça, Spears pareceu ter falado sobre o documentário indiretamente, ao publicar um vídeo de uma apresentação que fez alguns anos atrás, acompanhado pela mensagem “sempre vou amar estar no palco, mas estou me esforçando para aprender a ser uma pessoa normal". "Adoro poder simplesmente desfrutar das coisas básicas da vida cotidiana! Lembre-se, não importa o que pensamos sobre a vida de alguém”, ela escreveu. “Isso é nada se comparado à vida que a pessoa real leva por trás das lentes.”

Com uma audiência marcada para esta quinta em Los Angeles, confira um resumo sobre a controvérsia da tutela.

O que é a tutela?

Também conhecida como guarda, a tutela é um arranjo legal complexo, tipicamente envolvendo pessoas idosas ou enfermas. Um representante é apontado para administrar assuntos e propriedades da pessoa se ela for considerada incapaz de tomar conta de si mesma ou estiver vulnerável a influências ou manipulações externas.

Spears vive sob tutela desde 2008, depois de uma sucessão de episódios públicos problemáticos (que, como aponta o documentário, foram registrados agressivamente pelos paparazzi que seguiam Spears por todo lugar).

Por mais de uma década, o pai da cantora, James Spears, conhecido como Jamie, supervisionou boa parte da vida financeira e pessoal da filha, na função de um de seus tutores. Os tutores apontados pela Justiça têm controle sobre tudo, do tratamento de saúde mental a determinar se e para onde o tutelado pode viajar.

O arranjo ainda significa que tutores são obrigados a submeter contas detalhadas daquilo que o tutelado compra ao tribunal —mesmo despesas ínfimas, como pequenos gastos com supermercado e cinema.

Uma tutela costuma ser vista como uma forma de proteger a pessoa. Os representantes de Jamie Spears dizem que sua condução da carreira da filha a salvou da ruína financeira. Já Jamie alega em documentos encaminhados ao tribunal que “sua única motivação é seu amor incondicional pela filha e um desejo feroz de a proteger daqueles que buscam tirar vantagem dela”.

Qual é a situação do caso na Justiça?

Em meados do ano passado, os contornos do caso mudaram drasticamente quando o advogado apontado pela Justiça para representar Spears, Samuel Ingham 3º, declarou numa petição ao tribunal, pela primeira vez, que sua cliente “se opunha fortemente” à manutenção do pai como tutor.

Ao requisitar que Jodi Montgomery, a tutora profissional que estava temporariamente encarregada de Spears, passasse a ocupar a função permanentemente, Ingham 3º deixou em aberto a possibilidade de que Spears um dia solicitasse o fim da tutela.

“Sem de forma alguma abrir mão de seu direito a buscar o encerramento da tutela no futuro”, o advogado escreveu, “Britney gostaria que a indicação de Montgomery como sua tutora se tornasse permanente”.

Mulher jovem branca e loira com roupas coloridas em cima de palco
Britney Spears em show no Jones Beach Island, nos Estados Unidos, em 27 de junho de 2000 - Paul Burnett/The New York Times

Em novembro, um juiz recusou a retirada imediata de Jamie Spears como tutor responsável pelas propriedades da filha; ao mesmo tempo, o juiz acrescentou uma empresa de guarda fiduciária, a Bessemer Trust, como cotutora, atendendo ao pedido da cantora.

Em dezembro, o juiz estendeu o mandato de Montgomery como tutora pessoal de Britney até setembro deste ano.

A audiência desta semana em Los Angeles provavelmente incluirá uma discussão sobre os papéis de Jamie Spears e da Bessemer Trust na administração das propriedades. Um advogado de Jamie Spears não respondeu de imediato a um pedido de comentário.

O que Britney Spears quer?

O que se tornou claro nos últimos meses, por meio de seu advogado em petições feitas ao tribunal, é que Britney Spears não deseja mais que seu pai a tutele.

Numa audiência judicial em novembro, o advogado da cantora declarou que “ela tem medo de seu pai”, com quem não fala há muito tempo, e que não voltará a se apresentar em público enquanto seu pai mantiver controle sobre sua carreira, segundo noticiou a agência Associated Press.

Por muitos anos, Spears não reagiu à campanha #FreeBritney de seus fãs, mas mais recentemente ela sinalizou alguma aprovação, quando seu advogado escreveu numa petição que sua cliente “recebe positivamente e aprecia o apoio informado de seus muitos fãs”. (O pai dela se referiu aos ativistas do movimento #FreeBritney como “propagadores de teorias da conspiração”.)

Mulher branca e loira dançando em palco
Britney Spears em show realizado em 8 de julho de 1999 - Nicole Bengiveno/New York Times Photo

O que está menos claro é se Britney Spears planeja pedir o fim da tutela num futuro próximo. Sua aversão inicial ao arranjo ficou clara em 2008, quando, numa entrevista à MTV, ela comparou sua situação a uma sentença de prisão sem duração definida.

Em postagens na rede social na última terça, Spears escreveu que “cada pessoa tem sua história e sua opinião sobre as histórias alheias”.

O atual namorado de Spears, Sam Ashgari, criticou bastante Jamie Spears na terça, escrevendo num "story" no Instagram que tem “respeito zero por uma pessoa que está tentando controlar nossa relação e sempre põe obstáculos em nosso caminho”.

Quem mais se pronunciou

O movimento #FreeBritney já atraiu a atenção de celebridades no passado, como quando Miley Cyrus gritou o lema durante um show, em 2019. Mas o documentário fez crescer o apoio –e fez com que jornalistas e outros reavaliassem o papel que podem ter desempenhado na obsessão exagerada por Spears que existia nos anos 2000.

Nos dias após o lançamento do documentário, celebridades como Sarah Jessica Parker, Bette Midler e Andy Cohen postaram a hashtag no Twitter.

Definindo o documentário como “um soco no estômago”, a atriz Valerie Bertinelli publicou na mesma rede social uma lista com os nomes de homens que, na sua opinião, prejudicaram a carreira de Britney Spears. A cantora Hayley Williams escreveu que “nenhum artista atual” tem de suportar o que Britney suportou.

Nos dias após a estreia do documentário, uma outra mensagem começou a circular e foi popularizada por celebridades, entre as quais a cantora Courtney Love –“nos perdoe, Britney”. Era uma admissão pesarosa de que as intrusões na vida privada de Spears, a fixação em relação à sua sexualidade e a atenção impiedosa a seus erros eram uma responsabilidade compartilhada por muitos.

Tradução de Paulo Migliacci

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.