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Rupi Kaur procura a poeta que talvez exista nela em livro supérfluo

Autora indiana chove no molhado desde a primeira coletânea de poemas que bombaram na internet

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Vivien Lando

Meu Corpo Minha Casa

  • Preço R$ 31,99 (192 págs.)
  • Autoria Rupi Kaur
  • Editora Planeta
  • Tradução Ana Guadalupe

Rupi Kaur chove no molhado. Desde sua primeira coletânea de poemas, "Outros Jeitos de Usar a Boca", a jovem autora, que bombou na internet, se serve de suas duas raízes.

De um lado, o fato de ter nascido na Índia e pertencer a família indiana lhe garante uma sabedoria involuntária, atávica aos que vieram do país com mais conhecimento espiritual do mundo.

Acontece que Rupi e seus pais emigraram para o Canadá quando ela era ainda uma garotinha —o que lhe proporcionou crescer num dos países mais civilizados, no bom e mau sentido, do planeta.

Essa soma de contrastes explica como ela começou a postar o que chama de poemas na internet e editar a primeira coletânea por iniciativa própria, ainda bem jovem.

rupi kaur com as mãos nas têmporas
A escritora Rupi Kaur - Reprodução/Instagram

Em todos os textos se entrevê ao fundo aquela sapiência milenar, a qual nos informa que toda solução está dentro de nós. Ou que nosso corpo é um templo para o espírito que nele habita temporariamente. E outras tantas informações que a própria pandemia da Covid-19 tem se encarregado de recordar ao mundo ocidental —tão frio, tecnológico e ineficiente para o que chamamos de males da alma.

Ao assistir a uma entrevista da autora no YouTube, se percebe um certo senso de autocrítica, sobretudo quando ela lembra que se perguntou de início quem iria querer ler aquilo.

Sem necessidade de ser tão intransigente, é bom ressaltar que para se fazer poesia não basta picotar as frases em pedaços curtos e procurar uma ou outra rima mais adequada.

Para se fazer poesia é imprescindível ser poeta.

E Kaur ainda está procurando essa entidade secreta que talvez exista dentro dela. Ou não. A internet é um facilitador sem filtros. Ali, quase tudo entra, e os seguidores precisam ficar atentos. Ou não.

Há quem não se importe de perder tempo, porque o tem de sobra. Muitos não se incomodam de ler banalidades e consideram Fernando Pessoa ou Shakespeare inatingíveis. Verdade: é necessário subir os degraus todos. Mas vale a pena.

Ler boa poesia transporta para os mundos outros, mesmo que não tenhamos acesso aos vedas indianos, à kryia yoga e a todas as outras maneiras de tirarmos folga do plano material e seu mar de problemas.

O que chamamos de viralizar na internet comporta a conotação de vírus, de doença. E também de sucesso, de quantidade de visualizações. Estranhamente, o bem e o mal contidos no mesmo canal de comunicação, que enquanto ajuda o triste a apavorado Homo sapiens a se proteger da doença em voga, o conduz a enganos e decepções.

Rupi Kaur apropriou-se dessa forma de se fazer ouvir muito antes de tudo isso. Saiu na frente. Mas não saiu melhor: "Meu Corpo, Minha Casa" é supérfluo.

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