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Família de podcasts históricos traz alívio ao trocar cacofonia por simplicidade

'História FM', 'Estação Brasil' e 'Coluna de Hércules' se debruçam sobre diferentes épocas, da Antiguidade ao passado do país

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São Carlos (SP)

'História FM', 'Colunas de Hércules' e 'Estação Brasil'

A criação do podcast "História FM" e seus filhotes, o "Colunas de Hércules" —dedicado à história da Antiguidade— e o "Estação Brasil" —voltado, é claro, para o passado brasileiro— é um caso clássico dos males que vêm para bem, segundo o coordenador da iniciativa, o historiador Icles Rodrigues.

Com mestrado pela UFSC, a Universidade Federal de Santa Catarina, Rodrigues originalmente se dedicava ao seu canal no YouTube, o Leitura ObrigaHistória, hoje com 357 mil inscritos.

O público do canal, porém, sempre pedia para que ele criasse um podcast. “Quanto mais eu pensava nisso, mais eu queria fazer. E, paralelamente, comecei a perder a paciência com o ambiente do YouTube”, conta.

Após poucos episódios do História FM e já apaixonado pela mídia, em meados de 2019, ele começou a migrar gradativamente para o áudio.

Nos podcasts brasileiros, não há cacoete mais irritante do que transformar qualquer tema numa variante das mesas-redondas de futebol: quatro ou cinco pessoas falando sem parar, frequentemente uma em cima da outra, e sem conseguir concluir um mísero raciocínio.

Nesse ponto, o ouvinte do "História FM" e seus spin-offs pode respirar aliviado: no lugar da cacofonia, os programas apostam num formato simples, com perguntas feitas pelo âncora –Rodrigues ou seus colegas Ricardo Duwe e Vinicius Fedel– e respondidas por, em geral, um único convidado, normalmente um pesquisador especializado no tema de cada episódio.

Não espere grandes firulas na edição de som, embora os programas empreguem com competência recursos como música instrumental e, quando possível, gravações de discursos históricos –na vinheta de abertura do História FM, preste atenção na célebre frase “A date which will live in infamy”, uma data que permanecerá infame, do presidente americano Franklin Roosevelt.

O centro de gravidade dos episódios é deixar que os entrevistados falem de maneira fluida, enquanto os apresentadores buscam pontuar a conversa com perguntas mais gerais, que funcionam como grandes balizas do momento histórico examinado em cada programa.

É claro que, para funcionar, esse formato depende, em grande medida, dos dotes retóricos e didáticos dos historiadores convidados e do fôlego do ouvinte, já que a aposta é em episódios mais longos, com duração entre 1h e 2h. Por sorte, em geral a aposta é certeira, com a mistura correta de densidade de informação e informalidade na conversa, além da oferta de boas referências –em geral, de livros e artigos– para os ouvintes que pretendem se aprofundar nos temas abordados.

Por enquanto, até pelo tempo de estrada –são 50 os episódios já disponíveis, lançados num ritmo quinzenal–, o História FM é o podcast mais desenvolto da tal família. Sua temática é variada, ainda que com predomínio de eventos dos séculos 19 e 20 no cardápio (merecem especial atenção episódios recentes sobre a Revolução Chinesa e a crise econômica de 1929, por exemplo).

Também é possível encontrar programas sobre história econômica, como uma análise de Laura Carvalho, professora da USP, sobre a economia brasileira da Era Lula a Bolsonaro, e temas mais teóricos, como as diferentes escolas historiográficas.

Tanto o "Estação Brasil", apresentado por Duwe, doutorando em história pela UFSC, quanto o "Colunas de Hércules", comandado por Fedel, graduando em história na PUC de Campinas, são mensais e estão no ar há cerca de um ano.

No caso do primeiro, vale a pena conferir o episódio extremamente bem documentado sobre os efeitos da Guerra Fria no Brasil. O segundo dedicou, por enquanto, a maior parte dos programas à Grécia e Roma antigas, com uma boa discussão sobre a democracia ateniense e os sistemas políticos do mundo grego e uma bem-vinda incursão na pré-história do Brasil. De acordo com Icles Rodrigues, há planos para continuar a expansão da família de podcasts no futuro.

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