Assim como Tom Jobim e Aloysio de Oliveira em "Dindi", o fotógrafo Carlos Monteiro, 62, não sabia para onde iriam as nuvens do tão vasto céu do Rio de Janeiro em 17 de março de 2020, quando as sombras da pandemia pairaram sobre o país, e a cidade deu início ao período de restrições.
"Pensava que não iria ser curta [a quarentena], mas imaginava que no fim do ano estaríamos nas ruas novamente", dsse Monteiro.
Desde 2012, ele fotografa os nasceres do Sol. "É o período em que as ruas estão livres e vazias, e podemos fazer melhores registros", afirma. Há exatatamente um ano, no entanto, as imagens tiveram de ser feitas dentro da própria casa.
Durante este ano, Monteiro se levantava todos os dias entre 3h40 e 5h da manhã (a depender da estação) para organizar seu aparato e se preparar para acompanhar, de sua janela ou do terraço, a chegada da luz diária que dava os contornos aos morros (e às vezes aos pássaros) em suas imagens.
Inicialmente, o fotógrafo publicava os registros nas redes sociais, mas, após pedidos recorrentes de colegas, ele decidiu criar um grupo de disparo no WhatsApp para enviar as fotos a essas pessoas.
Aos poucos o grupo ganhou corpo e hoje tem cerca de cem pessoas. "Tem gente que eu não conheço pessoalmente. Gente do Brasil inteiro e de fora do país. Tem brasileiros que recebem na Espanha, em Portugal e na Inglaterra", diz.
Junto à dezena de imagens que envia pelo celular vai uma crônica escrita pelo fotógrafo. O texto passou a se tornar recorrente em maio, após alguns meses clicando as alvoradas.
"Alguns colegas pediam minhas fotos para usar em portais ou sites e colocavam como título 'nascer do sol no Rio'. Eu falava 'só isso? Você é capaz de escrever algo melhor'. Acabou que eu mesmo passei a escrever para acompanhar o material."
Já perto de ter feito 90 mil fotos dentro de casa nesses 365 dias, Monteiro afirmou que continuará a saga. "Quando eu tiver vacinado e me sentir mais seguro, posso pensar em voltar a fazer essas imagens na rua."
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