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Lana Del Rey se arrisca em novo disco, mas faz falta algum tempero

Cantora americana sussurra e inova seu pop barroco em 'Chemtrails Over the Country Club'

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Chemtrails Over the Country Club

  • Onde Nas plataformas de streaming
  • Autor Lana del Rey
  • Gravadora Universal

Lana Del Rey abre de maneira surpreendente seu novo disco. A cantora deixa de lado sua tradicional voz ingênua e doce, como se fosse uma menina de 15 anos do interior prestes a debutar, e sussurra.

Não se trata, contudo, de um cochicho discreto ao pé do ouvido —é um canto no limite da respiração, seguro de si e que atravessa diversos matizes no decorrer da primeira faixa, a excelente “White Dress”, para nos contar a história de uma jovem garçonete que trabalha no turno da noite usando um vestido branco e justo.

A música é também a melhor de “Chemtrails Over the Country Club”, o sétimo disco —sem contar o álbum de poesia falada lançado em 2020— da cantora e compositora americana. São os cinco minutos de um total de 50 em que ela mais se arrisca.

A cantora Lana Del Rey, que lança o disco 'Chemtrails Over the Country Club' - Neil Krug

A performance inicial projeta uma sombra pelas dez faixas seguintes do disco, de forma a fazer o ouvinte procurar por mais do mesmo. Contudo, boa parte de “Chemtrails Over the Country Club” traz a tradicional lamúria entre o monótono e o sensual da artista, que a tornou admirada ou detestada por uma geração de adultos hoje se encaminhando para a meia idade.

“Chemtrails”, por exemplo, soa como uma continuação do disco anterior, o indicado ao Grammy “Norman Fucking Rockwell” –um pop barroco, de ar kitsch e trágico a um só tempo, habitado pelo clichê da mulher à moda antiga, que se veste com luvas de renda e colar de pérolas e viaja num conversível pelo interior dos Estados Unidos, passando por motéis de beira de estrada.

Desde seu primeiro trabalho, em 2012, Del Rey recriou o apelo imagético da "road trip" pelos Estados Unidos, e ainda é esse universo que ela habita no disco novo, com ajuda da sonoridade do produtor Jack Antonoff, responsável pela maior parte dos instrumentos.

A fórmula da dupla se repete no miolo do disco, tornando as faixas bastante uniformes entre si, o que pode ser encarado como a assinatura da artista ou como falta de tempero. De todo modo, Antonoff —conhecido por seu trabalho com as divas do pop Lorde e Taylor Swfit— parece extrair a versatilidade possível da voz de Del Rey, sem usar efeitos em demasia para a ofuscar.

Outro bom momento do disco é “Dark But Just a Game”, em que a voz da cantora lembra de passagem Beth Gibbons, do Portishead, e o instrumental também remete ao clima relaxado e viajante do grupo de Bristol. “Enquanto o mundo todo está louco/ nós estamos nos chapando no estacionamento/ Enquanto o mundo todo está louco/ estamos nos beijando no estacionamento”, canta ela.

Na última faixa, os vocais da convidada Weyes Blood quase ofuscam os de Del Rey na bela cover de “For Free”, da icônica cantora de folk Joni Mitchell, injetando um sopro final num álbum com diversas canções parecidas. O disco termina com o mesmo assombro do começo.

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