Morre Manolo Florentino, historiador que lançou novos olhares sobre a escravidão

Professor da UFRJ, foi colunista da Folha e presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa entre 2013 e 2015

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Belo Horizonte

Morreu nesta sexta-feira (12), o historiador Manolo Florentino, no Rio de Janeiro, após uma parada cardiorrespiratória. Ele tinha 63 anos e era capixaba de Baixo Guandu.

Especializado em estudos africanos e em escravidão no Brasil, foi professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, de onde se aposentou em 2019, além de ter sido presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa entre 2013 e 2015. Ele também foi colunista deste jornal, no extinto caderno Mais!.

Manolo Florentino, historiador da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), no Largo Sao Francisco no centro do Rio, em foto de 2004 - Luciana Whitaker/Folhapress

A atual presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa, Letícia Dornelles, publicou nota de pesar nas redes sociais da instituição, o chamando de "amigo, conselheiro, importante intelectual brasileiro".

O Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro publicou, em nota, que o professor deixou "marcas indeléveis nas instituições em que trabalhou" e que "Manolo marcou definitivamente a historiografia brasileira".

"Demonstrou que a escravidão e o tráfico, longe de produzirem apenas uma sociedade separada entre senhores e escravos, geravam estruturas sociais profundamente desiguais e excludentes em diversos níveis, e dos dois lados do Atlântico. Sua produção é indispensável para estudiosos da escravidão transatlântica."

Florentino é conhecido pela sua contribuição nos estudos sobre a escravidão. "Foi um dos grandes mestres que revolucionaram uma área muito promissora da historiografia brasileira, que é a historiografia da escravidão. Manolo era um pesquisador muito importante no que se refere à história da escravidão no Brasil mas também pelas Américas", diz a historiadora Lilia Schwarcz.

"Nos últimos 30 anos revolucionou a concepção do que é escravidão, mostrando sim como os escravizados eram vítimas, mas também como tinham ação, como tinham relevância."

O historiador escreveu livros como "Em Costas Negras", da editora Unesp, sobre como o tráfico de escravos entre a África e o Rio de Janeiro era viabilizado pela existência de relações desiguais de poder já na própria África, lembra Schwarcz.

Em outro título, "O Arcaísmo como Projeto", da editora Civilização Brasileira, o autor faz uma relação entre o mercado atlântico, a sociedade agrária e a elite mercantil. "A Paz das Senzalas", da editora Unesp, além de mostrar os horrores da escravidão, dá rostos para os agentes que viabilizaram o tráfico, diz a historiadora.

Florentino também era colaborador do site Slave Voyages, um importante banco de dados que esmiúça mais de 36 mil expedições negreiras entre 1514 e 1866.

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