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Podcast 'Betoneira' leva arquitetura e urbanismo para o público leigo

Descontração dos apresentadores às vezes afasta episódios de tema principal, porém consegue alcançar objetivo

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Cena de

Cena de "Meu Tio", tendo na janela à direita o diretor, Jacques Tati; casa com geringonças que não funcionavam é um dos exemplos lembrados em "A Boa Vida", episódio do podcast Betoneira Divulgação

No dicionário, betoneira é uma “máquina giratória com que se misturam os elementos que formam o betão ou concreto”. Entram ali a brita, a água, o cimento e a areia, que, mesclados, resultam no material que é um dos mais usados na construção civil.

Betoneira é também um podcast lançado no ano passado para abordar temas de arquitetura e cidades. O nome é uma tradução simpática para a proposta do programa, que mescla os assuntos mais variados, abordados por ao menos três pontos de vista diferentes —os de seus apresentadores, os arquitetos André Scarpa, Marcelo Barbosa e Paula Otto— e eventualmente o de um convidado.

Lançado em setembro de 2020, o podcast vinha sendo pensado desde 2019 e chegou a ter episódios gravados num estúdio montado na sede do Bacco Arquitetos, escritório de Barbosa. Hoje, cada apresentador e os eventuais convidados participam de casa.

Entre os 13 programas que já foram ao ar —sempre semana sim, semana não—, o Betoneira já tratou de temas momentosos, como o teletrabalho na pandemia, abordado no episódio de estreia, “Home-Office ou Home-Vida”, ou o que proporciona o conforto numa casa, no programa sete, “A Boa Vida”, que entrevista a designer Baba Vacaro.

Mas também debateu outros mais leves, como nos episódios três e seis, “Por que a Casa do Vilão É Sempre Mais Bonita?” e “Casas Mal-Assombradas”.

Vários, ainda, dilatam o campo costumeiramente associado à arquitetura e urbanismo, falando da relação da cidade com o Carnaval, com o historiador e escritor Luiz Antonio Simas, e de seus bairros com times de futebol, com o jornalista José Trajano. Essa elasticidade é mais que bem-vinda, pois retrata a amplitude do ofício e das questões com que lida.

O tratamento é sempre descontraído. No entanto a descontração às vezes esbarra no amadorismo, na dupla acepção do termo, deixando evidentes tanto a motivação prazerosa dos apresentadores quanto sua inexperiência no ramo.

Se há um ambiente agradável de um papo de bar —saudade não falta—, há também por momentos a sensação esquisita de estar ouvindo a conversa da mesa ao lado.

Por isso, o podcast ganha muito quando tem um entrevistado, o que acontece na maior parte dos programas. Tendo de seguir uma pauta mínima, a conversa fica mais amarrada.

Um dos melhores exemplos está em “Quanto Custa um Lar”, no qual Marina Grinover explica a proposta do fundo Fica, que promove habitação de aluguel a custo justo na região central da cidade.

Mesmo assim, aqui e ali acontece de o convidado correr solto, ou de a apresentação que resume o tema de um episódio destoar do que, de fato, o episódio acaba debatendo.

É o que acontece, por exemplo, no episódio "Design Invisível", o de número dez. Embora comece chamando a atenção para aplicações do design que há em toda cidade, mas que variam em cada uma, como semáforos e faixas de trânsito, a conversa vai para a interação entre arte e arquitetura e espaço urbano.

É um papo superinteressante com João Nitsche, do Nitsche Arquitetos, mas diferente do que a apresentação vende —o que se resolveria mudando o texto previsto para o adequar ao que de fato o espectador vai ouvir.

De modo geral, uma pauta mais sólida de perguntas, quando há entrevistado, ou um roteiro mais estrito, quando não há, poderia auxiliar o animado trio sem necessariamente podar sua espontaneidade.

Vale notar, no entanto, que nos episódios mais recentes isso vem sendo contornado.

O último que foi ao ar, no dia 3 de março, “Comunique-se”, traz uma boa conversa com a arquiteta e ativista Stephanie Ribeiro, apresentadora do programa Decore-se, da GNT, sobre como desmistificar a contratação de um profissional de arquitetura.

Como acontece ao colocar na betoneira a brita, a areia e o cimento, com a água a dar liga, é preciso ajustar a proporção dos elementos —o traço, no jargão arquitetônico— de acordo com a finalidade do concreto.

Nenhum dos ajustes necessários, porém, elimina o fato de que o Betoneira alcança o objetivo proclamado de seu trio de criadores, que é falar de arquitetura e urbanismo para um público não especializado.

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