Quem é Marina Perez Simão, a brasileira que expõe em Nova York na pandemia

Artista de Vitória, no Espírito Santo, apresenta paisagens criadas na quarentena, vivida em São Paulo

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São Paulo

​A artista plástica Marina Perez Simão, de 40 anos, queria um antídoto para a sensação de estar isolada durante a pandemia em seu apartamento em São Paulo.

"Queria como uma compensação de estar fechada nesse ambiente. Já que eu não estou podendo ver o mar, eu vou pintar 500 mares. Já que eu não consigo ver o horizonte, vou pintar horizontes. Eu queria tudo que eu não estava tendo e dar para os outros o que ninguém estava tendo", conta.

Com as pinturas criadas nesse isolamento social, a brasileira abre sua primeira individual em Nova York, na galeria Pace, uma das mais influentes do mundo, nesta semana.

Mulher branca de cabelo preto e longo, com franja, aparece de braços cruzados em frente a quadro colorido. Ela usa uma camisa branca.
A artista Marina Perez Simão, que tem sua primeira exposição individual em Nova York, na Pace Gallery - Bruno Leão/Divulgação

As obras, inspiradas em paisagens do Brasil, invertem elementos de um horizonte real —nelas, as cores vibrantes embaralham a noite e o dia, e o que está no topo da tela pode ser tanto o céu como a terra. As telas foram feitas dentro desse apartamento escuro, segundo a artista, e sempre com luz baixa —e ela conta que se espantou com o quão iluminada as obras estavam quando as viu já dentro de uma galeria.

Não foi só seu trabalho elaborado na capital paulista que teve projeção internacional durante a pandemia de coronavírus.

Além da estada em São Paulo, onde se fixou desde que voltou de Paris depois de uma temporada de estudos de sete anos e meio, Perez Simão passou dez dias da quarentena num sítio no interior de Minas Gerais com a artista Sonia Gomes.

As obras de ambas foram expostas em outubro do ano passado na filial da Pace em East Hampton, balneário de endinheirados também nos Estados Unidos, e rendeu o convite para a individual em Nova York.

Minas Gerais é também de onde vem a família de Perez Simão —mesmo tendo nascido em Vitória, no Espírito Santo, ela cresceu entre Minas e o Rio de Janeiro, e também passou um período em Brasília com sua família.

Em Belo Horizonte, começou sua graduação em direito e, um ano depois, ingressou na Escola Guignard, na Universidade Federal de Minas Gerais. Manteve os dois cursos para cumprir a obrigação de sua família de "ter um diploma de verdade", brinca. Quando acabou seus estudos aqui, foi para a Escola de Belas Artes de Paris.

"No começo, eu usava um pigmento que mudava de cor conforme você se movimentasse [em frente à tela]. Ao mesmo tempo, eu fazia algumas pinturas com um véu, pensava nas camadas, sobreposições", conta a artista. "Essa foi uma parte muito importante para fazer as pinturas que faço hoje. Foi uma pesquisa extensa, de dez anos, e muito séria, sobre composição e cor. Ela acabou chegando a um viés mais tangível de uns três anos para cá e culminou neste trabalho."

Quando conversamos, a artista estava de quarentena na República Dominicana para poder entrar em Nova York. "Eu estou podendo trabalhar e acho que arte só faz bem, só ajuda, faz a gente ver a realidade de diferentes pontos de vista. E aí eu falei 'não, eu tenho que fazer essa exposição'. Mesmo que eu não seja vista aqui agora, eu vou ser vista."

Quadro de 2021 da artista Marina Perez Simão
Quadro de 2021 da artista Marina Perez Simão - Mendes Wood DM e Pace Gallery

Perez Simão, que já estava confinada em casa desde outubro de 2019, quando fazia uma outra série de trabalhos, disse que a produção virou seu foco central durante a pandemia, já que era o que dava a ela algum chão nesse período de incerteza.

Por escapismo ou por curiosidade, diz a artista, ela sempre se aproximou de assuntos ligados à astronomia —e se dedicou a olhar imagens de sondas pousando em outros planetas e observar essas superfícies e atmosferas que pouco se aproximam da iluminação da Terra.

"Que cor seria a natureza de um planeta como esse? Quais são os outros estados de matéria?" Essas suas perguntas levaram a artista às composições dessas paisagens exibidas agora na Pace.

Esperando para ir aos Estados Unido enquanto o Brasil enfrenta seu pior período de pandemia, ela defende que o cenário artístico brasileiro é corajoso e que as galerias estão achando maneiras de expor e artistas continuam produzindo.

"A gente tenta compensar tal como compensamos o olho. Quando estamos vendo muita cor, se olha para o branco e se vê a complementar. Isso acontece agora. Meus amigos artistas todos estão em busca de uma saída, de novas realidades e de possíveis futuros."

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