Quero viver o que vier, comédias, tangos e tragédias, disse Contardo Calligaris

Psicanalista, escritor e dramaturgo escrevia na Ilustrada há 22 anos; confira frases marcantes dele

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São Paulo

Morto em decorrência de um câncer nesta terça (30), aos 72 anos, Contardo Calligaris era psicanalista, escritor e dramaturgo e manteve uma coluna na Folha desde 1999.

Segundo ele, os textos semanais publicados ao longo de mais de 20 anos tornaram a sua vida mais interessante. "A regularidade de ter que escrever, a cada semana, uma coluna te força a ter alguma coisa que valha a pena contar", afirmou no Roda Viva há quatro anos.

Veja frases de Contardo Calligaris

"A coisa que mais tornou a minha vida interessante, paradoxalmente, é a coluna da Folha. Porque a regularidade de ter que escrever –agora são 20 anos, não é brincadeira–, a cada semana, uma coluna daquele tamanho, te força a ter ao menos alguma coisa naquela semana que valha a pena ser contada, que seja uma leitura, um filme. Acho que qualquer colunista tem este 'plus' no trabalho, que é ter que achar na sua vida, naquela semana, alguma coisa na sua vida que valha a pena ser contada ou comentada para os outros. E isso melhora a intensidade com a qual você vive."

Ao Roda Viva, em 2017


"Ser alegre não significa necessariamente ser brincalhão. Nada contra ter a piada pronta, mas a alegria é muito mais do que isso: ser alegre é gostar de viver mesmo quando as coisas não dão certo ou quando a vida nos castiga."

Na coluna "Felicidade e Alegria", de 2010


"Fora isso, minha aspiração dominante não é a de ser feliz: quero viver o que der e vier, comédias, tangos e também tragédias –quanto mais plenamente possível, sem covardia. Meu ideal de vida é a variedade e a intensidade das experiências, sejam elas alegres ou penosas."

Na coluna "Aproveitar a Vida e Suas Dores", de 2011


“Mensagem é uma coisa que me dá tédio mortal. Escrevo para contar histórias interessantes.”

Em entrevista à Folha sobre a série da HBO 'Psi', que ele criou, em 2019


“Me tornei um pouco excêntrico aos olhos dos europeus. Sobretudo meus amigos franceses acham que o Brasil me corrompeu de vez.”

Em debate da Casa Folha na Flip (Festa Literária de Paraty) de 2018


"A modernidade é a era em que nossa existência social depende do olhar dos outros: somos quem conseguimos fazer que os outros acreditem que somos."

Na coluna "As Redes Sociais São o Fim da Moralidade Moderna", de 2017


"Acho que o sorriso na selfie é a nossa versão contemporânea da máscara de vergonha [máscaras de ferro sorridentes usadas na Alemanha medieval para fins de tortura e de punição pública]. Acho que deveríamos parar de sorrir nas fotos."

Ao Roda Viva, em 2017


"O lugar-comum sobre a corrupção generalizada não é uma armadilha para os corruptos: eles continuam iguais e livres, enquanto, fechados em casa, festejamos nossa esplendorosa retidão. O dito lugar-comum é uma armadilha que amarra e imobiliza os mesmos que denunciam a imperfeição do mundo inteiro."

Na coluna "A Armadilha da Corrupção", de 2005


"Quanto mais temos liberdade, mais nos tornamos algozes dos outros, porque é nos outros que tentamos reprimir a liberdade que não toleramos em nós mesmos."

Em conferência do Fronteiras do Pensamento, em São Paulo, em 2019


"Em ordem cronológica, Deus, família e pátria são, em nossa história, as grandes matrizes do mal e da imoralidade: é em nome desses três espantalhos que a humanidade se permitiu cometer seus piores crimes."

Na coluna "Qualidade Moral de Nossa Conduta Depende da Capacidade de Agir Sozinho", de 2020


"A criminalidade no Brasil continua sendo seduzida pela ideia de impor o poder ao corpo do outro. Não é só te roubar o celular. Preciso fazer isso te metendo uma faca no pescoço ou uma arma na cara, porque no fundo esse é o meu gozo: te dominar."

Em entrevista à Folha sobre a nova edição de "Hello, Brasil!", em 2017


“O grupo é a raiz do mal, confio apenas em indivíduos separados. Anos atrás em Brasília, cinco adolescentes acharam divertido atear fogo em um índio. Nenhum deles teria feito isso se estivesse sozinho. A estupidez humana piora em grupo”

Em debate sobre orgulho de ser brasileiro por ocasião dos 98 anos da Folha em 2019

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