Saiba quem foi Rossini Perez, amigo de Lygia Clark e criador de ateliê no Senegal

Artista, que morreu aos 89 anos em 2020, protagoniza 'Arqueologia da Criação', exposição online do Museu Lasar Segall

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São Paulo

É de Macaíba, no Rio Grande do Norte, o artista que criou um ateliê de gravura em metal na Escola Nacional de Belas de Dacar, no Senegal, conviveu com nomes como Lygia Clark, Sergio Camargo e Frans Krajcberg na Paris da década de 1960 e morreu em março de 2020, quando a pandemia começava no Brasil, aos 89 anos.

Um ano depois da sua morte, Rossini Perez está no centro de "Arqueologia da Criação", exposição virtual do Museu Lasar Segall que se propõe a fazer um mergulho no acervo do artista.

Colagem 'Disparate de Carnaval', de Rossini Perez
Colagem 'Disparate de Carnaval', de Rossini Perez - Divulgação

A curadora Sabrina Moura, que descobriu o trabalho de Perez ao pesquisar a arte senegalesa, pretendia que, numa versão presencial, a mostra tivesse estações de trabalho e que o acervo fosse manipulável pelos visitantes.

No projeto online, a trajetória do artista está organizada em quatro galerias, cada uma com uma página própria dentro do site, dedicadas a elementos centrais para o artista —o botão, o leque, o caju e o nó. Oficinas para crianças também fazem parte da programação. ​​

Rossini Perez foi convidado para criar uma oficina de gravura em metal na Escola Nacional de Belas Artes de Dacar, momento que marca sua obra. A história, que incluiu incursões pelos mercados senegaleses e pelo deserto do Saara, é contada pelo próprio artista numa série de vídeos e áudios gravados a partir de 2017.

"Eu quero conhecer a África", conta o gravador, num dos vídeos, sobre sua resposta ao convite para montar o espaço de ensino. "Mas vocês me dão carta branca." Isso porque, lembra a curadora, Perez dizia que os franceses, que o convidaram, dominavam a cena, e ele queria ser o responsável por decidir que placas, prensas e materiais entravam em seu estúdio.

Um pedaço de pano que achou num mercado senegalês, que é exibido virtualmente, se tornou uma de suas gravuras feitas em Dacar. E esse não é o único intercâmbio que Perez fez —a Índia, a Europa e a própria América Latina fizeram parte da extensa rede que criou ao longo da carreira.

Da Índia, por exemplo, ele se inspira em cenas eróticas que forram templos do país asiático para as gravuras do leque. A série, como mostra a exposição, é motivada pelo contato quando criança com a intérprete lírica Bidu Sayão —que escondia o item debaixo de sua saia durante a apresentação.

O artista plástico também tem uma série de colagens, várias com recortes de seus próprios retratos. Sua infância enclausurada por um problema respiratório grave se reverteu numa juventude carnavalesca no Rio de Janeiro —com excessos que seu pai, um homem rígido, chamava de "Disparates de Carnaval", que batiza uma série de colagens e fantasias do artista.

Ele estava também articulado com os grandes nomes das artes plásticas no Brasil. Aqui, ainda na década de 1950, teve aulas com Iberê Camargo e Fayga Ostrower. Em Paris, já nos anos 1960, conviveu com a vanguarda de artistas brasileiros que estavam na França —Antonio Bandeira, Frans Krajcberg, Lygia Clark e Sergio Camargo.

Os artistas Sérvulo Esmeraldo, Flavio-Shiró, Lygia Clark, Rossini Perez, Arthur Luiz Piza e Sergio Camargo, clicados em 1970 no jardim de Luxemburgo, em Paris; a foto fez parte da exposição 'Os Caminhos da Arte entre França e Brasil', do Salão de Arte 2009
Os artistas Sérvulo Esmeraldo, Flavio-Shiró, Lygia Clark, Rossini Perez, Arthur Luiz Piza e Sergio Camargo, clicados em 1970 no jardim de Luxemburgo, em Paris; a foto fez parte da exposição 'Os Caminhos da Arte entre França e Brasil', do Salão de Arte 2009 - Alécio de Andrade

"Ele dialogova muito com esses artistas, mas ele era muito na dele. Rossini Perez tinha algo recluso, que não era para ele a solidão, mas algo que fazia parte de sua prática artística", afirma Sabrina Moura.

Ela defende, inclusive, que o mergulho no fazer diário persistiu até Perez morrer. Os familiares contavam à curadora quando ela visitava o hospital que, já internado e perto da morte em março do ano passado, ele seguia criando dobraduras com o próprio lençol do hospital.

Em uma das quatro páginas da exposição, a incursão virtual pelo acervo do artista propõe discutir a memória de sua primeira infância, no Rio Grande do Norte.

O caju aparece como símbolo da definição do próprio artista como um nordestino, e está em fotografias, desenhos, aquarelas e gravuras de Rossini Perez.

O fruto é também a figura que motiva as torções que o artista começa a trabalhar primeiro em gravuras, e que se desdobram num conjunto de tapeçarias executadas por tecelãs da região do Alentejo —em mais uma de suas investigações de argumentos e linguagens pelo mundo.

Arqueologia da Criação: Uma imersão no acervo-ateliê de Rossini Perez

  • Quando Até 1º/7
  • Onde www.arqueologiadacriacao.org
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