Agnaldo Timóteo começou a gravar tributo a Angela Maria pouco antes de morrer

Cantor entrou em estúdio no começo de março, antes de ser internado e se tornar mais uma vítima da Covid-19

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Agnaldo Timóteo morreu neste sábado, dia 3. Ele tinha 84 anos e estava no hospital desde o dia 17 de março, após ser infectado pela Covid-19. Mas dias antes de ser internado, o cantor chegou a dar início às gravações de um novo projeto —uma homenagem à cantora e amiga Angela Maria.

Segundo o produtor Thiago Marques Luiz, Timóteo ligou para ele pedindo para entrar em estúdio para registrar as canções. “Eu não sabia que ele estava em São Paulo. Ele me ligou no dia 3 de março, disse para encontrá-lo no hotel, que precisava falar urgente comigo.”

Timóteo e Marques Luiz se encontraram no estúdio dois dias depois. “Ele disse que precisava urgente fazer o disco para a Angela, porque a pandemia não passava e ele tinha essa ‘dívida’. Dizia que a carreira dele só existia por causa da Angela.”

O produtor lembra que o cantor, que nos anos 1950 chegou a ser motorista de Angela, afirmava que só tinha começado a carreira artística porque ouvia da amiga que ele cantava melhor que Renato Guimarães, vocalista de sucesso na época. Timóteo e Angela Maria gravaram dois discos juntos, um de 1979 e outro de 1998.

A ideia de um álbum para homenagear a amiga veio depois de outro disco de tributo, para Cauby Peixoto, de 2017. “Ele queria fazer um disco cantando as músicas que ele amava e nunca tinha gravado. Só que em 2018 ele teve um AVC, passou meses internado, demorou a se reabilitar. Ficamos de fazer isso no ano passado. Mas veio a pandemia e ficamos protelando.”

O produtor conta que Timóteo teve uma espécie de premonição e que queria deixar pelo menos as vozes gravadas para que o trabalho pudesse ser finalizado mesmo que ele não estivesse mais por aqui. “Disse ‘acho que o cara lá de cima vai assinar meu passaporte ja já’. Eu falei para ele parar de falar besteira, que estava ótimo, já tinha tomado a primeira dose da vacina.”

Timóteo, Marques Luiz e o pianista Moisés Pedrosa se encontraram, apenas os três e usando máscaras, no estúdio. Eles gravaram sete faixas —“Adeus, Querido”, “Encantamento”, “Escuta”, "Fósforo Queimado”, “Não Tenho Você”, “Nem Eu” e “Noite Chuvosa”— em pouco mais de uma hora.

O cantor queria continuar, mas o produtor advertiu. “Depois de um certo tempo em estúdio, a voz começa a ficar rouca. Mas a voz dele estava perfeita.”

Marques Luiz, que trabalhou produzindo discos de Timóteo nos últimos dez anos, diz que as circunstâncias não eram ideais, sem uma gravadora e nenhum tipo de investimento.

“Ele não tinha recursos pra fazer do jeito que queria. Mas queria deixar a voz pronta para a gente fazer o que quisesse depois. Às vezes a pessoa sente.”

Antes de se tornar produtor musical, Marques Luiz era assessor de imprensa da Câmara Municipal de São Paulo e conheceu Timóteo ainda nos anos 2000. O cantor teve dois mandatos como vereador na cidade, a partir de 2004.

“Ele foi um grande cantor, um grande artista e algumas vezes não teve o reconhecimento que mereceu porque se envolveu com política. Ele também era polêmico, fechou muitas portas, brigou com muitas pessoas. E isso custou coisas que não foram legais para a carreira dele como cantor.”

Agora, Marques Luiz afirma que vai terminar o álbum, que será lançado como um trabalho póstumo de Agnaldo Timóteo. “Tenho sete gravações inéditas. Só preciso saber como vou terminar isso. Porque só tenho gravada a voz dele.”

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.