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Cinema

'Chorão: Marginal Alado' é um documentário feito para agradar aos fãs

Filme enaltece vida do líder do Charlie Brown Jr. batendo em teclas conhecidas pela legião que o seguia

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Chorão: Marginal Alado

  • Quando Estreia nesta quinta (8)
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  • Direção Felipe Novaes

Entre os anos de 37 e 41 da era cristã, o Império Romano foi governado por alguém que parecia ser um homem do povo, priorizava os prazeres da vida e entendia o que seus súditos queriam. Era Calígula, um imperador jovem, que viveu parte da vida na miséria e sabia que sua fama por ser alguém que veio de baixo era tão importante quanto aquela que conquistou por reinar.

O império do rock brasileiro teve alguém parecido, Alexandre Magno Abrão, mais conhecido como o Chorão do Charlie Brown Jr, morto há oito anos. Foi uma estrela bem diferente dos seus antecessores no país. Nos anos 2000, era fácil o encontrar numa pista de skate rodeado de moleques —da periferia ou não—, sempre suado, rindo.

Dirigido pelo estreante Felipe Novaes, o documentário “Chorão - Marginal Alado” apresenta essa personalidade popular e anárquica já numa de suas primeiras cenas. Ao ouvir de uma fã que ela não tinha dinheiro para comprar os discos do Charlie Brown Jr., Chorão diz “não gasta dinheiro com essa merda, baixa [da internet]".

Chorão em cena de 'Marginal Alado', documentário sobre o líder do Charlie Brown Jr.
Chorão em cena de 'Chorão: Marginal Alado', documentário sobre o líder do Charlie Brown Jr. - Divulgação

A quantidade de imagens de bastidores da banda e da vida pessoal do cantor reunidas no filme impressiona. Sua trajetória, sempre equilibrada entre os polos do amor e do ódio, é contada por depoimentos de nomes que vão de seu filho, Alexandre Abrão, e outros músicos, como João Gordo e Zeca Baleiro, a Champignon, baixista do Charlie Brown que se suicidou sete dias depois da entrevista.

Ao mesmo tempo em que Chorão colecionava fãs e amigos, sua lista de desafetos também era grande. Ao contrário da juventude em Santos, no litoral de São Paulo, em que ele circulava mesmo pelos canais dominados por gangues que não a dele, na música suas brigas ficaram famosas.

Conflitos como aquele com Marcelo Camelo, vocalista do Los Hermanos, ou com João Gordo, que chegou a pegar uma faca para o matar na cerimônia de premiação do VMB, o Video Music Brasil, de 2001, são lembrados de passagem, como fatos sem muita importância na vida do músico.

Assim como Calígula, polêmico, extravagante e muitas vezes cruel, Chorão amava e odiava seus leais com a mesma intensidade. O vídeo em que ele humilha Champignon no palco e os momentos em que sua mulher, Graziela Gonçalves, tenta ajudar são mostrados como exemplos de uma péssima faceta de sua personalidade.

O cantor fez aquilo de que mais falava, deixou o mar o engolir. O mar, no seu caso, foram os remédios e a cocaína. A morte do pai e a vida amorosa conturbada, momentos de grande tensão na vida do cantor, são bem dirigidas no documentário. Um dos pontos altos é o testemunho do cantor Marcelo Nova, da banda Camisa de Vênus, que fala como foi conhecer o Chorão desde a infância e o ver se perder no vício e nos problemas do Charlie Brown.

Na história romana, Calígula previu que morreria a qualquer momento. Sem confiar em mais ninguém, começou a ser cada vez mais cruel com seu povo e acabou assassinado por oficiais da guarda pretoriana.

Diferente do imperador, Chorão escolheu não ser cruel com seu povo, os fãs, mas foi muito cruel consigo mesmo e com seus familiares. Os últimos momentos com a sua mulher chocam e deixam em nosso imaginário o que o pode ter levado a morrer por overdose, finalizando o documentário de forma melancólica.

"Chorão - Marginal Alado" é um documentário para os fãs, que enaltece a vida do cantor batendo em teclas comuns para a legião que o seguia e traz breves flashes inusitados para quem não o conhece. A falta de depoimentos antagônicos em relação ao cantor causa estranheza, mas não diminui o valor documental da obra.

Vale lembrar, aliás que, Chorão chegou a escrever ele mesmo um filme sobre a sua vida, “O Magnata”, de 2007, com Paulo Vilhena no papel principal. Apesar de confuso, como lembra João Gordo numa das entrevistas, a incursão do músico poderia ter sido melhor contada no documentário. Afinal, seria uma forma de mostrar que Chorão não era só um roqueiro visto como sujo pela elite do rock, mas um artista completo.

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