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'Modus Operandi' faz lavar a louça ouvindo crimes algo bem normal

Podcast traz histórias conhecidas, como a de Charles Manson, a tramas que ganharam espaço no streaming

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São Paulo

Modus Operandi

Que as produções audiovisuais de crime real são um marco da cultura pop contemporânea é inegável. Mas, curiosamente, elas atraem um público bem específico —jovens mulheres.

O fascínio que histórias escabrosas sobre assassinatos e serial killers despertam sobre essa fatia dos espectadores já rendeu uma impagável esquete musical em um episódio recente do humorístico americano Saturday Night Live, além de alguns bons podcasts.

Entre os narrados em inglês, são conhecidos os americanos "Crime Junkie", da dupla Ashley Flowers e Brit Prawat, e "My Favourite Murder", sob o comando das comediantes Karen Kilgariff e Georgia Hardstar. E desde o começo de 2020, o Brasil ganhou um representante próprio, o "Modus Operandi".

A atração estreou mansinha nos tocadores, com apenas cinco episódios e um trio de apresentadoras —Carol Moreira, Bel Rodrigues e Marina Bonafé, a Mabê. Atualmente, só Moreira e Bonafé estão no podcast.

Os episódios combinam histórias bem conhecidas, como a de Ted Bundy e a de Charles Manson, a tramas reais que ganharam espaço no streaming. É o caso da história de Andrew Cunanan, que virou a série “O Assassinato de Gianni Versace”, e da de Michael Peterson, estrela do documentário “The Staircase” —os dois estão na Netflix.

Leitoras vorazes e consumidoras aficionadas de produções do gênero, a dupla de apresentadoras conta em detalhes cada história, traz teorias, guia o ouvinte pelo desenrolar jurídico e, claro, não poupa o público de descrições bem vívidas das cenas dos crimes. Tudo isso permeado por comentários que fazem parecer que o que se ouve é uma animada conversa entre amigas.

O formato agradou tanto que não demorou para que os números se multiplicassem. Hoje, o podcast tem uma equipe de sete pessoas, 71 episódios, dois quadros dentro da atração principal —o FAQ, uma espécie de tira-dúvidas sobre o universo criminal, e o Caso Bizarro, sobre histórias com um pezinho no sobrenatural—, conteúdo exclusivo para os apoiadores do projeto no Catarse, um programa dentro do canal de YouTube da Netflix, além de um contrato com a editora Intrínseca para o lançamento de um livro.

O sucesso não surpreende. Millennials e descoladas, a dupla de apresentadoras conhece bem o público da internet. Enquanto Carol é jornalista e dona de um canal no YouTube especializado em cinema e séries com quase 875 mil seguidores, Mabê já trabalhou com conteúdo para a Netflix —foi assim, aliás, que elas se conheceram, segundo contam num dos episódios.

Diferentemente de um Datena ou de um Gil Gomes, a dupla usa uma linguagem descontraída e até bem-humorada para contar histórias policiais. Além disso, é cuidadosa quando se permite fazer algum julgamento e exibe posicionamentos progressistas em relação a questões de gênero, raça e da causa LGBTQIA+.

Mesmo que tais características possam sugerir algum pudor na abordagem de um tema tão torpe, Carol e Mabê não escondem o fascínio mórbido que têm pelas histórias que dividem com o público. No começo até parece esquisito, mas não demora para que você se pegue envolvido com o formato.

E, quando percebe, está em casa lavando a louça e ouvindo relatos de pessoas que mataram a própria mãe ou que tratam necrofilia como esporte como se fosse a coisa mais normal do mundo.

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