Sérgio Mendes canta com Pelé e ri com Harrison Ford em documentário na HBO

Músico que popularizou bossa nova nos Estados Unidos ganha filme sobre encontros que marcaram a sua carreira

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São Paulo

Numa das cenas do documentário “Sérgio Mendes no Tom da Alegria”, o músico brasileiro radicado nos Estados Unidos desde 1964 grita “a arte do encontro”, com um sorriso aberto no rosto. Não há dúvida –encontros memoráveis e criativos ocupam boa parte da vida do pianista, compositor, bandleader, arranjador e produtor de 80 anos.

O documentário estreia agora na HBO e depois fica disponível na HBO Go. Em entrevista, Mendes e o diretor e produtor do filme, John Scheinfeld, dizem acreditar na força da plataforma de streaming para divulgar ainda mais a música produzida pelo brasileiro.

homem atrás de piano de cauda aberto
O músico e compositor Sérgio Mendes em imagem de divulgação do seu documentário da HBO, 'Sérgio Mendes: No Tom da Alegria' - Universal Music Group (A&M)/Divulgação

“Não é apenas para os fãs de Sérgio Mendes”, diz o cineasta. “Talvez seja capaz de atingir um público maior. Espero que o filme possa ser uma boa introdução para a música dele.”

“Adoro o processo de colaboração”, diz Mendes, numa referência às inúmeras parcerias bem-sucedidas em mais de 60 anos de carreira e também ao trabalho com Scheinfeld. “John é muito sensível, uma pessoal musical, fez grandes documentários sobre Harry Nilsson, John Coltrane, Nat King Cole. É muito fácil trabalhar com ele.”

Trabalhar com outros artistas está na vida de Mendes desde que ele montou seu primeiro combo, Bossa Rio, em 1959. O filme resgata seus tempos ainda no Brasil, com o músico visitando o apartamento em que morava com a família, em Niterói, no Rio de Janeiro.

Na conversa com o repórter, ele fala de sua ligação com este jornal nesse período. “Em 1961, toquei em um festival promovido pela Folha e ganhei dois prêmios, melhor pianista e melhor canção, ‘Noa Noa’. Guardo até hoje, são os primeiros prêmios.”

Em sua lista de grandes encontros, foi fundamental o convite feito pelo saxofonista americano Cannonball Adderley. Depois de ver Sérgio Mendes tocando bossa nova no Carnegie Hall, em Nova York, ele chamou o brasileiro para gravar um disco.

Foi o primeiro passo da mudança definitiva de Mendes para os Estados Unidos. “Eu não podia acreditar no que estava acontecendo. Era um dos meus ídolos me convidando para trabalhar com ele. Tive muitos encontros assim na vida”, conta Mendes. “Fui convidado para turnês com Frank Sinatra, Fred Astaire. Foram experiências maravilhosas.”

Depois de vários grupos, no Brasil e nos Estados Unidos, ele conquistou enorme sucesso ao formar o Sérgio Mendes & Brasil ’66. A gravação de “Mas que Nada”, de Jorge Ben, se tornou um hit mundial, até hoje usada em trilhas de filmes internacionais e ganhando novas versões. A combinação de solos de piano e vocais femininos passou a ser uma marca de Sérgio Mendes.

Em 1970, a cantora Gracinha Leporace foi morar nos Estados Unidos com Mendes. Ela substituiu a vocalista americana do Brasil ’66, Lani Hall. As duas dão muitos depoimentos simpáticos no documentário, que traz também vários artistas que trabalharam com o músico, como Herp Albert, Quincy Jones, John Legend, Will.i.am e Carlinhos Brown.

Mostrando como até as novas gerações buscam o trabalho de Mendes como produtor, o rapper Common, hoje um dos grandes vendedores da música americana, é filmado trabalhando no estúdio com o brasileiro. O entusiasmo do cantor é evidente, derramando elogios ao produtor e assumindo uma postura humilde diante dele. “Produzi discos de muita gente diferente, como Sarah Vaughan e Johnny Mathis. Aprendi demais com todos eles”, diz Mendes.

Mas dois amigos acabam ganhando destaque no documentário. E são nomes famosos até para quem não é familiarizado com o mundo da música.

Um deles é o jovem carpinteiro que construiu um estúdio na casa de Mendes na Califórnia. Na época, o rapaz já tinha planos de tentar a carreira de ator. Anos depois, ele seria o astro de “Star Wars”, “Indiana Jones” e “Blade Runner”. Amigos até hoje, Mendes e Harrison Ford aparecem no filme entre gargalhadas e abraços carinhosos, numa diversão que parece recorrente em seus encontros.

O outro momento inesperado é ver e ouvir Pelé cantando uma canção em dueto com Gracinha Leporace e com Sérgio Mendes no piano. O que é mais bacana? Ser reconhecido como grande nome que ajudou a mesclar a música brasileira e o jazz americano, ou cantar com Pelé? “Claro que é cantar com Pelé!”, ele responde, com um sorriso enorme.

“Eu o conheci durante a Copa de 1970, no México”, recorda Mendes. “Anos depois, Pelé veio jogar no Cosmos, em Nova York, e nos tornamos amigos. Quando foi gravado um bonito documentário sobre a vida dele, eu produzi a música do filme, com orgulho. Ele cantando comigo e com a Gracinha é um dos momentos inacreditáveis da minha vida, algo muito precioso.”

Segundo Scheinfeld, o diretor, seu desafio foi equilibrar no filme as entrevistas e os trechos de muitas músicas. “Documentário é meio um quebra-cabeças”, ele afirma. “Você abre uma caixa com centenas de peças e as tenta juntar para formar uma imagem bonita. Aqui, as peças são filmes, fotos, entrevistas, coisas de arquivo. Quando as pessoas gostam do filme, você achou a combinação certa. E a carreira de Sérgio é enorme, o que deixa tudo mais difícil.”

Mendes faz um elogio. ‘É incrível como Johnny conseguiu pôr isso tudo em uma hora e meia!”

Durante a pandemia, que Mendes chama de “um momento horrível para a humanidade”, ele admite ter tido sua maior alegria há algumas semanas, quando tomou a vacina para a Covid-19. “Todos precisam tomar. É a esperança para superar essa coisa tão triste. Minha motivação é voltar a fazer shows, mostrar novas músicas. A gente precisa ter música, alegria.”

Sérgio Mendes no Tom da Alegria

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