Depoimento: Eva Wilma sabia das coisas, e era grata pelo sucesso

Cineasta e apresentadora fala sobre a atriz, que, em 1965, atuou na grande obra-prima de seu pai, Luiz Sérgio Person

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Marina Person

Em 1965, Luiz Sérgio Person, meu pai, filmou “São Paulo Sociedade Anônima”, filme que trazia Carlos, o personagem de Walmor Chagas, angustiado com as perspectivas de sua vida, com muitas questões acerca do papel que era esperado de um homem de sua idade e classe social.

“Carlos era o terror de Person, é a revolta em relação ao que ele poderia ter se tornado”, me disse Jean-Claude Bernardet, crítico e cineasta.

Nesse filme, Carlos tem seu caminho cruzado por três mulheres. Eva Wilma fez o papel de Luciana, a única das três que se encaixa no perfil burguês que Carlos tanto teme para si, mas do qual não consegue escapar.

Ela é a mulher conformada, sem ambição profissional, sem erotismo latente, mas que dá a ele a estabilidade emocional e a adequação que a sociedade anônima tanto espera dele. Uma peça a mais nessa grande engrenagem na qual a cidade se transformou.

Quando fui entrevistar Eva Wilma para o documentário que fiz sobre meu pai, “Person”, ela me recebeu com o carinho de quem vai levar um pouco do pai a uma filha que já não o tem por perto.

Eva Wilma me disse que Luciana era muito distante dela, mas que tinha muito orgulho de ter representado esse papel.

Vivinha era muito amorosa e brincalhona, gostava de tirar sarro de si mesma. Falava do cinema brasileiro com muito orgulho. Sabia das coisas, conhecia o imenso lugar que ocupa no teatro e na televisão brasileira e tinha muita gratidão por ser uma atriz bem-sucedida.

folha de papel com oito fotos preto e branco enfileiradas em duas colunas
Página de contato de "São Paulo S/A", filme de Luiz Sérgio Person, de 1965 - Divulgação

Ela não escondia a alegria de poder ganhar a vida fazendo o que gostava. Muitas pessoas no mundo querem ser atores e atrizes. Poucos têm a possibilidade de viver do seu ofício. E estamos diante de uma
trajetória espetacular.

Admiro muito o trabalho das atrizes. Sempre me fascinei com as pessoas que emprestam seu corpo e sua voz para uma outra existência, muitas vezes representando personalidades opostas à sua.

Minha admiração pelos atores também passa pelo fato de terem tal amor pelo seu ofício que suportam todo tipo de rejeição. Quantos nãos eles colecionam ao longo da vida?

Um amigo me mandou a entrevista sobre o teste que Eva Wilma fez para “Topázio”, filme de Alfred Hitchcock. Eu não sabia que ela tinha o sonho de virar uma estrela de cinema internacional.

Nessa conversa, ela conta com muitos detalhes como foi encantador viver essa experiência de ver os bastidores de um filme americano.

Conta que se impressionou por ter um trailer exclusivo com seu nome, que ficou maravilhada com o fato de os membros da equipe serem pessoas com cabelos brancos e que todos aplaudiam quando Hitchcock entrava no set de filmagem. Contou também o que sentiu quando não passou no teste.

Ela termina a entrevista dizendo que o que a consolava era o fato de “Topázio” não ser um grande filme de Hitchcock, e que a cena que ela faria, de uma cubana assassinada, era pior ainda. Ela então dá uma piscadinha e diz “mentira, eu queria ter feito mesmo assim”.

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