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Quem é a escritora boliviana que atualiza García Márquez em chave de fantasia gótica

Giovanna Rivero, expoente da nova literatura latino-americana, estreia no Brasil com coletânea de contos

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Buenos Aires

Histórias terríveis, mas não de terror. Assim podem ser definidos os contos da escritora boliviana Giovanna Rivero, 49, cuja coletânea "Terra Fresca da Sua Tumba", sai agora no Brasil. Sua literatura transita entre o gótico, o fantástico e o realismo, e tem no corpo humano e em seus sofrimentos e marcas o centro da narrativa.

mulher branca de cabelos pretos longos e batom vermelho posa diante de parede texturizada alaranjada
A escritora boliviana Giovanna Rivero, autora de 'Terra Fresca da Sua Tumba' - Divulgação

"Na minha obra o corpo é um lugar de batalha. É o espaço da violação, do prazer, da violência. Mas o corpo também é a materialização de enigmas mais esotéricos que explicam nosso vínculo com o terreno dos sentimentos", diz Rivero em entrevista.

Em suas histórias, além da violência contra o corpo, está tudo aquilo que o atinge e transforma, da velhice e da doença ao vício e o sexo.

Rivero é conhecida como um dos expoentes, hoje, da chamada "nova literatura gótica latino-americana". Nascida em Santa Cruz de la Sierra, mas hoje vivendo nos Estados Unidos, ela estudou na universidade da Flórida e foi eleita uma das 25 novas vozes da América Latina, em seleção realizada pela Feira do Livro de Guadalajara. É autora de um romance, "98 Segundos Sem Sombra", mas confessa ter preferência pelo conto, na melhor tradição da literatura hispano-americana.

"Para mim, o mais importante é que as histórias tenham intensidade, mantenham o tom eletrizante da narrativa. Isso sinto que consigo atingir com os contos. Num romance, é fácil perder essa intensidade, tanto ao ler como ao escrever", diz.

Uma das histórias no livro, de certa forma, recompõe, de modo lúgubre, o famoso livro de García Márquez, "Relato de um Náufrago".

Mas seria impossível falar de corpos sem falar naqueles que os habitam, as almas, ou o que quer que impulse seus desejos, pulsões e decisões. "De maneira nenhuma tenho a intenção de tocar no tema religioso, mas é inevitável que a ligação da vida concreta neste mundo com uma existência espiritual mova minha curiosidade", afirma.

"Ainda que tenhamos conquistado várias liberdades culturais e políticas com relação aos corpos, a carne, por meio do passar do tempo, das enfermidades, da dor, está sempre nos lembrando que há um vínculo entre corpo e espírito. O corpo é espírito e nele está essa habilidade monstruosa de agir por conta própria quando somos tecidos, sangue, vísceras".

"Terra Fresca da Sua Tumba" foi escrito depois de duas perdas pessoais de Rivero —uma delas, de uma amiga, outra, de seu irmão—, que a fizeram refletir mais sobre esses temas.

Há também muito da reivindicação feminista dos últimos tempos em seus textos. A mulher estuprada de uma de suas histórias é um drama social contado como se fosse uma história de horror —que no fundo é—, na qual a garota sente que o "monstro" que semearam nela devora a sua juventude.

Rivero também trabalha com as figuras das fadas e das bruxas para tratar do imaginário da e sobre a mulher nos dias de hoje. "No fundo, tudo já estava contado pelos contos de fadas e nas histórias sobre bruxas, são nossa entrada no mundo da literatura, e é onde nossa mente habita, de certa forma, desde a infância."

Terra Fresca da Sua Tumba

  • Preço R$ 49 (192 págs.)
  • Autor Giovanna Rivero
  • Editora Incompleta e Jandaíra
  • Tradução Laura Del Rey
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