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Cinema

'Godzilla vs. Kong' luta para atrair exércitos de fãs, mas é bem previsível

Longa que reúne os monstros gigantes mais famosos do cinema deixa sem resposta principal questão do filme

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Eduardo Ohata

É jornalista, comentarista de lutas e tem certificado da clínica de juízes do Conselho Mundial de Boxe

GODZILLA VS. KONG

  • Quando estreia nesta quinta (6)
  • Onde nos cinemas
  • Elenco Millie Bobby Brown, Alexander Skarsgard e Eiza González
  • Produção EUA, 2021

"Godzilla vs. Kong”, que estreia nos cinemas brasileiros agora, reúne os dois monstros gigantes mais famosos da história do cinema. Afinal, gerações acompanham suas aventuras –“King Kong” estreou nas telonas em 1933, e “Godzilla”, duas décadas depois, em 1954.

Depois dos lançamentos recentes de “Kong: A Ilha da Caveira” e “Godzilla II: Rei dos Monstros”, o passo natural da Warner foi reunir, ou melhor, escalar a dupla para um bom arranca-rabo raiz dirigido por Adam Wingard, o mesmo por trás da série “Big Little Lies” da HBO.

Em termos comerciais, a estratégia do estúdio alcançou sucesso, como atesta a intensa atividade das torcidas dos monstrões nas redes sociais.

Apesar do elenco que conta com Alexander Skarsgard, do mesmo “Big Little Lies” e Millie Bobby Brown, de “Stranger Things”, além de Rebecca Hall, Brian Tyree Henry e Shun Oguri, é fácil ignorar a trama envolvendo os dois núcleos humanos.

É tudo bem previsível, inclusive a conclusão, e há pelo menos uma coincidência inacreditável que permite a localização de um misterioso youtuber e o avanço da narrativa do longa.

O que todos esperam —e a produção entrega— são as eletrizantes cenas de luta entre os grandalhões, especialmente o combate final. Inclusive, entre um filme e outro, os monstros parecem ter frequentado a academia. Numa cena um deles aplica um direto de direita perfeitamente executado para dar inveja a qualquer pugilista.

Mas, ao analisar o duelo friamente, como se faz com um combate de boxe ou MMA, comparando pontos fortes e fracos, a luta não deveria acontecer. Um monstro seria o favorito proibitivo, talvez na proporção de mil por um, o combate correria risco de nem ser autorizado pelas autoridades atléticas pela desigualdade, ou a luta organizada como mera “exibição”.

Em termos de experiência, Godzilla ganha de lavada, com uma vasta gama de adversários com estilos, poderes e características variados em seu “cartel de lutas”. Além de, como Kong, ter enfrentado dinossauros, ao longo de dezenas de filmes enfrentou monstros de fogo, polvos e lagostas gigantes, criaturas voadoras, outras que lançam raios, oriundas da poluição (com uma mensagem ecológica à frente de seu tempo), e até a versão mecânica de si mesmo.

Mesmo que considerados apenas os filmes desta década, só em “Godzilla II”, o lagarto gigante enfrentou três de seus mais poderosos rivais históricos, Rodan, Mothra e Ghidorah.

Alguém consegue imaginar Godzilla abatido por meros biplanos como Kong em 1933?

Kong também evoluiu, encarou sua própria versão mecânica em “King Kong Escapes”, de 1967, mas pouco além disso. “Godzilla vs. Kong” dá a entender ser o primeiro encontro entre ambos e desconsidera a produção japonesa de 1962.

Ao passo que King Kong pode ser definido como um gorila gigante, com força proporcional ao tamanho, Godzilla é fruto de um acidente nuclear, que lança um jato radiativo. Pode escolher entre a luta a longa ou curta distância, sendo que até contra rivais que planam fora do alcance de suas garras se mostrou eficiente.

Talvez o atributo mais valioso que Kong traz para o embate seja sua empatia com os humanos, que vem desde sua primeira aparição, passando pelos remakes. A tradição continua com sua amizade com Jia, uma jovem com quem desenvolve um vínculo afetivo.

Um gigante gorila em cima de um palco
Primeira versão do filme "King Kong" (1933), de Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack - Divulgação

Assim como numa luta real, a simpatia da torcida e do público influenciou os “juízes” da luta, no caso os roteiristas e a produção, que deram uma mãozinha para equilibrar o duelo. A começar pela escala dos monstrões, que sofreram modificações, igualando os dois em tamanho e apagando a vantagem de Godzilla.

Além de introduzir um apetrecho totalmente estranho à mitologia de Kong ou Godzilla, que teve como objetivo equalizar a disparidade entre ambos, o símio gigante contou com todos os “golpes de sorte” no roteiro, assistências de personagens humanos e uma inexplicável incompetência e falta de inteligência do rival.

O embate final, ponto forte do filme, não decepciona em termos de ação, além de reintroduzir um personagem dos filmes clássicos japoneses de Godzilla, Mechagodzilla, que havia aparecido em “Godzilla vs. The Cosmic Monster”, de 1974, “Terror de Mechagodzilla”, de 1975, e “Godzilla vs. Mechagodzilla”, de 1993.

Além de ser uma homenagem, sua aparição providencial propiciou um final que certamente agradará tanto aos fãs de Kong como aos de Godzilla, além de permitir a continuidade de suas franquias.

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