Paulo Mendes da Rocha se dizia preocupado com a política feita pelo celular

Em entrevista à Folha, arquiteto, que morreu aos 92 anos, também afirmou que a alienação é indispensável para ter paz

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São Paulo

O arquiteto Paulo Mendes da Rocha, que morreu neste domingo (23), aos 92 anos, disse que se preocupava com a política feita via celular em entrevista à Folha em setembro de 2018.

“Esse modo de usar o telefone rouba das pessoas algo fundamental. Elas não olham mais umas às outras. Todos ficam olhando esse instrumento. Uma coisa era a eleição há 30 anos. Outra é agora que a opinião pública pode mudar a visão sobre um candidato entre meio-dia e quatro da tarde. É difícil imaginar a gestão do país à base da propaganda, da opinião da noite para o dia”, afirmou.

Na ocasião, Mendes da Rocha estava próximo dos 90 anos de idade e sua obra estava em exposição no Itaú Cultural, numa mostra ancorada pela relação entre terra e água organizada por Martin Corullon e Guilherme Wisnik.

Entre os projetos, estavam desenhos de uma megacidade às margens do rio Tietê, além de intervenções para as baías de Vitória e de Montevidéu.

Tal como Corullon, Wisnik foi aluno do arquiteto. Ele lembrou, em 2018, que o professor evitava comentar o que estudantes tinham desenhado e falava sobre questões mais amplas.

“No curso de arquitetura, interessa tudo, menos arquitetura. Nada mais frágil do que uma escola disso. É impossível ensinar arquitetura, mas você pode educar um arquiteto”, disse Mendes da Rocha.

Em atividade desde 1955, o arquiteto foi realmente descoberto pelo mundo quatro décadas mais tarde, quando as imagens da Pinacoteca do Estado e do MuBE (Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia) circularam em revistas estrangeiras.

Desde então, o conjunto robusto que já construíra e as obras que viria a fazer passaram a atrair a atenção da crítica. Em 2006, tornou-se o segundo arquiteto brasileiro —depois de Oscar Niemeyer, em 1988— a vencer o Pritzker.

“Nunca o universo foi mais ou menos complexo. Porém, não se tinha consciência sobre essa questão tanto quanto hoje. Então é indispensável ser um pouco alienado para viver em paz. Para poder se divertir de modo pueril, como são os melhores divertimentos, é necessário cultivar uma certa alienação", disse, também em 2018.

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