Produtor gospel em live da Rouanet para cristãos só teve um projeto aprovado na lei

Outra proposta foi indeferida; ele afirma que empresários têm preconceito contra cantores evangélicos

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São Paulo

Empresário e produtor de eventos para o público gospel há 20 anos, Doninha participa na noite desta quinta de uma live que pretende explicar o funcionamento da Lei Rouanet para os cristãos. Ele fala ao lado do chefe do gabinete de fomento às artes, André Porciúncula, e do secretário especial da Cultura, Mario Frias.

Mas Doninha tem pouca experiência na Rouanet —ele inscreveu só dois projetos para captação de recursos. O de 2014, que previa uma turnê nacional de um disco do popular cantor gospel Thalles Roberto ao custo aproximado de R$ 1,1 milhão, não foi aprovado por não se enquadrar na lei.

Já sua tentativa do ano seguinte foi aprovada, mas não captou nenhum real no prazo estipulado e acabou arquivada. Foram aprovados R$ 945 mil para captação, segundo dados disponíveis da plataforma Versalic, o portal de visualização de projetos da Rouanet.

Flyer de live da Rouanet para o público cristão - Divulgação Twitter @andreporci

O dinheiro desse projeto seria usado também numa turnê de Thalles Roberto, um ex-vocalista de apoio da banda mineira Jota Quest que virou fenômeno gospel na última década e hoje soma quase 1,3 milhão de ouvintes mensais no Spotify no Brasil.

“A gente teve o conhecimento de inscrever o projeto, mas na hora de fazer a captação, as empresas não se interessaram pelo projeto justamente porque envolvia o nome de um cantor evangélico", afirma Doninha.

"Cheguei a fazer algumas reuniões, conversar com alguns empresários, mas devido a essa questão a gente acabou não conseguindo desenvolver o projeto." Ele acrescenta que também tem dificuldade de encontrar dinheiro privado para seus eventos.

Doninha diz não saber o motivo pelo qual um dos projetos não foi aprovado e afirma ver a live como uma forma de esclarecer a lei para artistas que atingem um público de milhões e que durante muito tempo não conseguiram fazer uso da Rouanet por falta de conhecimento do próprio setor religioso de como usar o mecanismo.

A Rouanet reconhece explicitamente a música gospel como manifestação cultural há dez anos. A alteração na lei foi feita durante o governo da petista Dilma Roussef e há inclusive produtoras especializadas em formatar projetos para esse público, a exemplo da paulistana Acriart, a Associação Cristã de Artistas.

O cantor gospel Thalles Roberto - @ThallesRobertoo no Facebook

Pela segunda vez nesta semana, o secretário de fomento, um ex-PM cristão que centraliza as decisões da Rouanet, participa de uma live direcionada a esse público. O evento se tornou o assunto do momento no setor cultural, graças em parte ao ineditismo da vinculação da secretaria federal de Cultura à religião, segundo produtores experientes.

Também participa do evento o pastor Wesley Ros, que repete com frequência em suas redes sociais que artistas cristãos não eram amparados pelo governo federal e que projetos apresentados por eles não são aprovados, embora nunca dê nenhum exemplo.

Ros também já ofendeu várias vezes artistas consagrados no circuito, como Wagner Schwartz, que realizou uma performance nu no Museu de Arte Moderna de São Paulo.

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