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Cinema

'A Boa Esposa' não passa de bibelô antiquado sob uma aparência crítica

Comédia francesa com Juliette Binoche apela para a caricatura, apenas se apropriando de valores progressistas

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São Paulo

A Boa Esposa

  • Quando Estreia nesta quinta (17)
  • Onde Nos cinemas
  • Classificação 12 anos
  • Elenco Juliette Binoche, Yolande Moreau, Noémie Lvovsky, Edouard Baer
  • Produção França/Bélgica, 2020
  • Direção Martin Provost

“Bibelô” é uma palavra antiquada que dá nome a objetos cafonas usados para decorar móveis, estantes e geladeiras. Por extensão, “bibelô” designava pessoas arrumadinhas, mulheres, maridos, noivos ou namoradas, que tinham função decorativa para a família, grupo ou sociedade.

“A Boa Esposa” revisita esse tempo em que muitas mulheres eram usadas como bibelôs e eram convencidas de que esse era seu único papel.

No centro do longa francês dirigido por Martin Provost, três mulheres se encarregam de ilustrar dois momentos, antes e depois, passado e presente, da condição feminina.

O filme apresenta o trio de costas e cercado de signos retrógrados, figurinos, sons e imagens que representam a França interiorana e conservadora, pouco antes da liberação de desejos conduzida pela juventude em revolta em maio de 1968.

Juliette Binoche encarna a madame escrava das aparências de um casamento burguês. Yolande Moreau assume a figura da solteirona que serve a família, já que não arrumou marido. E Noémie Lvovsky interpreta uma freira, submissa aos valores religiosos e que exerce função de capataz sobre um grupo de jovens voluptuosas.

Cada uma delas ocupa-se das faces de um internato feminino, uma escola que prepara adolescentes para se tornarem boas mulheres, domesticá-las. Paulette (Binoche) adestra as alunas para os bons modos e a boa aparência, Gilberte (Moreau) as ensina a cozinhar e a limpar a casa, e Marie-Thérèse (Lvovsky) disciplina seus corpos.

A sala, a cozinha e o quarto são espaços da escola que correspondem a cada uma dessas formas de controle, de gestão, de formatação envolvidas sob a ideia de educação.

Assim, o filme contrasta passado e presente, esforça-se para demonstrar o quanto progredimos em relação àquela mentalidade.

A opção pelo retrato caricatural, no entanto, nunca alcança o mesmo patamar de acidez cínica usada, há mais de dez anos, por François Ozon em “Potiche - Esposa Troféu”, por exemplo.

Aqui, o discurso positivo acerca do empoderamento feminino é pouco mais que reação, uma liberação que depende do desaparecimento da figura masculina para emergir. E que, mesmo assim, permanece refém de outro poder, o dinheiro, representado por um banqueiro sedutor.

Por isso, “A Boa Esposa” acaba sendo apenas um caso de apropriação de valores. Revestido com uma capa que parece crítica e embalado com uma mensagem progressista, o filme consegue uma adesão fácil, cuja eficácia passa pelo poder de sedução de Binoche à frente do elenco. Sob a aparência afirmativa, “A Boa Esposa” não deixa de ser um filme bibelô, bonitinho e antiquado.

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