Com 500 mil óbitos por Covid no país, relembre artistas mortos pela doença

De iniciantes a veteranos, pandemia vitimou grandes nomes de todos os campos da cultura

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O ritmo das mortes pela Covid-19 no Brasil segue acelerado, e o país ultrapassou, neste sábado (19), a marca de 500 mil óbitos pela doença. Apenas 51 dias separam este do trágico recorde de 400 mil mortes, no final de abril.

Entre nomes que tiveram suas carreiras abreviadas, como o do cantor de bregafunk MC Dumel, aos 28, e outros que tiveram tempo para consolidar uma obra, como o octogenário crítico literário Alfredo Bosi, a pandemia feriu todos os campos da cultura, inclusive financeiramente.

Para expressar o luto perante essa dor, a Folha preparou uma homenagem aos artistas de diferentes áreas que foram vitimados pela doença. Um pouco dessas e de outras vidas foram reunidas em um vídeo da TV Folha.

Com o desprezo do governo federal pelos riscos da Covid, foram necessárias mais de 411 mil vítimas e 14 meses após a detecção do primeiro caso no Brasil para que o presidente Jair Bolsonaro enfim se manifestasse sobre a morte de alguma celebridade ou figura política pela doença.

Para tal atitude, só mesmo uma perda como a do ator Paulo Gustavo, aos 42 anos, que se consolidou na última década como o maior fenômeno de público do cinema brasileiro ao viver Dona Hermínia, protagonista da trilogia "Minha Mãe É uma Peça". Encarnando a personagem inspirada em sua própria mãe, ele popularizou temas caros ao universo LGBT nas telonas.

É de se notar que o lamento nas mídias do presidente não destacou sua potência transgressora, mas sim seu carisma e sua fé, com uma foto em que o ator segura uma imagem de Santa Dulce dos Pobres, de quem era devoto.

Nas redes, a morte do comediante só incentivou mais críticas à má gestão da pandemia pelo governo. Paulo Gustavo estava internado desde 13 de março na UTI de um hospital no Rio de Janeiro e morreu em 4 de maio. Dois dias depois da publicação solidária, o presidente voltou a ridicularizar os doentes, imitando uma pessoa com falta de ar numa de suas lives. O óbito precoce do humorista pôs em evidência a imprevisibilidade da doença e a demora na aquisição de imunizantes pelo governo.

Já a morte do compositor Nelson Sargento, aos 96, lembrou que nenhuma vacina é 100% eficaz, ainda que diminua e muito as chances de contaminação. O sambista, presidente de honra da Mangueira, recebeu o diagnóstico positivo da doença três meses após receber a segunda dose.

Ainda no cenário nacional, o coreógrafo e dançarino Ismael Ivo foi outra vítima da Covid-19. Em entrevista à Folha em 2017, ele afirmou que a dança contemporânea era um reflexo das crises da sociedade.

Conhecido por unir suas raízes negras aos movimentos modernos, ao butô japonês e ao teatro-dança alemão em suas coreografias, não teve a chance de traduzir a atual catástrofe em arte.

O último livro da poeta Maria Lúcia Alvim, "Batendo Pasto", foi planejado como póstumo, mas a escritora foi convencida a publicar a obra antes. Teve o privilégio de saber da aclamação da crítica cinco meses antes de sua morte, em fevereiro deste ano, aos 88.

Ficam, porém, incógnitas as visões que nomes como o cineasta sul-coreano Kim Ki-Duk, o artista Abraham Palatnik e o escritor chileno Luis Sepúlveda teriam para esses tempos.

Partiram também criadores de grandes legados, como Aldir Blanc, compositor por trás de grandes letras contra a ditadura e homenageado em uma lei de ajuda ao setor, e o escritor Sérgio Sant'Anna, um dos mestres do conto brasileiro.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.