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'Mare of Easttown' abriga momento de cultura pop com um tiro fulminante

Evan Peters disse ter ficado empolgado e chocado ao saber o destino de seu personagem, o detetive Colin, na série da HBO

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Scott Tobias
The New York Times

Quando o detetive Colin Zabel (Evan Peters) chega à deprimente, insular e opressiva comunidade de Easttown, uma cidadezinha operária da Pensilvânia, ele é o investigador quente enviado pelo governo regional para ajudar a problemática detetive local, Mare Sheehan (Kate Winslet), a investigar o assassinato de uma mãe adolescente.

Mas à medida que a minissérie “Mare of Easttown” se desenrolava na HBO, vinha se tornando claro que os instintos de Colin nem sempre são tão aguçados quanto os de Mare.

E ainda que a vida da colega esteja repleta de segredos embaraçosos, Colin também tem os seus —como a verdade por trás de seu papel no grande caso que construiu sua reputação, e a triste constatação de que ele ainda mora com a mãe.

Kate Winslet, Evan Peters e Justin Hurtt-Dunkley em cena da série "Mare of Easttown", da HBO
Kate Winslet, Evan Peters e Justin Hurtt-Dunkley em cena da série 'Mare of Easttown' - Divulgação


Zabel precisa de uma vitória, tanto quanto Mare.

Ela infelizmente não acontece. No chocante quinto episódio da série, Colin e Mare se aproximam do final do capítulo em busca de redenção e chegam a um suspeito que pode ser responsável pelo sequestro e possível assassinato de diversas garotas de programa locais.

Quando localizam o cara, ele está refugiado em um bar arruinado de beira de estrada, onde mantém duas das mulheres desaparecidas como prisioneiras.

E quando as coisas começam a ficar realmente tensas, bang!: a história de Colin acaba, com um tiro na cabeça. Os fãs da série ainda devem estar abalados, mas Peters parecia perfeitamente satisfeito com morrer pela causa.

“Gosto da ideia de que ele leva um tiro, porque é muito real”, disse Peters no final de semana passada, de Los Angeles, em uma conversa por vídeo.

“É assim que a doença e a morte funcionam. Atingem-nos das maneiras mais inesperadas. Você não planeja adoecer. Você nunca planeja morrer. São coisas que simplesmente acontecem.”

Peters não parece minimamente desapontado com o destino de Colin.

O personagem dele talvez estivesse a caminho de resolver o caso e de iniciar um futuro romântico com Mare, mas um destino como esse pareceria absurdamente irreal na cidadezinha fictícia de Easttown, bem pertinho de Filadélfia, onde todos os personagens estão simplesmente tentando jogar da melhor maneira possível a cartada horrenda que o destino lhes reserva —e em geral não o fazem muito bem.

É outro momento de cultura pop para Peters, em um ano televisivo que não abrigou muitos deles.

Sua morte repentina em “Mare of Easttown” surge logo depois de uma participação reluzente em “WandaVision”, série Marvel da Disney+, na qual ele interpretou Ralph Bohner, um morador de Westview que surge como Pietro, o irmão de Wanda Maximoff, morto há muito tempo.

Caracterização do personagem Tate Langdon (Evan Peters), da série "American Horror Story", inspirado nos atiradores do massacre da escola secundária Columbine, no Colorado (EUA)
Caracterização do personagem Tate Langdon (Evan Peters), da série 'American Horror Story' - Reprodução

E novos papéis marcantes parecem estar a caminho. Quando conversamos, Peters estava filmando simultaneamente o papel-título de “Monster: The Jeffrey Dahmer Story”, para a Netflix, e a décima temporada (sua nona) de “American Horror Story”, para o canal FX.

Em um intervalo entre gravações, ele falou do trabalho que teve para criar um personagem condenado e sobre atuar com sua atriz favorita. Também falou sobre as maravilhas da comida do Wawa. Leia abaixo, trechos editados da conversa.

Quando e como você descobriu que Colin não sobreviveria ao quinto episódio da série? Bem, recebi os roteiros para os episódios um a cinco, ou talvez seis, e os li inteiros. E obviamente ele morre no episódio cinco. [Risos.]

Foi só isso? Sim. Decidi encarar o pelotão de fuzilamento, por falta de um termo melhor. Fiquei completamente chocado quando li, e minha esperança, e quase certeza, era de que a audiência também se chocasse, se eu interpretasse Colin bem.

Àquela altura, a audiência está pesadamente investida em Colin, como parte da investigação e como parte da vida de Mare, e presumivelmente você tinha sentimentos parecidos. Como você encara essa perda, em sua condição de alguém investido na história? Fiquei empolgado com a ideia de que aquilo aconteceria, a ideia de criar todo um personagem, formular toda uma trama, quase como se tivéssemos feito tudo isso para aquele momento. É uma maneira interessante de desenvolver um personagem, sabendo que ele ia morrer daquela maneira.

Para mim, parecia muito real e refletia o perigo de trabalhar nesse tipo de coisa. Trouxe-me à memória aquele momento de “Queime Depois de Ler” em que Brad Pitt leva um tiro na testa, dentro do armário —que é hilariante, mas também um verdadeiro choque, e era aquele tipo de sentimento que queríamos causar quando acontecesse.

Brad Pitt em cena do filme 'Queime Depois de Ler' - Divulgação

O fato de saber que era daquela maneira que seu personagem terminaria mexeu com a sua cabeça de alguma maneira? Não pensei demais nisso. Acho que haveria um modo diferente de interpretar Colin, como um cara mais posudo, que busca supercompensar sua síndrome de impostor.

Mas eu preferi evitar isso, porque eu não me incomodaria muito que um cara como aquele fosse morto a tiros, não é? [Risos.] Seria mais incômodo se ele fosse um cara simpático, alguém por quem você pudesse torcer, e esperar que ele crescesse e se tornasse um homem melhor, um sujeito mais firme.

A série revela gradualmente que seu personagem não é o detetive supercompetente, capaz de se sair bem em qualquer situação, que ele inicialmente parece ser. Como você descreveria essa trajetória? Era exatamente o que eu estava fazendo com o personagem o tempo todo. Como detetive, ele quer melhorar. Ele assumiu o crédito por uma informação [em um caso anterior] que não foi ele que obteve, e o assumiu porque estava empacado, e queria algo que o levasse em frente.

Ele pensa que “talvez isso resolva o caso. Vou fazer algo grande, impressionar minha mãe, impressionar todo mundo que me cerca, e todos os meus problemas estarão resolvidos”. Mas acho que ele percebe rapidamente que aquilo é falso. Não é real e cria um buraco dentro dele.

Como você se preparou para o papel? Como você trabalhou para ser convincente como detetive e como uma pessoa daquele lugar? Foi maravilhoso filmar em Filadélfia, para começar. É sempre maravilhoso filmar no lugar em que uma história acontece, porque você pode sair, comer a comida local, conhecer pessoas e conversar com elas, aprender o sotaque, descobrir a energia da cidade grande e das cidadezinhas, se aprofundar nisso.

Não gosto de filmar em estúdio, porque isso tira toda a energia, toda a realidade, da coisa. Fui ao Reading Terminal Market e ao Tommy DiNic’s, comi “cheese steaks” e toda espécie de pratos locais, visitei tudo e tentei realmente me enfronhar.

Há uma detetive real chamada Christine Bleiler, em quem Mare é baseada, e troquei emails com ela, perguntando o que ler e o que assistir. Ela recomendou alguns programas sobre crime real, algumas coisas da Netflix, e recomendou um livro, “Sex-Related Homicide and Death Investigation”, de Vernon Geberth, que é basicamente um manual de investigação. Há estudos de casos, fotos horríveis, coisas que você não consegue tirar da cabeça, e eu queria ler porque queria saber como era lidar com aquilo no dia a dia, ter aquilo em sua psique.

Faz com que você questione todas as coisas, porque você se defronta com a escuridão a cada dia. Foi bem útil, para me colocar no clima necessário.


A maior parte de suas cenas na série são com Kate Winslet, que é vista amplamente como uma das melhores atrizes do mundo. Isso o intimidou? Fiquei um pouco estressado, claro, porque tinha de dividir cenas com ela, e eu não sabia bem o que fazer. Há algo de Colin nisso, também, de tentar aprender com ela.

Ela é uma pessoa incrivelmente humilde, acessível, real, que se preocupa bastante com a equipe e com o elenco, com todos os envolvidos. Era um lugar muito confortável, e ela nunca deixava que o estresse e o nervosismo crescessem. A postura dela era a de que estamos todos nessa juntos, para fazer a melhor série que pudermos.

Kate Winslet disse um podcast que você a apresentou ao Wawa, que ela descreveu quase como se fosse uma experiência religiosa. Você se lembra disso? Sim. O Wawa é... incrível. Tem tudo que você precisa. Há tudo, lá. O que realmente me convenceu quanto ao Wawa foi The Gobbler.

Na época do Dia de Ação de Graças, eles têm... é basicamente um “hoagie” [sanduíche], mas com cara de Ação de Graças, ou seja, com peru, recheio, molhos. É a maior coisa que você poderia comer, e a menos saudável. O café é ótimo. Há uma imensidão de coisas boas lá.

Tradução de Paulo Migliacci

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