Descrição de chapéu Obituário Vânia Debs (1950 - 2021)

Vânia Debs, montadora dos filmes 'Baile Perfumado' e 'Alvorada', morre aos 71

Professora da Universidade de São Paulo formou gerações de estudantes de cinema

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São Paulo

A montadora Vânia Debs, responsável por alguns dos principais filmes do período que sucedeu a chamada retomada do cinema brasileiro, morreu neste domingo aos 71 anos, de complicações de um mieloma múltiplo.

Debs assinou a montagem, por exemplo, de obras como “Árido Movie”, de Lírio Ferreira, “Durval Discos”, de Anna Muylaert, e “A História da Eternidade”, de Camilo Cavalcante. Também trabalhou com Ferreira e Muylaert em dois filmes que estão em cartaz agora nos cinemas —respectivamente, a ficção “Acqua Movie” e o documentário “Alvorada”, que retrata os últimos meses da ex-presidente Dilma Rousseff no governo.

O longa que impulsionou seu reconhecimento profissional foi “Baile Perfumado”, dirigido por Ferreira e Paulo Caldas, uma recontagem da história de Lampião que marcou a cinematografia brasileira ao começar a projetar uma geração de cineastas de Pernambuco que seria catapultada à consagração nas décadas seguintes.

O filme venceu o prêmio principal no Festival de Brasília daquele ano de 1996. Debs perdeu o prêmio de melhor montagem —para entender melhor, vale lembrar as palavras do crítico Inácio Araujo neste jornal, há 25 anos.

“Em geral ninguém do júri sabe direito o que é montagem, por isso não pode entender o nível do trabalho de Idê Lacreta (‘Um Céu de Estrelas’) ou Vânia Debs (‘Baile Perfumado’), que deram a filmes difíceis ritmos impecáveis.”

baile perfumado
Cena do filme "Baile Perfumado", de Lírio Ferreira e Paulo Caldas. - Fred Jordão/Folhapress

Tão essencial quanto seu trabalho na sala de montagem era o que fazia na sala de aula.

Mineira de Araguari, Debs se tornou professora da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde concluiu seu doutorado. Tudo isso logo após uma temporada italiana, em que fez mestrado na Universidade Católica de Milão e se divertiu em périplos com o engenheiro Luiz Cláudio Galvão, seu marido por toda a vida.

Também formou alunos até o fim —a filha, Nina Galvão, afirma que a mãe não entendia bem o conceito de aposentadoria. Do hospital, dois meses antes de morrer, ainda atendia orientandos, lia roteiros, sugeria cortes.

“O que dava sentido para ela era a montagem, mesmo”, diz a filha, para quem isso também se refletia em inclinações pessoais. “Na cozinha, o que ela mais gostava de fazer era picar coisas, bater clara de ovo com o garfo. Trabalhos minuciosos, demorados, mas que davam o tom para o que o prato iria se tornar.”

A mesma intensidade se materializava no cuidado com as plantas —sabia de cor o nome de todas—, na militância feminista —foi uma das fundadoras do Centro Informação Mulher—, nos rega-bofes com os amigos e a família.

“Na montagem, tem um momento em que você fala, bom, parece que isso foi feito exatamente para ter esse tamanho e para estar nesse lugar”, disse Debs em depoimento ao projeto “Na Ilha”. “Quando você encontra o tamanho e o resultado ideal, é uma coisa muito gratificante. É preciso buscar isso o tempo todo.”

Ela deixa o marido, os filhos Nina e Martim e a neta Lila.

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