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'Drama', novo álbum solo de Rodrigo Amarante, é difícil no melhor sentido

Com poucos agrados aos fãs do Los Hermanos, disco afina proposta musical alinhada ao experimental

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Drama

  • Onde Nas plataformas digitais, CD e LP
  • Autor Rodrigo Amarante
  • Produção Polyvinyl Records

“Drama”, segundo álbum da carreira solo de Rodrigo Amarante, não chega a ser uma ruptura diante de “Cavalo”, sua estreia fonográfica longe dos colegas do Los Hermanos e do Little Joy, grupo que marcou o início de seu período morando nos Estados Unidos e trabalhando com nomes da vanguarda musical, principalmente da cena californiana.

“Drama” parece afinar ainda mais a proposta musical do cantor e compositor, não tão fácil de ser identificada. Mas, nos dois discos, fica clara uma ideia de construir canções que recebem “aditivos” em suas estruturas básicas. Fica a impressão de que nascem como baladas simples e são acrescidas de percussão, metais, harmonias vocais inventivas e outros temperos.

Não surpreende que o material de divulgação do disco traga um texto de Amarante agradecendo com carinho e entusiasmo aos músicos da banda que o acompanha e vários amigos que participaram desse álbum gravado desde 2019. Antes da pandemia, algumas colaborações presenciais ajudaram a dar o caráter inovador do material.

O trabalho dele nos Hermanos tinha muito dessa forma de temperar sutilmente as canções com intervenções certeiras. Isso está presente num formato bem agradável em álbuns como “Bloco do Eu Sozinho” e “Ventura”, mas soa nada pop em “4”, último disco de estúdio da banda. O som de Amarante em “Drama” merece mesmo essa distinção.

As músicas são poderosas, intrincadas, e não se trata de considerá-las boas ou ruins. São muito boas, mas às vezes esquisitas demais para quem busca uma canção cativante. Amarante é um artista “difícil”, no melhor sentido do adjetivo.

As duas faixas que abrem o disco são experiências bem diferentes. “Drama” é curta, quase uma vinheta, que soa como o áudio da trilha sonora de uma apresentação teatral. Frases instrumentais são intercaladas com risadas da plateia, numa composição realmente divertida.

“Maré”, lançada previamente como single, é agitada, com percussão e metais a serviço de andamento e letra diretamente próximos ao som dos Hermanos. Serve efetivamente como locomotiva do álbum, com um bálsamo para as legiões de fãs da banda, sempre ávida por qualquer sinal de atividade, por mais tênue que seja.

“Tango”, com letra em inglês e nada que lembre o ritmo argentino, “Tara” e “Tanto” formam um bloco exemplar desse estilo Amarante. Melodias fluidas, que são possíveis de imaginar em versões singelas de voz e violão, mas são apresentadas com os acréscimos instrumentais que as diferenciam de músicas simples. “Tanto”, principalmente, é permeado por metais afiados tocados por David Ralicke, com ótimo resultado.

“Tara” é um bom motivo para falar do Amarante letrista. Ele já deixou claro inúmeras vezes a capacidade de escrever versos destinados ao karaokê particular dos fãs. Nesta faixa, mostra-se inspirado, disparando “Teu apelo meu abalo/ eu só via o outro lado/ nosso amor que era carne cresceu fraco do osso/ quem diria morre moço”.

“I Can’t Wait” é outra que Amarante divulgou antes de sair o álbum. Tem tessitura eficiente para uma balada mais contida, mas parece um tanto evidente que a versão cantor do compositor mostra um vocal que fica devendo. É uma canção que pode se tornar irresistível numa garganta com mais recursos.

“Tao” vem na sequência para mostrar como o vocal de Amarante rende muito bem quando encaixa confortavelmente na melodia. Além de ser o melhor dele como cantor, tem um insinuante uso de saxofones por Ralicke, para dar um balanço irresistível. Deve ser um dos pontos altos no palco quando começar a turnê do disco.

Essas adições sonoras que Amarante sobrepõe às canções às vezes podem soar estranhas, e “Sky Beneath” é um desses casos. Vocal e percussão não se encaixam. A estranheza soa forte demais, como se o áudio de duas músicas diferentes estivessem em franca disputa.

“Eu com Você”, de letra romântica, e “Um Milhão”, de versos em intrigantes jogos de palavras, acabam soam longe de um formato pop, mas tem aquele apelo inegável que Amarante demonstra desde o século passado (!), na estreia do Los Hermanos.

“The End” começa como uma balada terna e, de repente, uma percussão arrojada irrompe. Novamente a estranheza, que funciona para deixar claro na última faixa que “Drama” não é nada simples. É a arte musical de Rodrigo Amarante, personalíssima e muito além de um mero produto para fãs saudosos de sua antiga banda.

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