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Renato Terra

Escândalo que tirou a Rússia das Olimpíadas é destrinchado em filme

'Ícaro', que ganhou o Oscar de melhor documentário, mostra os bastidores do esquema de doping no país

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É normal que aconteça. Até saudável. Quando um documentarista parte para filmar seu projeto, é preciso estar aberto às mudanças que inevitavelmente irão ocorrer. Mas o caso de “Ícaro” é especial.

O filme nasce de uma ideia do diretor de cinema e ciclista amador Bryan Fogel. Intrigado com o esquema de doping de Lance Armstrong, Fogel resolve se submeter a um processo semelhante. Seu objetivo é mostrar as falhas no sistema antidoping que permitiram que Armstrong burlasse a Volta da França por tantos anos.

Para administrar sua rotina de doping, Fogel chega até o cientista russo Grigory Rodchenkov. Seringas, testosterona, exames de urina passam a fazer parte de sua rotina de treinamentos. Durante um ano, Fogel vê melhorias significativas em seu desempenho físico e tudo leva a crer que seu esquema nunca será desmascarado.

Cena do documentário "Ícaro", de Bryan Fogel
Cena do documentário "Ícaro", de Bryan Fogel - Divulgação

Rodchenkov é um baita personagem para o filme. Despojado, sorridente, aparece sem camisa pelas conversas no Skype para sugerir protocolos antiéticos com a tranquilidade de quem troca figurinhas. Age sem remorso como se fosse um clássico vilão de 007.

Mas um acontecimento bombástico muda radicalmente o filme. O documentário "The Secrets of Doping: How Russia Makes Its Winners", ou os segredos do doping: como a Rússia fabrica seus campeões, feito pela TV alemã ARD em 2014, mostra como Grigory Rodchenkov liderava um esquema estatal de doping de atletas russos em todas as modalidades.

Um dos maiores escândalos do esporte, envolvendo a KGB e Vladimir Putin. Uma inacreditável armação internacional que durou décadas e beneficiou atletas russos em várias Olimpíadas.

Com o fio de confiança que estabeleceu com Rodchenkov, o diretor Bryan Fogel consegue ser seu confidente no meio desse furacão. E o filme dá um plot twist carpado. O cientista russo passa a viver nos Estados Unidos, escondido por Fogel, e resolve revelar tudo o que sabe.

O semblante de Rodchenkov muda. Passa a respirar fundo, tem o olhar acelerado. Está em pânico com a possibilidade de ser morto pela KGB.

Fogel tenta acompanhar a mudança drástica nos rumos do filme. Entram advogados, conselheiros. O diretor faz uma entrevista formal com Rodchenkov, com iluminação e enquadramento de programa de TV, para que o cientista russo dê detalhes e cite nomes.

Apesar de perder o ritmo em vários momentos e perder tempo citando o romance “1984”, de George Orwell, “Ícaro” é um excelente thriller documental. Não à toa, ganhou o Oscar em 2018.

Alerta de um pequeno spolier: para quem teve curiosidade, Grigory Rodchenkov permanece até hoje sob a tutela do programa de proteção de testemunhas dos Estados Unidos. Lançou um livro e, no ano passado, deu uma entrevista para a BBC.

Faixas extras

  • Grigory Rodchenkov em entrevista para a CBS em 2018
  • Uma palestra com Bryan Fogel sobre “Ícaro”
  • "The Secrets of Doping: How Russia Makes Its Winners", o documentário que denunciou Rodchenkov e mudou a trama de “Ícaro”
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