Festival de Cannes volta com a missão de mostrar ao mundo que o cinema vive

Evento francês acontece de forma presencial, depois de ter edição do ano passado cancelada

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Spike Lee no cartaz do Festival de Cannes de 2021

Spike Lee no cartaz do Festival de Cannes de 2021 Divulgação

São Paulo

Os vestidos de grife, os smokings elegantes e os flashes das câmeras fotográficas estão de volta à Riviera Francesa. Depois de ter sua edição do ano passado estragada pela pandemia de coronavírus, o Festival de Cannes estende novamente seu tapete vermelho a partir desta terça, para que celebridades do calibre de Tilda Swinton e Marion Cotillard desfilem pela Croisette.

Elas são duas das atrizes que estrelam filmes em competição nesta 74ª edição da mais importante mostra cinematográfica do mundo —o misterioso “Memoria” e o musical “Annette”—, que chega com nomes de peso, como que para compensar a ausência da festa no ano passado. Por causa da Covid-19, os organizadores de Cannes seguraram as datas do evento de 2020 até o último momento, quando notaram que não seria possível realizar a festa.

Cancelado, o festival divulgou os filmes que deveriam estar em sua mostra competitiva e os agraciou com o selo da seleção oficial da edição fantasma. Pouco depois, uma versão enxuta do festival, voltada para curtas-metragens, chegou a ser realizada, mas sem a pompa tradicional e com público limitadíssimo —ainda eram tempos pré-vacina. Nesse meio tempo, o suntuoso Palais des Festivals chegou a ser transformado em hospital de campanha e, depois, em posto de imunização.

A edição de agora chega com a intenção de dar um senso de normalidade à indústria cinematográfica, como se dissesse a exibidores, distribuidores, produtores e público que, sim, o cinema continua forte mesmo após os baques que sofreu com a pandemia. “O cinema não está morto”, disse o diretor artístico, Thierry Frémaux, no mês passado. Ele também vem alfinetando a Netflix e outros streamings nas últimas semanas.

Spike Lee, que deveria ter presidido o júri no ano passado, volta agora à função —pela primeira vez ocupada por um negro—, à frente de um grupo que ainda tem nomes como Song Kang-ho, Mélanie Laurent, Mati Diop, Maggie Gyllenhaal e o cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho.

“Eu gosto dessas experiências de júri, não importa o tamanho do festival. Os júris são formados por pessoas da cultura, do cinema. Vemos filmes, discutimos ideias. São experiências humanas e artísticas, às vezes experiências imperfeitas. E é assim a vida”, diz Mendonça Filho.

Vacinado e já na França, ele ficou dez dias em quarentena, praticamente sem pisar na rua, para que agora pudesse circular livremente pelo país. “Nas últimas semanas vi uma vida bem próxima da normalidade”, afirma.

Ele não sabe prever quão diferente Cannes será esse ano —ou se realmente o será. Mas, com a Covid-19 relativamente sob controle por lá, os cuidados pessoais e protocolos de segurança que já se tornaram praxe no mundo todo pouco devem afetar o dia a dia do festival.

Para garantir essa quase normalidade, o presidente do evento, Pierre Lescure, dispensou as sessões virtuais —como vinha sendo a regra em inúmeras mostras pelo mundo— e convidou os espectadores e a imprensa para participarem —elementos que estiveram ausentes na maioria dos eventos do gênero no último ano.

Mas não sem antes atrasar esta edição, que passou de sua tradicional data de maio para julho, dando tempo para que mais gente fosse imunizada na Europa. Por isso, os presentes na costa francesa precisarão carregar uma espécie de passaporte sanitário até o dia 17 de julho, quando acontece a cerimônia de premiação e encerramento —e, se não estiverem vacinados, realizar testes a cada 48 horas.

Nem todos os países, porém, estão livres para comemorar o arrefecimento da pandemia. Justamente por isso, o produtor carioca Rodrigo Teixeira não vai ao festival pela primeira vez em anos. Ele só tomou a primeira dose da vacina e o receio, conta, se juntou à enorme burocracia que encontraria se fosse pegar um voo para a França.

Ele lamenta não participar fisicamente de uma edição que acredita ser histórica. “A gente tem que botar o glamour do festival de lado e olhar para o que ele significa, uma celebração da vida. O importante mesmo é essa tentativa de termos uma volta à normalidade, de poder apresentar nossos filmes numa sala de cinema, dividir com o público o nosso trabalho. O segredo é esse retorno”, diz Teixeira.

Ele terá como representantes de sua produtora, a RT Features, em Cannes, os filmes “Bergman Island”, da diretora francesa Mia Hansen-Love, que está no páreo pela Palma de Ouro, e “Murina”, da croata Antoneta Alamat Kusijanovic, produzido em parceria com Martin Scorsese.

Funcionários do Festival de Cannes preparam a fachada do Palais des Festivals para o início do evento
Funcionários do Festival de Cannes preparam a fachada do Palais des Festivals para o início do evento - Valery Hache/AFP

Não há, no entanto, nenhum cineasta brasileiro presente na mostra competitiva de longas neste ano. Vale lembrar que, em 2020, “Casa de Antiguidades”, de João Paulo Miranda Maria, recebeu o selo de aprovação de Cannes, e, em 2019, o Brasil saiu da costa francesa com duas láureas —o prêmio do júri para “Bacurau” e o da mostra Um Certo Olhar para “A Vida Invisível”, produzido por Teixeira.

Os brasileiros aparecem agora, para além do guarda-chuva do produtor carioca, com “O Marinheiro das Montanhas”, de Karim Aïnouz, nas sessões especiais, e com “Medusa”, de Anita Rocha da Silveira, na Quinzena dos Realizadores. Como coprodutor minoritário, o país está em “Noche de Fuego” e “O Empregado e o Patrão”. Entre os curtas, são nacionais “Sideral”, de Carlos Segundo, e “Céu de Agosto”, de Jasmin Tenucci, que competem pela Palma de Ouro da seção, e “Cantareira”, de Rodrigo Ribeyro, na Cinéfondation.

De volta à disputa pelo prêmio máximo de Cannes, além de Mia Hansen-Love estão outros 23 cineastas. Há Apichatpong Weerasethakul e Leos Carax, dos citados “Memoria” e “Annette”, e nomes que já venceram prêmios importantes em edições passadas —Jacques Audiard, com “Paris 13th District”; Mahamat-Saleh Haroun, com “Lingui, The Sacred Bonds”; Bruno Dumont, com “France”, e Nanni Moretti, com “Tre Piani”.

Outros longas de olho na Palma de Ouro incluem “Benedetta”, de Paul Verhoeven, sobre uma freira italiana que tem desejos eróticos; “Flag Day”, de Sean Penn, sobre um pai que tem uma vida dupla como criminoso; “Ahed’s Knee”, de Nadav Lapid, que acompanha um cineasta; “Red Rocket”, de Sean Baker, que fala sobre o retorno de um ator pornô à sua cidadezinha; “A Hero”, de Asghar Farhadi, cuja trama está em sigilo, e “The French Dispatch”, de Wes Anderson, sobre um grupo ficcional de jornalistas na França.

Fora da competição principal, devem causar burburinho “The Velvet Undergound”, sobre a banda homônima, dirigido por Todd Haynes, e os novos filmes dos oscarizados Tom McCarthy e Oliver Stone, dos atores-diretores Mathieu Amalric e Charlotte Gainsbourg e de Gaspar Noé e Hong Sang-soo, habitués da Croisette.

É uma seleção, nas palavras de Kleber Mendonça Filho, que se parece com “um grande banquete, com todo tipo de bebida”.​ E Cannes parece estar mais pronto do que nunca para brindar a volta às salas de cinema.

VEJA A LISTA DE FILMES

Competição

Abertura
ANNETTE

Leos CARAX (França)

***
A FELESÉGEM TÖRTÉNETE
(L’HISTOIRE DE MA FEMME)
Ildikó ENYEDI (Hungria)
BENEDETTA Paul VERHOEVEN (Holanda)
BERGMAN ISLAND Mia HANSEN-LOVE (França)
DRIVE MY CAR Ryusuke HAMAGUCHI (Japão)
FLAG DAY Sean PENN (EUA)
HA'BERECH
(LE GENOU D’AHED)
Nadav LAPID (Israel)
HAUT ET FORT Nabil AYOUCH (Marrocos)
HYTTI NRO 6
(COMPARTMENT NO.6)
Juho KUOSMANEN (Finlândia)
JULIE (EN 12 CHAPITRES) Joachim TRIER (Noruega)
LA FRACTURE Catherine CORSINI (França)
LES INTRANQUILLES Joachim LAFOSSE (Bélgica)
LES OLYMPIADES Jacques AUDIARD (França)
LINGUI Mahamat-Saleh HAROUN (Chade)
MEMORIA Apichatpong WEERASETHAKUL (Tailândia)
NITRAM Justin KURZEL (Austrália)
FRANCE Bruno DUMONT (França)
PETROV’S FLU Kirill SEREBRENNIKOV (Rússia)
RED ROCKET Sean BAKER (EUA)
THE FRENCH DISPATCH Wes ANDERSON (EUA)
TITANE Julia DUCOURNAU (França)
TRE PIANI Nanni MORETTI (Itália)
TOUT S’EST BIEN PASSÉ François OZON (França)
UN HÉROS

Asghar FARHADI (Irã)

Um Certo Olhar

MONEYBOYS

C.B Yi (Áustria)

1º filme

BLUE BAYOU

Justin CHON (EUA)

FREDA

Gessica GÉNÉUS (Haiti)

1º filme

DELO

Alexey GERMAN JR. (Rússia)

BONNE MÈRE

Hafsia HERZI (França)

NOCHE DE FUEGO

Tatiana HUEZO (México)

LAMB

Valdimar JÓHANSSON (Islândia)

1º filme

COMMITMENT HASAN

Hasan Semih KAPLANOGLU (Turquia)

AFTER YANG

Kogonada (EUA)

ET IL Y EUT UN MATIN

Eran KOLIRIN (Israel)

UNCLENCHING THE FISTS

Kira KOVALENKO (Rússia)

WOMEN DO CRY

Mina MILEVA (Bulgária)

Vesela KAZAKOVA (Bulgária)

REHANA MARYAM NOOR

Abdullah Mohammad SAAD (Bangladesh)

GREAT FREEDOM

Sebastian MEISE (Áustria)

LA CIVIL

Teodora Ana MIHAI (Romênia/Bélgica)


1º filme

GAEY WA'R

NA Jiazuo (China)


1º filme

THE INNOCENTS

Eskil VOGT (Noruega)

UN MONDE

Laura WANDEL (Bélgica)


1º filme

Fora da competição

DE SON VIVANT

Emmanuelle BERCOT (França)

EMERGENCY DECLARATION

HAN Jae-Rim (Coreia do Sul)

THE VELVET UNDERGROUND

Todd HAYNES (EUA)

BAC NORD

Cédric JIMENEZ (França)

ALINE

Valérie LEMERCIER (França)

STILLWATER

Tom MCCARTHY (EUA)

Sessão de minuto

ORANGES SANGUINES

Jean-Christophe MEURISSE (França)

Estreias de Cannes

SERRE-MOI FORT

Mathieu AMALRIC (França)

COW

Andrea ARNOLD (Reino Unido)

CETTE MUSIQUE NE JOUE POUR PERSONNE Samuel BENCHETRIT (França)
TROMPERIE

Arnaud DESPLECHIN (França)

JANE PAR CHARLOTTE Charlotte GAINSBOURG (França)

1º filme
IN FRONT OF YOUR FACE

HONG Sang-Soo (Coreia do Sul)

MOTHERING SUNDAY

Eva HUSSON (França)

EVOLUTION

Kornél MUNDRUCZO (Hungria)

VAL

Ting POO (EUA)

Leo SCOTT (EUA)

JFK REVISITED: THROUGH THE LOOKING GLASS

Oliver STONE (EUA)

Sessões especiais

O MARINHEIRO DAS MONTANHAS
(LE MARIN DES MONTAGNES)

Karim AÏNOUZ (Brasil)

CAHIERS NOIRS

Shlomi ELKABETZ (Israel)

BABI YAR. CONTEXTE

Sergei LOZNITSA (Ucrânia)

H6

Yé Yé (França)

1º filme
THE YEAR OF THE EVERLASTING STORM

Jafar PANAHI (Irã), Anthony CHEN (Singapura),
Malik VITTHAL (EUA) , Laura POITRAS (EUA), Dominga SOTOMAYOR (Chile), David LOWERY (EUA) , et Apichatpong WEERASETHAKUL (Tailândia)

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