Descrição de chapéu
Livros

Carola Saavedra mais se exibe em livro de ensaios sobre tudo e nada

Depois de romances de sucesso, escritora chileno-brasileira se arrisca pelo ensaio em 'O Mundo Desdobrável'

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Vivien Lando

O Mundo Desdobrável

  • Preço R$48 (206 págs.)
  • Autoria Carola Saavedra
  • Editora Relicário

Em um país que ocupa posições vergonhosas em rankings de analfabetismo, a responsabilidade de escritores, tradutores e editores cresce em progressão geométrica a cada dia. Se a cada um deles couber o louro de recrutar um leitor que seja, já terá cumprido sua missão.

Feito esse preâmbulo, o que tem a ver o livro da autora chileno-brasileira Carola Saavedra com esse triste retrato? Tudo. Pois se ela despontou como uma das revelações em literatura ficcional há alguns anos, já tendo publicado cinco romances de sucesso, o que está fazendo ao se aventurar pelo comprometedor nicho do ensaio?

Os ensaios nas artes cênicas precedem uma estreia, e na literatura prevêem uma ideia, uma solução inovadora, uma descoberta teórica, uma análise original. Walter Benjamim, por exemplo. Como tantos outros que fizeram nossos neurônios entrar em rota de colisão. Cito Benjamim porque ele é citado por Saavedra, assim como Freud, chegando ela ao cúmulo de admitir que "talvez Buda e Freud tivessem razão".

Despejar erudição, mostrar que leu isso ou aquilo, descobrir o poder das plantas e a sabedoria de sua filha pequena e muitos outros temas, além de uma ficção narrada em capítulos aparentemente por um polvo enclausurado em algum laboratório, desdobram o livro em efêmeras soluções para pequenos problemas. Sobretudo ao pôr em pauta as definições da literatura.

Seja quais forem, de qualquer maneira os gregos escolheram as cênicas como a primeira das artes, antes mesmo da música e da escultura. Aquele pessoal sabia do que estava falando. Quando havia tempo para as pessoas pensarem e voarem com seus pensamentos, como diz a letra de Lupicínio Rodrigues.

É essa a grande arma da escrita ficcional, levar o leitor embora de seu microcosmo limitante para o infinito da imaginação. Pois é no encontro dos dois sonhos que se dá a leitura ideal –o escritor que propõe o itinerário e o leitor que embarca na viagem com sua própria bagagem.

Tudo a Ler

Receba toda quinta sugestões de leituras e novidades da literatura em seu email

E talvez essa seja a melhor forma de conquistar leitores de primeira viagem. Mostrando que dentro de um bom livro existem infinitas possibilidades de reconciliação com a dura realidade. Ler para sobreviver. Ler para não enlouquecer. Ou, mais modernamente, ler para não se deprimir.

Ao discorrer sobre tudo ou nada, desde o terror norturno de que sofria na infância até as consequências aparentes da Covid-19, passando por museus da Alemanha, onde vive atualmente, a autora mais atordoa do que clareia. Mais se exibe do que nos homenageia.

Se são "ensaios para depois do fim", como reza o subtítulo, então é possível que ainda não estejamos preparados para eles. Já que nem chegamos à metade do caminho da elucidação, da evolução ou de qualquer outra meta a que nos proponhamos diante das novas circunstâncias mundiais.

0
A capa da edição brasileira de 'O Mundo Desdobrável', de Carola Saavedra - Divulgação

Transmutação não é só uma palavra bonita. Assim como portal não se limita às prédicas das religiões mais atuais. É evidente que uma virada geral se aproxima do bicho-homem, este mesmo que tem apregoado ao longo dos séculos ser racional, produzir instrumentos e criar arte.

Hora, portanto, daqueles que têm o dom se empenharem e aperfeiçoarem o talento, contando lindas histórias. A travessia será menos dura assim.

Lançamento de 'O Mundo Desdobrável'

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.