A primeira vez que Barbora Kysilkova viu o rosto de Karl-Bertil Nordland foi numa câmera de segurança. Karl-Bertil estava roubando duas de suas pinturas mais valiosas.
O primeiro contato pessoal entre os dois foi no tribunal, quando Barbora caminhou até o ladrão e disse: “Desculpe, eu não sei se deveria fazer isso. Se incomoda de conversar um pouco?”. Karl-Bertil consentiu e ela prosseguiu: “Eu sou a pintora que criou aquelas duas obras. Posso perguntar por que você levou aquelas duas pinturas?". “Porque são lindas”, ele respondeu. Barbora riu.
Barbora Kysilkova é uma pintora tcheca radicada na Suécia que se especializou em grandes quadros hiperrealistas. Ela então resolve convidar o ladrão para seu ateliê e, como compensação pelo roubo, pede que ele sirva de modelo.
A história de uma pintora que convidou o ladrão de seus quadros para seu ateliê ganhou os jornais e chamou a atenção do diretor Benjamin Lee. Ele entrou em contato com os dois e começou a filmar a partir do quarto encontro entre Barbora e Karl-Bertil.
Benjamin Lee não tinha ideia de como a história iria terminar. O plano inicial era fazer um documentário de dez minutos. Mas tudo mudou quando o ladrão viu seu rosto pintado pela primeira vez. “A reação de um ex-presidiário, um bad boy, ao ver o seu rosto num quadro mexeu muito comigo. Ele começou a chorar por cinco minutos. E aquilo mudou o filme todo. Notamos ali que não seria mais um filme de dez minutos”, disse Lee numa entrevista para a revista The Upcoming.
O filme tem várias reviravoltas impressionantes. A personalidade dos dois protagonistas se impõe e uma relação de amizade, com várias complexidades, aparece diante das câmeras. Benjamin Lee faz boas escolhas, quando, por exemplo, mostra Barbora contando a história de Karl-Bertil, e vice-versa. Ou quando volta a uma mesma cena a partir das diferentes perspectivas dos personagens.
“Dramaturgia num documentário não é só uma decisão artística. É também uma decisão ética. Estou filmando pessoas reais que vão conviver com o filme depois que ele for lançado. É muito importante para mim fazer um retrato deles que tenha nuances e que seja complexo. Especialmente Karl-Bertil. Ele mostrou que é carismático, inteligente e autodestrutivo”, disse Lee na mesma entrevista.
“Para mim o filme é sobre o que os seres humanos fazem para serem notados e apreciados e também sobre o nosso interesse em enxergar os outros”, resumiu o diretor.
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