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'Nos Tempos do Imperador', com Selton Mello, estreia depois de driblar pandemia

Primeira novela inédita da Globo na pandemia, trama sobre dom Pedro 2º chega depois de enfrentar longa paralisação

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Nos Tempos do Imperador

Da esq. para dir, Gabriela Medvedovski, Michel Gomes, Mariana Ximenes, Selton Mello e Teresa Cristina estrelam 'Nos Tempos do Imperador' João Miguel Júnior/Globo

São Paulo

O velhinho caminha sobre a neve, tão branca como suas barbas. Ao fundo, a torre Eiffel. O olhar nostálgico do ancião trai a sua angústia por estar ali em Paris.

É com essa cena de dom Pedro 2º no exílio que começa "Nos Tempos do Imperador", a primeira novela da Globo 100% inédita em quase um ano e meio. Os autores Alessandro Marson e Thereza Falcão e o diretor artístico Vinícius Coimbra quiseram fazer deslanchar a trama com a imagem do monarca que existe no imaginário popular —o velho barbudo de modos gentis.

Mas o Pedro que protagoniza a nova atração das seis da tarde é mais jovem, de barba escura e curta, entusiasmado para modernizar o país e com uma amante fixa vivendo praticamente dentro do palácio. A ação do folhetim começa em 1856 e vai até 1870, abrangendo toda a Guerra do Paraguai.

"Nos Tempos do Imperador" está tendo uma produção quase tão atribulada quanto a vida de seus personagens. Com estreia marcada para 30 de março de 2020, a novela teve suas gravações interrompidas pela pandemia. Entra finalmente no ar nesta segunda, com mais de 60 capítulos totalmente finalizados --inédito para a teledramaturgia da Globo, que nunca trabalhou com uma "frente" tão folgada.

A gênese da novela remonta a "Novo Mundo", o trabalho anterior da mesma dupla de autores. Exibida em 2017, ela cobria o período que vai da chegada da futura imperatriz Leopoldina, em 1817, até pouco depois da independência do Brasil, em 1822. Uma pesquisa da Globo revelou então um dado desanimador —parte do público confundia dom Pedro 1º com Pedro Álvares Cabral, três séculos mais antigo.

O desconhecimento sobre o Segundo Reinado é ainda maior, e poucos têm noção da importância de dom Pedro 2º para o país, o que tornou mais sedutora a ideia de produzir uma trama naquela época.

"A gente aprendeu muito com 'Novo Mundo'. 'Nos Tempos do Imperador' é mais adulta, com menos aventuras", contou Coimbra, diretor artístico das novelas, durante uma visita deste repórter aos Estúdios Globo, em fevereiro de 2020.

Não que faltem peripécias à nova trama. Algumas são vividas por Pilar, papel de Gabriela Medvedovski, revelada pela temporada "Viva a Diferença" de "Malhação". Pilar foge do pai, um fazendeiro no interior da Bahia que a quer casar com o vilão Tonico Rocha, feito por Alexandre Nero. A caminho do Rio de Janeiro, onde pretende estudar medicina, a moça se envolve com o escravizado Jorge, papel de Michel Gomes, que também escapou de seus algozes.

Tampouco falta humor. Algumas figuras de "Nos Tempos do Imperador" já apareciam em "Novo Mundo", como os debochados taberneiros Germana e Licurgo, agora 35 anos mais velhos --o que obrigou os atores Vivianne Pasmanter e Guilherme Piva a se submeterem a sessões de maquiagem de até três horas de duração.

No entanto, o núcleo central da história é o triângulo formado por dom Pedro 2º, sua mulher, a imperatriz Teresa Cristina, e sua amante, a condessa de Barral, também preceptora das filhas do casal imperial.

O papel do imperador marca a volta de Selton Mello às novelas, depois de mais de 20 anos longe do gênero. Teresa Cristina é vivida por Letícia Sabatella, que teve aulas de prosódia para reproduzir o sotaque da imperatriz, nascida em Nápoles. E Mariana Ximenes interpreta Luísa, a condessa de Barral, com quem Pedro 2º teve um longo caso extraconjugal. Isso com a possível anuência da mulher —num dos primeiros capítulos, ela flagra o marido beijando a amante e nem reage, já conformada.

A cidade cenográfica de "Nos Tempos do Imperador" reproduz três pontos do Rio de Janeiro da segunda metade do século 19. Dois deles existem até hoje —a rua do Ouvidor e o Passeio Público, o primeiro parque urbano do país.

O terceiro, que não sobreviveu, é o mais interessante. É a chamada "Pequena África", o bairro onde viviam os negros libertos, geralmente em "zungus", casas de cômodos que abrigavam várias famílias. O nome é uma corruptela de "casa do angu", onde se preparava a comida consumida pelos escravizados.

Suspensas em março de 2020, as gravações foram retomadas no começo de novembro, de um modo muito mais lento que o habitual. "O normal são seis capítulos por semana", contou Vinícius Coimbra em julho deste ano, por videocoferência. "Começamos fazendo dois, passamos par a três, já estamos em quatro e meio. O que nos atrasa é gente que pega Covid, ou que esteve com alguém com Covid." O próprio diretor foi acometido pela doença.

A pandemia fez surgir novas dificuldades. Os atores crianças, que cresceram ao longo de um ano, tiveram de ser cortados de alguns capítulos, para que o espectador não estranhasse quando reaparecessem mais velhos. Cenas de batalha da Guerra do Paraguai, que teriam mais de uma centena de figurantes, foram resolvidas com só 60. "O resto a gente acrescentou por computação gráfica", suspira Coimbra.

No entanto, o ritmo desacelerado proporcionou um cuidado maior na confecção e no acabamento das cenas. "Vou falar que estou adorando", afirmou o diretor artístico da novela. "Você se sente num front de guerra. Vou sentir saudade de gravar usando máscara e macacão."

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