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'Poso Wells' discute silêncio da sociedade quanto a crimes contra as mulheres

Livro da equatoriana Gabriela Alemán retrata as relações entre poder e mídia em uma cidade imaginária

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Buenos Aires

Poso Wells não aparece nos mapas. Mas essa cidade imaginária, localizada no litoral, próxima à portuária Guayaquil, é uma metáfora para tratar a relação entre sociedade e poder na América Latina.

No romance da escritora equatoriana Gabriela Alemán, um político em campanha arde no palco depois de ser eletrocutado por um incêndio causado por cabos soltos misturados à sua própria urina, enquanto seu candidato à vice desaparece, aparentemente sequestrado por um grupo de pessoas cegas.

Um jornalista que acompanha o evento tenta elucidar o que aconteceu e se encontra com um segredo da cidade que perdura desde o século 19.

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A escritora equatoriana Gabriela Alemán - Diana Terán Peralvo/Divulgação

O livro de Alemán, lançado pela ParaLeLo13S​ de Salvador, terá lançamento neste sábado (21), às 17h, num bate-papo com a autora que será transmitido pelo canal de youtube da livraria Boto-Cor-de-Rosa, de Salvador.

"Eu queria que este fosse um romance por entregas, publicado em jornal, como fazia Charles Dickens, no século 19, como se faziam com histórias policiais no passado. Levei os primeiros capítulos a um importante jornal de Quito, mas me disseram que 'não' como se eu estivesse louca. Então fui para casa e terminei o livro", conta Alemán à Folha.

De fato, a história, cheia de suspense e viradas de roteiro, se prestaria bem para uma publicação como a autora desejava. "Poso Wells" mistura sátira política, ensaio e jornalismo. Foi escrito e terminado em 2007, quando uma grande transformação ocorreria no Equador com a eleição de Rafael Correa —que governou por dez anos e implementou uma agenda de centro-esquerda e populista no país.

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Capa do livro 'Poso Wells', da escritora equatoriana Gabriela Alemán - Divulgação

"Poso Wells" deu projeção internacional a Alemán, que foi então convocada para o festival Bogotá39, com os melhores narradores latino-americanos com menos de 39 anos, no mesmo ano.

"Os personagens mais caricatos da política equatoriana e latino-americana estão representados no livro, e também como o poder e a mídia se relacionam. Naquela época eu frequentava redações, estava trabalhando com jornalismo, e quis retratar um pouco como eram as relações nesse ambiente", afirma.

"Como pano de fundo, está o tema das mulheres que desaparecem na costa do Equador há décadas, vítimas de crimes sexuais. Eu esperava que, passados os anos, esses estereótipos e problemas estivessem superados. Infelizmente, o livro continua sendo muito atual", complementa.

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A morte do político em campanha é presenciada pelo jornalista Gonzalo Varas, que, ao tentar investigá-la, se dá conta de um mistério ainda mais espinhoso, o fato de que, naquele porto caribenho, mulheres desaparecem de forma misteriosa há várias gerações.

Suas tentativas de trazer a verdade à tona se deparam com dificuldades para convencer seus editores sobre a importância do fato e o silêncio da própria sociedade, que de certa forma era cúmplice de um crime perpetrado por décadas. Suas matérias sobre o caso compõem a narrativa, entrelaçando-se com a narrativa principal.

Nascida no Rio de Janeiro, Alemán viveu na Suíça, no Paraguai e nos Estados Unidos, onde fez seu doutorado na Universidade de Tulane, em Nova Orleans. "Poso Wells" foi traduzido ao inglês e obteve excelente recepção da crítica.

"Estou muito feliz de que saia agora no Brasil, porque nasci no Brasil e tenho um vínculo forte, embora tenha deixado o país muito jovem". A obra dialoga também com obras mais recentes suas, como "Humo", que se passa no Paraguai e trata da ditadura de Alfredo Stroessner.

Atualmente, está trabalhando em um romance gráfico sobre a primeira mulher a votar no Equador, uma vez que em 2021 se completam 100 anos de sua formatura. Também organiza um projeto de mapeamento sobre a literatura latino-americana a pedido da Universidade de Tulane, que pode ser consultado clicando neste link.

Poso Wells

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