Quem foi Gertrudes Altschul, fotógrafa do Bandeirantes que ganha mostra no Masp

Trabalho desenvolvido pela artista, uma das poucas mulheres a passar pelo clube, é retomado em exposição

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São Paulo

Gertrudes Altschul foi uma das poucas mulheres a passar pelo Foto Cine Clube Bandeirantes, grupo de fotógrafos que modernizou a linguagem visual no Brasil. Seu trabalho passou ao largo do grande público nas últimas décadas, isso apesar de ser reconhecida pelos seus pares já na década de 1950.

Agora, o Masp retoma a trajetória da fotógrafa que chegou ao Brasil fugida do regime nazista em "Gertrudes Altschul: Filigrana", com 64 fotos, álbuns de viagem, boletins do grupo de fotografia e folhas de prova de contato, como parte de um esforço de reposicionar o nome da artista na história da fotografia brasileira.

Altschul entra em contato com a fotografia profissionalmente nesse contexto da escola paulista que estava formando justamente nomes icônicos da foto no Brasil, como o Thomaz Farkas, explica Tomás Toledo, organizador da mostra juntamente com Adriano Pedro, diretor artístico da instituição.

"A Gertrudes segue um caminho bastante específico com um interesse pelos motivos botânicos, pelas folhas e vegetação brasileira, algo que não é muito comum você ver na fotografia moderna brasileira, que é uma fotografia muito mais interessada por cenas urbanas e por geometrizações", diz.

Gertrudes, que nasceu na Alemanha de 1904, migrou para o Brasil em 1939 com seu marido, Leon Altschul, fugindo do regime nazista como outras famílias judias. Aqui, ela manteve uma fábrica de adereços para chapéus e de flores —que aparecem nessas fotografias.

Em sobreposições do negativo, por exemplo, Altschul parece criar uma estamparia com essas folhagens, e cria padronagens diferentes com uma mesma planta.

"Ela trouxe certas particularidades que deixam o trabalho especial e bastante único. Gertrudes era muito talentosa no trabalho delicado de edição de negativos, de recortes e colagens. Isso fez com que ela conseguisse ter uma marca específica na edição de imagem, que era toda analógica na época", conta Tomás Toledo.

As folhas de prova de contato dão uma dimensão de como a edição era definitiva na obra de Altschul. Enquanto nas folhas as imagens urbanas aparecem num enquadramento amplo o suficiente para o contexto ser facilmente percebido, nas fotografias já reveladas ela fecha a imagem a ponto de se perder o referencial, causando uma certa dubiedade do que é aquela imagem.

Após anos fazendo cliques amadores em viagens de família, Altschul foi aceita no Foto Cine Clube Bandeirantes em 1952, e se juntou ao grupo de poucas mulheres que passaram por lá, como Barbara Mors, Dulce Carneiro, Menha Polacow e Nair Sgterenyi.

A exposição no Masp caminha junto a um processo iniciado pela curadora e marchad Isabel Amado de restar o nome da Gertrudes Altschul nas artes visuais. Um dos grandes passos do projeto foi o contato com a curadora do MoMA Sarah Meister, que expôs fotografias da alemã no museu de Nova York. Ela também planeja um livro com reunindo a obra da alemã.

O processo de catalogação foi feito em proximidade com o único filho de Alstchul, Ernst, que manteve as obras da mãe em ótimo estado de preservação ao longo dos anos.

Ambos fugiram da Alemanha separados e, quando se reencontraram no Brasil, não falavam a mesma língua. Ernst não dominava mais o alemão, apenas o inglês do tempo que passou em Londres. Eles voltaram a se falar quando os dois aprenderam a falar o português do Brasil.

"Ela utiliza vários suportes, que não a arquitetura, bastante comum no Foto Cine Clube Bandeirantes, que são os elementos florais e que compõem o universo pessoal dela", diz Isabel Amado. "Há flores, mas também utensílios de cozinha, como porta-gelos antigos. É uma liberdade enorme de criatividade para compor as imagens."

A exposição no Masp também mostra que Altschul dominava técnicas avançadas da fotografia, como a solarização, em que se inverte as tonalidades de preto e branco na imagem, e do fotograma, técnica que produz a imagem direto na folha de papel fotográfico, usando um feixe de luz.

"A questão de ser uma mulher está muito em voga hoje, mas não era tão falado na época. Como uma mulher de 48 anos se dedica à fotografia com o único intuito de expressão artística?", reforça Amado, sobre a importância da produção de Altschul.

É uma produção, aliás, que era reconhecida na época pelo meio especializado. A fotógrafa é citada e elogiada em boletins do Foto Clube, que fazem parte da mostra, por exemplo.

Na época, as fotografias que eram premiadas em salões nacionais e internacionais, que os membros do grupo participavam com frequência, recebiam um selo quando eram aceitas na mostra. Várias das peças de Altschul, conta Amado, colecionam vários desses selos.

Gertrudes Altschul: Filigrana

  • Quando Até 30/1/2022. Ter.: 10h às 18h. Qua. a sex.: 12h às 18h. Sáb. e dom.: 10h às 18h
  • Onde No Masp - av. Paulista, 1578, SP
  • Preço R$ 45. Entrada gratuita às terças
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