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Filmes

Tarcísio Meira fez o necessário para se firmar um gigante nas telonas

Ator, morto nesta quinta (12), devido à Covid, soube ir além de seu jeito carismático, heroico e majestoso

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Agora estamos assim –perdemos um grande ator por dia. Na quarta, Paulo José. Agora, Tarcísio Meira. Ao contrário de Paulo, que passou do cinema à televisão, Tarcísio deve sua fama de ator e galã sobretudo à TV, ainda que tenha começado mesmo no palco e, ainda jovem, chamado a atenção de Sergio Cardoso, já então uma celebridade do palco, que tinha abandonado o TBC e criado a própria companhia, junto com a atriz Nydia Licia.

Mas tudo empurrava Meira para a televisão. Ali estreou na Tupi, em 1959, onde dois anos depois encontraria a atriz Glória Menezes, com quem foi casado por quase 60 anos. Menezes, lembremos, logo estaria em Cannes, com “O Pagador de Promessas”, de 1962. Já o carisma de Meira se manifestaria plenamente nas novelas da TV Excelsior.

Chegar ao cinema, porém, era questão de tempo. A oportunidade veio em 1963, pelas mãos de Glauco Mirko Laurelli, que o dirigiu em “Casinha Pequenina”, grande sucesso de Mazzaropi.

Dali por diante, parece que bastava ter uma folga para embarcar num filme. Fez os mais diversos papéis nos mais diversos gêneros. “Máscara da Traição”, de 1969, dirigido por Roberto Pires, “Missão: Matar”, de 1972, de Alberto Pieralisi, e o “O Marginal”, de 1974, trouxeram o ainda jovem ator ao cinema policial.

Em seguida, ficou marcado pela presença na série de épicos que começou com “Quelé do Pajeú”, de 1970, de Anselmo Duarte e prosseguiu com “Independência ou Morte”, de Carlos Coimbra, em que interpretou um simpático dom Pedro 1º no filme que celebrava o Sesquicentenário da Independência, em pleno governo Médici, no coração da ditadura militar. Voltaria ao gênero em “O Caçador de Esmeraldas”, de 1979, de Oswaldo de Oliveira, tentativa frustrada de reencontrar o sucesso do filme de 1972.

O Brasil já estava em outra. E talvez o melhor signo disso seja o fato de que a imagem mais célebre de Tarcísio Meira venha de sua participação em “A Idade da Terra”, de 1980. O filme não foi propriamente um sucesso de público (nem de crítica, na verdade —apenas de posteridade). Mas o empenho com que Meira sorria e sambava, soberbo, numa espécie de eterno Carnaval brasileiro promovido no antiépico de Glauber Rocha, mostra bem a extensão do carisma de Meira e o confirma como um dos principais atores de sua geração.

O Brasil chegava a um momento em que as questões existenciais se colocavam tão agudamente quanto as políticas, porém de forma mais evidente no cinema. Em 1981, Meira estará em “Eu Te Amo”, de Arnaldo Jabor, e “Beijo no Asfalto”, um Nelson Rodrigues um tanto edulcorado por Bruno Barreto. No ano seguinte, ele se dedicou a Walter Hugo Khouri, com quem fez “Amor, Estranho Amor” e “Eu”, neste último como Marcelo, o alter ego de Khouri.

Tivesse ficado por aí, já teria feito muito, mas faltava ainda um grande equívoco, e ele veio com “Boca de Ouro”, de 1990, em que retomava o personagem de Nelson Rodrigues que, no cinema, Jece Valadão havia celebrizado em 1963, no filme de Nelson Pereira dos Santos. Dessa vez o diretor era Walter Avancini, famoso por seu trabalho em TV, mas que não se deu bem com o cinema.

Faltava, também, uma comédia exemplar. Ela viria há dez anos, com “Não Se Preocupe, Nada Vai Dar Certo”, que marcava o retorno em grande forma de Hugo Carvana à direção. Mais do que isso, Carvana falava de malandragem. E um Tarcísio Meira já maduro parece extremamente à vontade –talvez um pouco mais, feliz mesmo– na pele do vigarista Ramon Velasco, cujas aventuras passadas são motivo do show de seu filho, papel de Gregório Duvivier. Mas Ramon está disposto a mostrar que suas aventuras não são apenas passadas.

Essa bela despedida do cinema foi marcada pelo fracasso comercial, como acontece com frequência a bons filmes brasileiros, mas deixou de Meira uma última e brilhante imagem.

O ator soube ser, mais que carismático, heroico, majestoso, grave, tira, aventureiro, humilde, imponente e, por fim, cômico. Sua fama veio sobretudo da TV, mas no cinema fez tudo o que era preciso para se tornar um dos grandes nomes do cinema brasileiro nos últimos 60 anos.

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