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Val Kilmer sai da sombra de coadjuvante para virar centro de documentário

Longa que estreou no Festival de Cannes traz faceta memorialista de ator, que guardou em vídeo muito de sua vida

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Val

  • Onde Amazon Prime Video
  • Classificação 14 anos
  • Produção EUA, 2021
  • Direção Leo Scott, Ting Poo

Até agora, Val Kilmer não era exatamente um caso. Só um ator com trajetória média em Hollywood, que foi Batman uma vez, é certo, mas esmagado entre Tommy Lee Jones, Jim Carrey e Nicole Kidman. Esteve no sucesso “Top Gun”, mas à sombra de Tom Cruise. Também fez “Fogo Contra Fogo”, mas havia Pacino e De Niro à sua frente. E assim foi durante quase toda a carreira.

Com “Val” algo muda e, sim, temos um caso. A história é a de um menino milionário, filho de um bem-sucedido empresário, que desde a infância tinha uma câmera para brincar de cinema com os irmãos. Com o tempo, sem perceber, ele se descobre um memorialista –filma, grava e guarda tudo que diz respeito à sua vida.

Logo descobre a vocação de ator. Ele se muda para Nova York a fim de cursar a mitológica Juilliard e começa em seguida uma promissora carreira no teatro. Logo de cara, porém, um embaço. Ia fazer o papel principal, porém havia Kevin Bacon e Sean Penn livres. E Kilmer caiu para o terceiro papel.

Que fazer? Bem, logo Hollywood bateu à sua porta e Kilmer embarcou de volta a Los Angeles para ter uma carreira digna, sim, mas não triunfal. Era um bom ator, ninguém negava. Mas ali estão os testes que fez para trabalhar com Kubrick (“Nascido para Matar”), com Scorsese (“Os Bons Companheiros”). Nunca emplacou nesses filmes. Quando entrou num projeto de sonho, “A Ilha do Dr. Moreau”, o filme foi um tiro n’água.

Que fazer? Ganhava muito dinheiro. Foi Batman, e até hoje dá autógrafos às pilhas por conta disso. Mas tudo que se lembra é de estar numa fantasia onde seu rosto não aparecia, mal podia respirar ou mover os braços. Faltava ao jovem Kilmer alguma coisa. Ou sobrava, talvez um rosto de bebê chorão que roubasse o seu estrelato.

Até chegar a um ponto em que jogou todas as suas energias (e dinheiro), como dramaturgo e ator, para fazer o papel de sua vida, o de Mark Twain, para ele o escritor mais representativo dos Estados Unidos, de quem aprecia tanto o humor, quanto sua fonte, a amargura.

Depois de anos, começa a excursionar com a peça, a caminho, claro, da Broadway. É então que conhece outra profunda frustração —ou um pouco pior. Depois de perder a voz durante um espetáculo, descobre que tem um câncer na garganta.

Val Kilmer e Elle Fanning em cena do filme "Twixt", de Francis Ford Coppola - Divulgação

Fim de temporada. Então, Twain não era o seu grande papel, só uma grande paixão. É mais ou menos nesse ponto que vamos reencontrar o ator, se recuperando do câncer, com um dispositivo para falar —uma voz horrível, vale dizer.

Mas é aí que tem a ideia de abrir seu interminável arquivo e mostrar, de sua vida, o alegre e o triste, o melhor e o pior, os ganhos e as perdas. É sua enorme sinceridade que ajuda a entender muita coisa no funcionamento de Hollywood e, sobretudo, de sua vida.

Talvez Val Kilmer tenha chegado aí, já maduro, sem o antigo rosto de bebê chorão, ao seu grande papel. “Val” é o filme de Val Kilmer. Ele, que nunca foi apaixonante sob as diversas fantasias que usou, pôde se mostrar, enfim, inteiro, sem máscara –sua verdade estava lá. O que mais poderia querer um ator?

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