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Veja algumas dicas de filmes para assistir e passar muito medo nesta sexta-feira 13

Clássicos do terror italiano de diretores como Mario Bava e Dario Argento estão disponíveis no streaming

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São Paulo

Se há uma coisa que o cinema italiano sempre soube foi criar ou recriar gêneros populares no cinema. Do faroeste ao peplum (as produções histórico-mitológicas), sem esquecer o melodrama, souberam se adaptar ao mundo e de certa forma adaptar o mundo a seu modo de ser.

Ah, sim, e no terror também se destacaram. Dos três filmes que o streaming Belas Artes à La Carte propõe para estrear nesta sexta-feira 13, dois são italianos. O mais autêntico horror vem de “O Chicote e o Corpo”, de Mario Bava (1963). Bava foi um grande fotógrafo e as virtudes de seu filme passam, antes de tudo, pela iluminação, de que extrai tudo que pode.

Mas, nessa história de mortos-vivos, em que Christopher Lee faz o indesejado Kurt, que volta ao castelo familiar cheio de rancores, o lado perverso das personagens se mostra com clareza pouco usual. Kurt e sua amada Nevenka, papel de Daliah Lavi, entretêm uma relação sadomasoquista, mas Nevenka teve de se casar com o irmão de Christian, enquanto Kurt ficou com o papel de renegado.

A culpa permeia toda a história. Há um tanto de catolicismo nisso, um tanto de apego à ideia de família. Mas, claro, o amor entre Nevenka e Kurt romperá as barreiras da vida, no que se assemelha vagamente a “O Morro dos Ventos Uivantes”. Vence as barreiras da vida, mas eis que de alguma maneira os mortos voltam. Os mortos-vivos é que dão as tintas, num filme gótico em que tudo parece noturno, até o meio-dia é escuro.

Bava tem uma limpidez de mise-en-scène que Dario Argento nunca teve. Mas Argento, em seu primeiro filme, “O Pássaro das Plumas de Cristal”, de 1970, já traz as virtudes de colorista que marcaram seu cinema. Se Bava parece lutar para anular as cores, Argento sabe dar relevo seja ao sangue que escorre de um corpo, mesmo sobre um casaco amarelo.

Seu filme, a bem dizer, não é de terror. É um dos marcos do “giallo”, estilo de filme policial com intriga intrincada, muitos crimes e não pouco suspense. Aqui temos no centro um escritor americano, papel de Tony Musante, com passagem de volta marcada para seu país, quando testemunha um crime no interior de uma galeria de arte (bela cena, por sinal), onde uma mulher, graças a sua intervenção, escapa de ser morta.

Um pouco porque no começo é suspeito, um pouco por curiosidade, acaba ficando por lá mesmo e ajudando o comissário de polícia Enrico Maria Salerno a tentar resolver o crime. Como acontece com frequência nesse tipo de filme, a intriga é levada meio no tapa. Parece que vão escrevendo, inventando as histórias e deixando para ver no fim como tudo vai acabar. Então se inventa um jeito de concluir a história. O que ajuda muito é a fotografia de um então novato Vittorio Storaro e a música fantástica de Ennio Morricone.

Ainda assim, Argento demonstra vitalidade ao mover suas peças. Vitalidade que, em definitivo, falta à personagem de Catherine Deneuve em “Repulsa ao Sexo”, de 1965. Foi o primeiro longa de Roman Polanski fora da Polônia, e aqui estamos mais no registro do que se pode chamar de terror psicológico. Nem vampiros, nem mortos-vivos, nem nada disso.

Como bem esclarece o título, Deneuve tem horror a qualquer coisa que remeta a ela à ideia de sexualidade. Não é esse o problema: ela vive num estado de profunda catatonia, que só se acentua ao longo desse filme que envelheceu para lá de mal.

Aqui, em vez de virar uma morta-viva, Deneuve mais parece uma viva-morta. No entanto, algumas boas ideias de Polanski sobressaem –o coelho preparado pela irmã como refeição, a cabeça do coelho que aparece dentro da bolsa de Deneuve, o amigo do rapaz que a paquera, dotado de uma imbecilidade que é difícil dizer se machista ou infantil.

O conjunto proposto pelo À La Carte, com seus altos e baixos, vale sobretudo pela lembrança de que, numa sexta-feira, 13, e de agosto ainda por cima, convém mais temer os vivos que os mortos e mortos-vivos.

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