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'Arte em Meio-Tempo' entrelaça a história da arte com a do Brasil

Podcast produzido pela SP-Arte consegue passear por um século de obras brasileiras em poucos episódios

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Arte em Meio-Tempo

As críticas de Monteiro Lobato à exposição da pintora modernista Anita Malfatti, em dezembro de 1917, e os bastidores da Semana de Arte Moderna de 1922 servem de ponto de partida para o podcast “Arte em Meio-Tempo”. O projeto desenvolvido pela feira SP-Arte busca apresentar ao ouvinte alguns dos momentos mais marcantes da história da arte brasileira ao longo do século 20.

Com apresentação do jornalista e crítico de arte Felipe Molitor e da professora e pesquisadora Mirtes Marins de Oliveira, a primeira temporada do podcast conta com seis episódios que podem ser considerados verdadeiras aulas de história da arte.

Usando uma linguagem acessível para pessoas que não têm total domínio dessa área, o programa sabe equilibrar muito bem o caráter didático e as diversas referências artísticas.

A seleção de histórias apresentadas é um grande acerto. Tramas bem contadas, como a disputa entre o industrial Ciccillo Matarazzo e o empresário do ramo de comunicação Assis Chateaubriand prendem a atenção do ouvinte.

A rixa entre os dois empresários nos 1940, sob influência do magnata americano Nelson Rockefeller e do Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMA, resultou na criação de dois dos principais museus do país, o Museu de Arte de São Paulo, o Masp, e o Museu de Arte Moderna de São Paulo, o MAM.

Além dos amantes da arte, o projeto também pode agradar àqueles que se interessam pela história do Brasil. Há um episódio dedicado à ditadura militar e nos impactos da censura para o cenário artístico e cultural do país. Com o aumento da repressão, materializada no AI-5, artistas de diversos países se recusaram a participar da 10ª Bienal de São Paulo em 1969, até hoje conhecida como a Bienal do Boicote.

Grande parte do público pode se identificar com as histórias do grupo de artistas que cresceu no contexto do regime militar e que, com o recuo da censura, pôde experimentar novas formas de arte e consumir conteúdos antes proibidos pelo governo. A Geração 80, como ficou conhecida, buscava se desvencilhar das amarras do passado e trazer atenção maior ao momento presente.

Apesar de dar grande destaque para o cenário paulistano, o podcast também faz referência a acontecimentos importantes ambientados em outras cidades, como Salvador, Belo Horizonte e Rio de Janeiro.

Destroços do prédio do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro depois do incêndio, ocorrido em 8 de julho de 1978 - Folhapress

A história do incêndio que atingiu o Museu de Arte Moderna carioca em 1978 e destruiu obras de artistas como Picasso e Salvador Dalí permite aos apresentadores fazer uma comparação com outra tragédia mais recente marcada pelo descaso com o patrimônio histórico e artístico, desta vez no Museu Nacional, também no Rio, em 2018.

Outro grande acerto de “Arte em Meio-Tempo” é o amplo leque de referências apresentado ao ouvinte. Aqueles já inseridos no ambiente da história da arte certamente pensarão em outros artistas importantes e poderão construir pontes entre os nomes lembrados no podcast e suas referências pessoais.

Para quem ainda não está tão habituado com esse contexto, o programa pode ser um bom começo para conhecer importantes nomes da arte brasileira, como Hélio Oiticica, Cildo Meireles, Teresinha Soares e Letícia Parente.

Os roteiros, muito bem construídos, fazem com que o podcast seja rico em conteúdo e com bom andamento. No entanto, as locuções parecem um pouco engessadas e menos descontraídas do que pede a proposta de conversa apresentada pelo podcast. O programa poderia ser mais dinâmico se outras vozes fossem inseridas no bate papo, trazendo um tom de pessoalidade e descontração para as narrativas e aproximando o ouvinte das histórias contadas.

O tom professoral adotado por Molitor e Marins de Oliveira tende a diminuir o aspecto de conversa e passar a impressão de que o ouvinte está de volta à escola. Mas, sem dúvidas, vale a pena conferir essa aula em formato de podcast.

Em seis episódios, a dupla consegue passear por quase um século de acontecimentos marcantes na arte brasileira, contando boas histórias e trazendo uma boa bagagem de conhecimento e muitas referências para os apaixonados pela arte nacional.

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