No Festival de Veneza, cineasta afegã lamenta 'país sem artistas' em depoimento

'As figuras mais brilhantes do Afeganistão partiram", disse Sahraa Karimi sobre tomada do poder pelo Talibã

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Veneza | AFP

Com um depoimento comovente, duas jovens cineastas afegãs imploraram solidariedade, neste sábado (4), no Festival de Veneza, ao abordar a dramática situação cultural no Afeganistão, após a tomada do poder pelo Talibã, que poderá, literalmente, deixar o país sem artistas.

"Em apenas duas semanas, as figuras mais brilhantes do país partiram", disse Sahraa Karimi, de 38 anos, a primeira mulher a chefiar a Organização de Cinema do Afeganistão.

A diretora afegã Sahraa Karimi no Festival de Veneza de 2021
A diretora afegã Sahraa Karimi no Festival de Veneza de 2021 - MONTEFORTE / AFP

"Imagine, um país sem artistas", lamentou a cineasta diante de um grupo de jornalistas e cineastas, entre eles o diretor do festival, Alberto Barbera.

"Os talibãs estão destruindo os instrumentos de música, os estudantes se escondem. Por favor, sejam nossas vozes e falem da nossa situação", pediu, por sua vez, a cineasta Sahra Mani, diretora do documentário "A Thousand Girls Like Me", de 2018, sobre uma mulher violentada pelo pai durante anos.

Karimi descreveu uma imagem sombria. "Tudo parou no espaço de algumas horas. Os arquivos estão sob o controle do Talibã. O trabalho dos diretores desapareceu", relatou ela.

"Pela primeira vez na história do cinema afegão, um filme foi convidado para o festival francês de Cannes. Estávamos planejando adaptar 11 curtas-metragens sobre histórias afegãs. Estávamos preparando a segunda edição do prêmio nacional de cinema", afirmou.

As cineastas afegãs Sahraa Karimi e Sarah Mani no Festival de Veneza
As cineastas afegãs Sahraa Karimi e Sarah Mani no Festival de Veneza - AFP

A cineasta disse que, em 15 de agosto, teve de abandonar seus projetos e deixar seu país para trás em poucas horas. "Foi a decisão mais difícil da minha vida –ficar ou sair do meu país", confessou. "Não temos mais casa, não temos país. A arte é proibida. Minha geração não quer isso", afirmou Karimi, lançando um pedido de ajuda à comunidade internacional.

"Pedimos ajuda! Precisamos de esperança. Aqueles que ficaram no Afeganistão apagaram suas contas nas redes sociais", completou.

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