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Cinema

Filme sobre cães abandonados pode incomodar pela dureza

Documentário 'Vida de Cão' acompanha a rotina de três cachorros nas ruas de Istambul

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São Paulo

VIDA DE CÃO

  • Onde Claro Now, Vivo Play, Sky Play, Google Play e YouTube Filmes
  • Produção EUA, 2021
  • Direção Elizabeth Lo

Repleta de história e belas paisagens, Istambul também é cidade de animais abandonados. Seus gatos já foram representados em estátua e filme. Mas, agora, o dia a dia –um tanto duro e solitário– é retratado pelos olhos de cachorros de rua.

O documentário "Vida de Cão" chegou ao streaming brasileiro neste mês e acompanha a jornada de três carismáticos vira-latas em busca de abrigo e alimentos. Zeytin, Nazar e Kartal mostram sua rotina ao atravessar uma via, brincar, descansar na porta de um comércio, revirar o lixo ou ao observar uma gaivota. Câmeras posicionadas na altura dos animais fazem o espectador imergir em aventuras solitárias e em interações com pessoas e outros bichos.

Mas, diferentemente de muitos filmes com pets, esses cães não falam como humanos –ao contrário, são muitas as cenas silenciosas. Também não há situações fofinhas, embora ver um cão correndo sempre faça sorrir. A emoção fica por conta da graciosidade genuína dos cachorros e da realidade enfrentada por eles para sobreviver.

O abandono não é exclusividade da Turquia, mas um problema pelo mundo. A diretora Elizabeth Lo, no entanto, considera a história e o relacionamento do país com os cães algo único. Se agora vira-latas podem vagar sob a promessa de que não serão capturados e sacrificados, em outros tempos foram alvo de perseguição. Em 1910, acabaram recolhidos das ruas de Istambul e levados para morrer em uma ilha no mar de Mármara. De acordo com relatos, o extermínio atingiu cerca de 80 mil cães, que ficaram isolados sem água ou comida, e seus uivos eram levados com o vento até o continente.

Os animais de rua se incorporam à cidade, transitam por todos os cantos e fazem amizade com quem se aproxima. Recebem elogios e carinhos, mas há quem tenha receio, desvie ou tente evitar contato de seu pet com um vira-lata em uma caminhada. Cães abandonados, no entanto, acabam quase que invisíveis e mantêm seu trajeto como ouvintes, entre pessoas que conversam sobre relacionamentos ou política.

A resistência nas ruas depende de alimento, que pode ser motivo de disputa com outros animais ou oferecida em um ato de solidariedade por humanos sensibilizados com a fome.

“Lembro quando eu fui a Istambul e vi a maneira como os cães estavam vivendo, pareceu que eles eram cuidados comunalmente e que podiam ter amizades transitórias com todas as pessoas ao seu redor, fiquei realmente maravilhada com aquilo”, disse a diretora em reportagem publicada pela agência Reuters no começo deste ano.

O elo entre cães e humanos é demonstrado a partir da relação de companheirismo e carinho de um grupo de jovens sírios que migraram para fugir da guerra e cuidam dos animais como podem. Também sem casa ou comida garantida, os garotos sempre dão um jeito de proteger e alimentar os cães, enquanto recorrem a um cigarro ou cheiram cola para enganar o estômago.

Filmado de 2017 a 2019, o longa deve conquistar apaixonados por cães e aqueles que simpatizam com a causa animal. Mas pode soar monótono e incomodar pela dureza da vida real.

Embora não discuta claramente guarda responsável, questões de saúde ou políticas para o controle de animais abandonados, o filme permite que o público reflita sobre essas questões ao mostrar a saga diária de seus personagens. Tudo sob o olhar sereno –que por vezes parece triste– e atento dos vira-latas, com alguns rosnados e latidos.

Com 72 minutos, o documentário é dirigido por Elizabeth Lo —de "Hotel 22"—, produzido em parceria com Shane Boris —produtor de "Democracia em Vertigem"— e distribuído pela Synapse Distribution.

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