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Livro narra trajetória de Lu Xun, chinês que lutou contra o imperialismo

'Flores Matinais Colhidas ao Entardecer' resgata lembranças da infância do pai da literatura de seu país

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Flores Matinais Colhidas ao Amanhecer

  • Preço R$ 50 (240 págs.)
  • Autor Lu Xun
  • Editora Unicamp
  • Tradução Yu Pin Fang

Nascido em 1881, em Shaoxing, na China, o escritor Lu Xun é considerado o fundador da literatura moderna chinesa. Autor de prosa de ficção, poesia e ensaios, somente agora Lu Xun ganha uma tradução no Brasil.

Embora o título seja poético, em “Flores Matinais Colhidas ao Entardecer” é possível perceber um tom irônico e muitas vezes pessimista. Escrito em 1926, dez anos antes de sua morte, o livro reúne textos de memória, especialmente da infância e dos tempos de estudante do autor.

A obra, publicada pela editora da Universidade Estadual de Campinas com apoio do Instituto Confúcio, tem edição bilíngue, o que possibilita o cotejamento do texto por estudiosos da língua chinesa. A tradução, de Yu Pin Fang, resulta num trabalho minucioso que dá conta de expressar o sarcasmo predominante no livro, embora o conjunto dos textos também tenha passagens mais afetivas.

Mesmo sendo um livro de reminiscências, há composições que lembram contos e até mesmo fábulas, como no texto “Cachorros, Gatos e Ratos”, em que os animais servem como metáforas. Ao se posicionar contra os gatos, na verdade o autor assume a postura de proteção dos mais vulneráveis, os ratos do texto.

O escritor viveu a maior parte da vida sob uma China imperial. A república foi instaurada apenas em 1912, após a revolução do ano anterior, com a queda da dinastia Qing. É neste contexto que ocorre sua formação, com estudo dos livros canônicos da tradição chinesa.

Diversos desses livros são citados por Lu Xun na obra. Um dos principais é o “Livro Ilustrado de Vinte e Quatro Contos de Piedade Filial”. “Embora fosse um pequeno volume, fiquei imensamente encantado por ele, porque todos os textos eram acompanhados de imagens na parte inferior das páginas. Nele, também eram poucos os fantasmas e abundantes as pessoas, além de ser um livro de minha propriedade particular”, escreveu Lu Xun.

A ideia da obediência aos mais velhos, e de certa maneira às autoridades, deixou marcas culturais na China. Enquanto intelectual, Lu Xun atuou para levar ideias mais modernas ao seu país. Não por acaso, cita em “Flores Matinais Colhidas ao Entardecer” autores como o biólogo britânico Thomas Henry Huxley, divulgador do darwinismo, por exemplo

Retrato de mongs budistas da seita Obaku, do século 17
Retrato de monges budistas da seita Obaku, do século 17 - Autor desconhecido

Ainda entre os clássicos chineses de sua formação, ele relembra o “Clássico das Montanhas e dos Mares", escrito na época dos Estados Combatentes, com lendas e mitos antigos, num dos textos mais belos da obra.

Lu Xun recorda que, apesar de pedir aos familiares um exemplar da obra, foi a criada da casa que prestou atenção em seu desejo e deu a ele de presente. “Peguei o pacote imediatamente, abri o embrulho de papel e vi que eram quatro pequenos volumes. Folheei rapidamente e, de fato, a besta de rosto humano, a serpente de nove cabeças e as outras criaturas estavam todas gravadas naqueles livros”, escreveu.

Para além das tradições chinesas, o autor foi leitor de Friedrich Nietzsche e John Stuart Mill. Estudou medicina no Japão, mas decidiu abandonar o curso e voltou à China.

Lu Xun foi ainda uma das principais vozes do movimento Quatro de Maio, de caráter anti-imperialista. Como afirma o pesquisador Bruno Motta, autor de diversos trabalhos sobre Lu Xun, “diferentes grupos políticos utilizaram seu nome para legitimar atos ao longo da história”.

Na Revolução Cultural, que ocorreu entre 1966 e 1976, por exemplo, ele foi evocado tanto por revolucionários contra o governo como evocado contra a própria revolução posteriormente. Tal trânsito entre diferentes campos mostra a importância cultural e literária de Lu Xun, que agora está ao alcance dos leitores brasileiros.

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