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Cinema

'Cabeça de Nêgo' mostra força do cinema negro para jovens no Brasil

Filme cearense que fala de racismo, descaso com educação e autoritarismo é definitivamente um filme para o seu tempo

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Cabeça de Nêgo

  • Quando Estreia nesta quinta (21) nos cinemas
  • Elenco Lucas Limeira, Nicoly Mota, Jenniffer Joingley e Jéssica Ellen
  • Produção Brasil, 2020
  • Direção Déo Cardoso

A estreia de “Cabeça de Nêgo”, de Déo Cardoso, nos cinemas agora é uma boa notícia em vários sentidos. Mostra o vigor da produção cearense, com um elenco praticamente desconhecido do público do Sudeste. E, principalmente, expõe a potência e a sensibilidade de um cinema feito por um diretor negro, com atores, em sua maioria, negros.

Os últimos anos viram uma evolução na representação negra nas produções brasileiras para o cinema. Depois de diretores pioneiros, como Adélia Sampaio, Odilon Lopez e Zózimo Bulbul, vieram nomes como Jefferson De e Joel Zito de Araújo. Mais recentemente, surgiram cineastas com novos olhares sobre a temática, caso de André Novais Oliveira, Camila de Moraes, Sabrina Fidalgo e alguns outros.

O avanço pode ser constatado não só pelo número crescente de diretores negros que conseguiram viabilizar seus projetos, mas porque não falta talento a eles. Mesmo assim, é preciso reconhecer que ainda são pouquíssimos diante de tantas histórias a serem contadas.

“Cabeça de Nêgo” aposta numa frente pouco explorada no Brasil, o cinema negro direcionado principalmente ao público jovem. Aluno do ensino médio de uma escola pública de Fortaleza, Saulo, papel de Lucas Limeira, se enfurece quando um colega o chama de “macaco” durante a aula. O professor, que não havia testemunhado o insulto racista, só a reação, decide expulsar Saulo, mas o rapaz se nega a sair da sala.

O protesto vai além. A noite chega, e Saulo não arreda o pé —só ficam no colégio ele e o segurança. Além da ofensa, Saulo está contrariado com as condições precárias da escola e aproveita os ambientes vazios para registrar os problemas com seu celular. Grava, por exemplo, os ratos e os alimentos estragados na cozinha. As imagens viralizam e insuflam uma rebelião de estudantes.

Ele também aproveita os momentos de solidão para ler sobre os Panteras Negras. Em meio à leitura, belas projeções na parede lembram símbolos do movimento negro –brasileiros, como Abdias do Nascimento, Lélia Gonzalez e Marielle Franco, e americanos, como Angela Davis e Malcolm X.

Algumas fragilidades de “Cabeça de Nêgo” saltam à vista, como uma construção um tanto caricatural dos professores.

São, no entanto, pontos secundários. Saulo é um protagonista improvável, longe do padrão do jovem eloquente e sedutor. Nele, a indignação é, por um lado, refreada pela timidez e, por outro, impulsionada pelo entusiasmo com o conhecimento. Sob a direção eficiente de Cardoso, o ator Lucas Limeira lida bem com essas contradições.

No mais, há uma vivacidade permanente de todo o elenco, uma qualidade determinante para a sensação de que tudo está prestes a explodir. Outro trunfo é a direção de arte, que dá ao colégio em decadência um aspecto de presídio.

Por fim, poucos temas são tão pertinentes para reflexão em arte nos dias que correm, como racismo, descaso com educação e autoritarismo. “Cabeça de Nêgo” é definitivamente um filme para o seu tempo.

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