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Televisão

Gilberto Braga não teve igual e foi o maior autor de novelas da TV Globo

Quem não se lembra de personagens como Julia Matos, Maria de Fátima e Odete Roitman?

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Mauricio Stycer

Gilberto Braga foi possivelmente o autor de novelas mais importante da história da Globo. Mais até que sua mestra Janete Clair, a rainha do melodrama. Quem diz isso não sou eu, mas colegas seus, como Lauro Cesar Muniz, por exemplo.

Pelos temas que abordou, pela comunicação que alcançou com o público, pela forma como retratou a classe média e a elite cariocas, pela série de sucessos que emplacou, Gilberto não tem rival no lugar mais alto da dramaturgia da emissora.

Você cita alguns títulos de trabalhos que produziu e nem precisa explicar do que tratam ou da importância que tiveram. Estão fixados na memória ou na imaginação, seja pelos tipos que imaginou, pelos diálogos que escreveu ou pelas cenas antológicas e impactantes que criou.

Quem não se lembra de personagens como Julia Matos, papel de Sonia Braga, Maria de Fátima, vivida por Glória Pires, Odete Roitman, papel de Beatriz Segall, Lurdinha, Maria Lucia e Maria Clara, as três interpretadas por Malu Mader, a cachorra Laura e Heloisa, ambas vividas por Claudia Abreu, João Alfredo, papel de Cassio Gabus Mendes, do Felipe Barreto de Antônio Fagundes?

O autor Gilberto Braga em 2015
O autor Gilberto Braga em 2015 - Leo Martins / Agência O Globo

Mais que isso, olhando rapidamente a lista abaixo, impressiona a quantidade de trabalhos seus que foram ao ar em sintonia com o tempo, algo difícil de alcançar.

"Escrava Isaura", obra de 1976, de que não gostava, "Dona Xepa", de 1977, "Dancin´Days", de 1978, "Vale Tudo", de 1988, "O Dono do Mundo", de 1991, uma de suas raras novelas incompreendidas, "Celebridade", de 2003, para não falar das minisséries "Anos Dourados", de 1986, "O Primo Basílio", de 1988 e "Anos Rebeldes", de 1992. Há traços dos últimos 40 anos de Brasil nas novelas de Gilberto. Não é pouca coisa.

Apesar da fama de escrever melhor personagens femininas (a lista é enorme), Gilberto tem também uma galeria de tipos masculinos importantes. E, apesar de ter ficado famoso como um autor que descrevia os ricos com raro talento, Gilberto nasceu e foi criado num ambiente de classe média.

Nos últimos anos, abalado por diferentes problemas de saúde, enfrentou a rejeição do público a uma novela sua, "Babilônia", de 2015, e não conseguiu emplacar mais nenhum novo trabalho na Globo. Deixa projetos e pelo menos uma novela inteiramente escrita na gaveta da emissora.

Gilberto era casado com Edgar Moura Brasil, decorador e seu companheiro por quase 50 anos. Nunca escondeu isso. Ao contrário, era um casal que aparecia em eventos públicos, era citado em colunas sociais e dava festas.

Em mais de uma novela, tentou representar personagens gays com a mesma naturalidade, mas enfrentou rejeição da censura, da Globo e do público.

É lamentável que "Babilônia" tenha produzido rejeição justamente por causa de uma cena ousada, que Gilberto nem pretendia que fosse tão ousada assim. Escreveu um selinho, mas rolou um beijão na boca, no primeiro capítulo, de duas senhoras vividas por Fernanda Montenegro e Natalia Thimberg.

É triste que esteja saindo de cena sem poder ver os trabalhos recentes que foram engavetados pela mesma emissora que hoje aposta em tantas bobagens ou histórias de mau gosto.​

Em uma de suas últimas aparições públicas, há pouco mais de uma semana, participou de uma reunião por videoconferência com mais de 200 autores e roteiristas da Globo. Foi uma recepção à nova diretora de criação, Samantha Almeida. Segundo vários relatos, Gilberto disse palavras gentis a vários dos presentes.

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