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Gregorio Duvivier leva sexo e flertes nos tempos de Tinder e Grindr a livro de poemas

'Sonetos de Amor e Sacanagem' versa sobre xaveco a distância, troca de nudes, 'matches' e 'likes'

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Ribeirão Preto

Camões já teve sua vez, Vinicius de Moraes também. Agora, chegou a de Gregorio Duvivier lançar seus "Sonetos de Amor e Sacanagem", uma reunião dos poemas que vem escrevendo ao longo da última década sobre amor e sexo em tempos de Tinder, Happn, Grindr ou qualquer que seja o aplicativo de relacionamento da vez.

Versos como "o amor é fogo que arde sem se ver" e "de tudo, ao meu amor serei atento" estão entre os mais memoráveis da poesia escrita em língua portuguesa. Parece, afinal, não haver forma melhor do que o soneto para escrever sobre paixão.

Quatro estrofes, dois quartetos seguidos de dois tercetos. Catorze versos, cada um com dez sílabas poéticas —aquelas que se contam a partir da sonoridade das palavras. É uma estrutura que, desde que foi aperfeiçoada por Petrarca no século 14, não para de inspirar poetas.

"Encaixar o que tenho a dizer num soneto é como jogar Sudoku, mas também é libertador, porque me obriga a encontrar saídas criativas. A poesia sempre corre o sério risco de cair na mesmice. O desafio é soar original, o que se torna ainda mais difícil ao escrever sobre amor, por ser o tema preferido dos poetas desde sempre", diz o ator e humorista, que é também colunista deste jornal.

Sua originalidade talvez venha mesmo da forma. Após ter ensaiado escrever sonetos noutras publicações, ele agora se insere de vez na tradição, ao mesmo tempo que rompe com o cânone usando a comicidade que atravessa toda sua carreira, seja no grupo Porta dos Fundos, que ajudou a criar, seja no "Greg News", seu programa na HBO.

Apesar do título, "Sonetos de Amor e Sacanagem" também versa sobre política, paternidade, pandemia e até suicídio. Seu forte, no entanto, são os poemas sobre flertes a distância, a troca de nudes e os aplicativos de relacionamento, um universo no qual Duvivier diz nunca ter mergulhado, mas que certamente faz parte da vida de muitos de seus leitores.

"Os algoritmos viraram o novo cupido, e a poesia também tem que falar disso. Não sou purista. Os aplicativos têm muitos benefícios, principalmente para quem é tímido. Mas também são assustadores, porque as pessoas se tornam dependentes do ‘like’. Elas querem mais ganhar o ‘match’ do que encontrar quem deu o ‘match’. É mais uma forma de desencontro do que de encontro", diz.

Vejamos se não é uma pensata que, formatada em soneto, soa mais atrativa. "Há quem goste mais de homem, de mulher/ de animal, de cadáver, de apanhar,/ e há quem goste, como esse meu affair,// de manter relação com avatar./ Só me resta pensar: 'fiz o que pude'./ Torcer pra, ao menos, receber um nude", diz o "Soneto do Amor Virtual".

"Repare nas pessoas conversando:/ não é um bate-papo, é uma luta. Todos querem pra si o olhar do bando./ Ninguém se entende nem sequer se escuta", Duvivier escreve no "Soneto Fático". "Falar só serve pra fazer barulho./ Esse poema, mesmo, é um entulho./ Nada muda –mas ao menos rima."

Carregados de autodepreciação e irreverência, os poemas não se propõem a serem levados muito a sério, nem quando atravessam assuntos densos, mas menos ainda quando se dedicam ao álcool, à maconha, aos peidos ou ao mau-cheiro das genitálias.

"Mahatma se amarrava numa glande,/ Leonardo pra mais de 20 dava./ Thomas Mann desmamou depois de grande./ Não descartes um pau, René pensava", diz o "Soneto da Quinta Série". "Há quem diga: só falas de cacete?/ Se quiseres falamos sobre Goethe,/ que, aliás, adorava uma piroca."

Sonetos de Amor e Sacanagem

  • Quando Lançamento em 29/10/2021
  • Preço R$ 39,90 (112 págs.) e R$ 27,90 ebook
  • Autoria Gregório Duvivier
  • Editora Companhia das Letras
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