'O Homem Urso', de Werner Herzog, expõe contradições entre diretor e protagonista

Clássico do cineasta alemão está disponível para aluguel no Amazon Prime e no YouTube

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Renato Terra

Roteirista do Conversa com Bial e diretor dos documentários 'Narciso em Férias', 'Eu Sou Carlos Imperial' e 'Uma Noite em 67'. Trabalhou na revista piauí até 2016 e foi o ghost-writer do 'Diário da Dilma'

O Homem Urso

  • Onde Amazon Prime Video e YouTube
  • Produção EUA, 2005
  • Direção Werner Herzog

Numa entrevista sobre “O Homem Urso”, o diretor Werner Herzog defendeu seu estilo: “Há pessoas que dizem que o documentarista deve ser discreto como uma mosca na parede. Errado. Isso é o que as câmeras de segurança fazem. Você tem que interferir, tem que arregaçar as mangas. Em vez de uma mosca na parede, eu prefiro ser uma vespa que é capaz de voar e picar”.

Parte do encanto de “O Homem Urso” é causado pela maneira como Herzog se contrapõe à visão de mundo de seu personagem principal.

O Homem-Urso é Timothy Treadwell, um ambientalista americano que viveu longos períodos do ano entre ursos selvagens no estado americano do Alasca. Durante 13 verões, Treadwell fincava uma barraca e levava uma câmera para filmar os animais de perto. Batizou alguns deles. Tocava seus focinhos. Fazia declarações de amor. Gravou mais de cem horas de material. Mais do que acompanhar a vida dos ursos, Treadwell queria viver (ou morrer) entre eles.

Foi nessa linha tênue que Treadwell encontrou sentido para sua vida. Havia fracassado como ator e caiu num tortuoso mundo de heroína e bebida antes de se pôr numa posição de defensor e confidente dos ursos selvagens do Alasca. Uma personalidade complexa e hipnotizante.

As cenas gravadas por Treadwell mostram sua fragilidade diante daqueles ferozes predadores. Mas há também muitos momentos íntimos de desabafo de um homem frágil isolado numa reserva florestal no Alasca.

Além de escolher as cenas, editar e inserir trilhas sonoras, o diretor Werner Herzog narra boa parte do filme. Muitas vezes o olhar do diretor percorre caminhos diferentes do olhar de seu personagem principal.

Herzog vê beleza nos tempos mortos do material filmado. Nos entreatos. Nas pausas. Nas hesitações. E enquanto Treadwell via beleza na vida selvagem, Herzog se opunha com uma visão cética. “O que me assombra em todas as faces de todos os ursos que Treadwell filmou é que não noto familiaridade, compreensão, piedade. Vejo somente a esmagadora indiferença da natureza”, narra Herzog sobre um demorado close nos olhos de um urso feito por Treadwell.

“O Homem Urso” é, portanto, um documentário importante não só por trazer um personagem fascinante. Ou pela forma como Herzog se põe no filme. Mas também pelas escolhas éticas, estéticas e filosóficas do diretor que se põe como antagonista de seu personagem. Herzog faz um belo filme a partir do material filmado com outras intenções por um apaixonado ambientalista. Contradições não faltam em “O Homem Urso”.

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