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Russos enviados ao espaço para rodar primeiro filme em órbita voltam à Terra

Dupla decolou há 12 dias para rodar longa-metragem a bordo da Estação Espacial Internacional

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Maxime Popov
Moscou | AFP

Uma atriz e um diretor de cinema russos que passaram 12 dias a bordo da Estação Espacial Internacional, a ISS, para gravar o primeiro filme de ficção no espaço voltaram à Terra na manhã deste domingo (17).

A nave espacial Soyuz MS-18, que transportou a atriz Yulia Peresild, 37, e o diretor Klim Shipenko, 38, junto ao cosmonauta Oleg Novitski, pousou no Cazaquistão à 1h36, no horário de Brasília, segundo as imagens transmitidas pela agência espacial russa Roscosmos.

Ao sair da nave, Shipenko pareceu cansado mas, sorridente, cumprimentou as câmeras e as pessoas presentes, antes de ser levado para uma revisão médica. Yulia Peresild, a atriz que interpreta o papel principal no filme e que foi escolhida entre 3.000 candidatas, foi retirada do aparelho entre aplausos, antes de receber um buquê de flores.

A atriz disse estar "triste" por ter deixado a estação espacial. "Parecia que 12 dias seriam muito, mas quando acabou, eu não queria ir embora", disse à televisão russa. "É uma experiência única." O cosmonauta Novitski, que foi o primeiro a sair da nave, foi cumprimentado pelo chefe da Roscosmos, Dmitri Rogozin, a quem disse: "Está tudo bem!".

O cineasta Klim Shipenko chega em território russo, saindo da cápsula espacial Soyuz MS-18, depois de passar dias no espaço - Agência Espacial Russa Roscosmos/AFP

Os cineastas russos partiram para a ISS em 5 de outubro da base espacial russa de Baikonur, no Cazaquistão, acompanhados pelo cosmonauta Anton Shkaplerov. Rogozin publicou antes fotos de sua equipe quando se dirigia ao local da aterrissagem a bordo de dez helicópteros. "É um trabalho colossal. Estamos felizes que a tripulação se sinta bem, é reconfortante. A nave não caiu de lado, o que é melhor para a retirada", disse Rogozin.

Com o título provisório de "O Desafio", o filme conseguiu ultrapassar um projeto similar dos Estados Unidos, estrelado por Tom Cruise e que deve ser dirigido por Doug Liman, que já fez "No Limite do Amanhã" com o ator. O filme russo mostrará uma cirurgiã a bordo da ISS que deve salvar um astronauta.

Além de Shkaplerov, outros dois cosmonautas também aparecem como figurantes. Este projeto relembra, em certa medida, a rivalidade espacial entre a União Soviética e os Estados Unidos, 60 anos depois que o russo Iuri Gagárin se tornou o primeiro humano a chegar ao espaço.

A agência russa Roscosmos revelou esse projeto no ano passado, após o anúncio da gravação do filme com Cruise, impulsionado em colaboração com a Nasa e a empresa SpaceX, de Elon Musk.

A viagem dos cineastas russos para a ISS não ocorreu sem incidentes. Shkaplerov teve que acoplar manualmente a nave no laboratório espacial. Enquanto os controladores russos faziam testes na sexta-feira na cápsula Soyuz MS-18 que deveria trazê-los de volta à Terra neste fim de semana, os motores se ativaram de repente, o que mudou a posição da ISS, sem que isso representasse algum perigo.

Shipenko começou a gravar antes da chegada à ISS. O início de sua gravação ocorreu durante o acoplamento, no qual a atriz ajudou Shkaplerov. Sua volta à Terra foi gravada por uma equipe de câmeras e também aparecerá no filme, explicou à AFP Konstantin Ernst, proprietário da produtora russa Pervy Kanal, que coproduz o filme.

Este projeto prosperou em um momento de euforia espacial de setores não científicos, com a multiplicação nos últimos meses das viagens de lazer ao espaço, como as realizadas pelos bilionários americanos Richard Branson e Jeff Bezos.

O setor espacial russo, que foi a joia da coroa da União Soviética ao enviar o primeiro homem e a primeira mulher ao espaço, foi abalado nos últimos anos por escândalos de corrupção e falhas técnicas, além de perder o monopólio das viagens com astronautas para a ISS. A Roscosmos espera que este filme sirva para melhorar sua imagem.

Mesmo que as missões espaciais costumem gerar imagens, desde os primeiros passos do homem na Lua, em 1969, até as publicações nas redes sociais do astronauta francês Thomas Pesquet, nunca antes um filme de ficção foi gravado no espaço. Além deste longa-metragem, a Roscosmos também planeja levar um bilionário japonês para a ISS e, desse modo, participar do negócio do turismo espacial.

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