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Flip 2021: como será a festa e quais são os principais autores e livros da edição

Festa literária tem nove dias de programação online a partir de 27 de novembro; conheça os destaques

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uma pintura com tons de rosa, laranja e amarelo de flores e plantas e alguns panos brancos

Pintura de inspirações botânicas da artista plástica Mariana Palma Divulgação

São Paulo

Um dos principais eventos literários do ano, a Festa Literária Internacional de Paraty começa neste sábado, 27, sua segunda edição virtual consecutiva, por força das restrições sanitárias da pandemia.

Pela primeira vez na história, a organização da Flip elegeu um tema geral para a festa em vez de um autor homenageado. A programação toda girará em torno da relação da literatura com as plantas e a floresta.

"Na pandemia, a humanidade reduziu sua mobilidade e experimentou temporalidade menos frenética, que são características mais associadas ao reino vegetal", diz o manifesto divulgado pelo evento. "Chegou a hora de pensar e aprender com as plantas."

Também é inédita a curadoria feita por cinco intelectuais de diversas áreas, quando a Flip tradicionalmente convidava uma pessoa para ocupar a posição.

A autodenominada "floresta curatorial" é composta pelo antropólogo Hermano Vianna, colunista deste jornal; a educadora e editora Anna Dantes, o escritor Evando Nascimento, doutor em filosofia; o antropólogo João Paulo Lima Barreto, do povo tukano, do Alto Rio Negro; e o professor de literatura Pedro Meira Monteiro, da Universidade Princeton.

Em entrevista a este jornal, os curadores afirmaram que a Flip deste ano é uma plataforma para lançar uma ideia, assumindo a vanguarda no debate sobre a virada vegetal, que propõe dar centralidade à visão das plantas.

As dezenas de autores convidados passam todos, de alguma forma, por essa discussão. Houve um esforço ainda de misturar diferentes áreas em cada mesa, pondo a ciência para conversar com a literatura, a poesia com a ficção, a música com a filosofia.

As 19 mesas da programação, que se estendem por nove dias seguidos até 5 de dezembro, poderão ser vistas gratuitamente pelo canal do YouTube da Flip.

Acompanhe a seguir a programação dia a dia, com a listagem dos principais autores e livros desta edição, assim como todas as reportagens e resenhas que este jornal publicou recentemente sobre eles.

Sábado, 27 de novembro

16h - Mesa 1 - Nhé-éry Jerá
A abertura da programação trará o líder indígena Carlos Papá e a educadora Cristine Takuá conduzindo uma cerimônia guarani. A festa traz ao centro o conceito de "Nhe’éry", termo que literalmente significa "onde as almas se banham" e é usado pelo povo guarani para designar a mata atlântica, bioma em meio ao qual está a cidade de Paraty.

18h - Mesa 2 - Literatura e plantas
O botânico italiano Stefano Mancuso, que publicou "A Planta do Mundo" e "A Revolução das Plantas" pela editora Ubu, conversa com Evando Nascimento, um dos curadores do evento, que é pioneiro na pesquisa sobre literatura pelo viés das plantas e acaba de lançar pela Record "O Pensamento Vegetal".

Domingo, 28 de novembro

16h - Mesa 3 - Naturalismo e violência
Micheliny Verunschk, poeta e romancista elogiada por "O Som do Rugido da Onça", publicado este ano pela Companhia das Letras, conversa com o franco-senegalês David Diop, autor que venceu o prêmio International Booker por "Irmão de Alma", que saiu no Brasil pela editora Nós. A casa publica em breve também seu ensaio "A Porta da Viagem sem Retorno".

Os dois autores pautam a violência colonial. Enquanto a pernambucana fala sobre o desterramento de crianças indígenas brasileiras, Diop fala da participação de soldados da costa ocidental africana na Primeira Guerra Mundial.

18h - Mesa 4 - Folhas e verbos
Edimilson de Almeida Pereira, que venceu esta semana o prêmio São Paulo de literatura pelo romance "Front", da editora Nós, conversa com a francesa Véronique Tadjo, autora de origem marfinense.

Seu livro "Na Companhia dos Homens", ainda não publicado no Brasil, conta o massacre de uma aldeia pelo ponto de vista de um baobá, enquanto os poemas de Pereira também trazem a conexão da ancestralidade negra com o mundo vegetal.

Segunda, 29 de novembro

18h - Mesa 5 - Plantas e cura
João Paulo Lima Barreto, um dos curadores da festa literária e fundador do Centro de Medicina Indígena, discute os saberes dos povos originários nesse campo com a ecóloga australiana Monica Gagliano e a agricultora Silvanete Lermen.

20h - Mesa 6 - Árvores e escrita

A autora moçambicana Paulina Chiziane, primeira africana a vencer o prêmio Camões, este ano, conversa com o geógrafo e escritor baiano Itamar Vieira Junior, colunista deste jornal.

Chiziane teve uma nova edição de seu livro "Niketche" publicada pela Companhia das Letras, além de edições de "O Alegre Canto da Perdiz" na Dublinense e de outros livros de ensaio e ficção pela mineira Nandyala. Vieira Junior é autor de "Torto Arado", um dos maiores fenômenos recentes da literatura brasileira, e mais recentemente da coletânea de contos "Doramar e a Odisseia".

Terça, 30 de novembro

18h - Mesa 7 - Zé Kleber: micélios
O biólogo britânico Merlin Sheldrake, que expôs seu estudo sobre a importância dos fungos para o mundo no recém-lançado "A Trama da Vida", da editora Fósforo, dialoga com o cientista paratiense Jorge Ferreira.

20h - Mesa 8 - Tecnobotânicas
Giselle Beiguelman, professora da Universidade de São Paulo e autora de "Políticas da Imagem", da Ubu, discute com K. Allado McDowell, pessoa não binária especialista em tecnologia e inteligência artificial que trabalhou por anos no programa Artists + Machine Intelligence do Google.

Quarta, 1º de dezembro

18h - Mesa 9 - Fios de palavras
O poeta carioca Leonardo Fróes, uma das maiores referências brasileiras na literatura inspirada pela botânica, completou 80 anos em 2021 e ganhou uma antologia abrangente na editora 34.

Em um perfil recente publicado na Folha, ele contou as razões pelas quais decidiu subir a serra carioca e se mudar para um sítio, 50 anos atrás, e dedicar a vida à leitura e às plantas.

Ele participa da mesa ao lado das também poetas Júlia de Carvalho Hansen e Cecilia Vicuña, chilena que articula na literatura e nas artes plásticas a resistência à ditadura pinochetista e a representação dos povos indígenas do país.

20h - Mesa 10 - Utopia e distopia
A escritora canadense Margaret Atwood, autora da distopia "O Conto da Aia" e da sequência "Os Testamentos", publicadas pela Rocco, é uma das convidadas de maior destaque da edição deste ano. Ela divide a mesa com o cientista brasileiro Antonio Nobre.

Atwood deu uma entrevista à Folha em setembro, na qual comparou a cultura do cancelamento ao totalitarismo, rebateu críticas de viés racial a sua obra e discutiu o que mudou no mercado editorial ao longo de seus 60 anos de carreira.

Quinta, 2 de dezembro

18h - Mesa 11 - Botânicas migrantes
A palestra reúne duas autoras que publicaram romances de destaque este ano. A angolana Djaimilia Pereira de Almeida trouxe ao Brasil pela Todavia seu romance "A Visão das Plantas", destaque no prêmio Oceanos que conta a história de um ex-capitão de navio negreiro que se dedica ao jardim em sua aposentadoria.

A autora, que tem publicado textos de ficção regulamente na Ilustríssima, explicou à Folha, na época do lançamento, o que a motivou a refletir de forma profunda sobre a questão da culpa e da consciência em um personagem tão aterrador.

Já Elif Shafak, uma das escritoras mais lidas na Turquia, publicou pela HarperCollins o livro "10 Minutos e 38 Segundos neste Mundo Estranho", finalista do Booker que relata o feminicídio de uma prostituta e foi acusado em seu país de obscenidade. Em entrevista concedida em julho, ela discutiu as ameaças da censura e do populismo no mundo.

20h - Mesa 12 - Políticas vegetais
O americano Kim Stanley Robinson, autor que faz ficção científica partindo quase sempre da catástrofe climática e que publicou "Nova York 2140" pela Planeta, conversa com a jornalista Eliane Brum, que publicou "Banzeiro Òkòtó: Uma Viagem à Amazônia Centro do Mundo" pela Companhia das Letras.

Sexta, 3 de dezembro

20h - Mesa 14 - Vegetalize
A mesa reúne a sul-coreana Han Kang, da brutal sátira "A Vegetariana" e da trama política de "Atos Humanos", e a escritora brasileira Adriana Lisboa, que já ganhou o prêmio José Saramago e este ano lanlçou a coletânea de poemas "O Vivo", pela Relicário,

Sábado, 4 de dezembro

16h - Mesa 15 - Transflorestar - ato um
O filme com direção, roteiro e atuação da compositora Iara Rennó estreia em meio à programação da Flip. Com colaboração de artistas como Curumin, Thalma de Freitas e Ava Rocha, Rennó se inspira no pensamento de intelectuais do porte de Davi Kopenawa e Eduardo Viveiros de Castro para pensar novos mundos possíveis.

18h - Mesa 17 - Em busca do jardim
A mesa traz o encontro entre duas das maiores autoras negras vivas, a brasileira Conceição Evaristo, de "Ponciá Vicêncio" e "Olhos d'Água", e a americana Alice Walker, vencedora do Pulitzer por "A Cor Púrpura".

A Bazar do Tempo recentemente lançou "Em Busca dos Jardins de Nossas Mães", coletânea de ensaios em que apresenta suas visões sociais e políticas e reflete sobre a maternidade. Evaristo, leitora da obra de Walker, teve experiências significativas cuidando das plantas de sua casa durante a pandemia.

20h - Mesa 16 - Ouvir o verde
O romancista chileno Alejandro Zambra, que pautou as plantas em livros como "Bonsai" e "A Vida Privada das Árvores", conversa com a poeta mineira Ana Martins Marques, que pensa a natureza em obras como "O Livro dos Jardins".

Zambra foi objeto de um amplo perfil neste jornal quando lançou, em outubro, "Poeta Chileno", seu romance de maior fôlego. Já Marques, cuja poesia alcançou uma nova onda de popularidade com o novo "Risque Esta Palavra", deu uma entrevista em que perpassou as principais motivações de sua literatura. Ambos foram publicados pela Companhia das Letras.

Domingo, 5 de dezembro

16h - Mesa 18 - Metamorfoses
O filósofo italiano Emanuele Coccia, considerado um dos principais responsáveis por disseminar o conceito de "virada vegetal" que inspirou esta Flip a dar protagonismo às plantas, conversa com a cantora Adriana Calcanhotto, que construiu durante sua residência na Universidade de Coimbra o concerto-tese "A Mulher do Pau Brasil", de inspirações antropofágicas.

18h - Mesa 19 - Cartografias para adiar o fim do mundo
Na mesa de encerramento, o líder indígena Ailton Krenak, autor de "Ideias para Adiar o Fim do Mundo" e "A Vida Não É Útil", publicados pela Companhia das Letras, pensa os desafios do país ao lado de Muniz Sodré, colunista deste jornal e autor de "Pensar Nagô" e "A Sociedade Incivil", editado pela Vozes. A conversa aproxima as raízes do pensamento indígena à do afro-brasileiro, com o objetivo de mapear futuros possíveis para o Brasil.

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