O mercado de streaming tem sido generoso com os fãs dos Beatles. Os recém-lançados "McCartney 3, 2, 1", no Star+, e "Get Back", no Disney +, revelaram detalhes internos da banda e já receberam críticas elogiosas aqui na Folha. As crianças foram agraciadas com a série "Beat Bugs", na Netflix.
A trajetória individual de cada beaatle também foi tema de alguns documentários. É o caso de "John e Yoko: Above Us Only Sky", que foi traduzido para "John e Yoko: Só o Céu como Testemunha".
Como o título em inglês sugere, o filme tem o grande mérito de acompanhar a gravação do disco "Imagine" e revelar detalhes pouco conhecidos da composição da música. São imagens saborosíssimas de John e Yoko em Tittenhurst Park, a imensa casa de campo em que eles foram morar em 1969. "Ficava no campo. Longe de Londres. Longe da imprensa. Longe dos Beatles e da Apple Corps", diz uma cartela do filme.
Há cenas de John e Yoko lendo jornal na cama, dando entrevistas, passeando de barco com Julian Lennon e coordenando a gravação realizada num estúdio construído dentro da casa. O momento em que John mostra "Imagine" para os músicos pela primeira vez é especial. Tudo é contextualizado com depoimentos atuais de pessoas que acompanharam as gravações, incluindo Julian (que na época era uma criança) e Yoko Ono.
Além de trazer os bastidores da gravação de um disco antológico, o filme mostra as constantes trocas artísticas, políticas e comportamentais entre John e Yoko. Especialmente como as poesias contidas no livro "Grapefruit", de Yoko Ono, influenciaram os versos de "Imagine". "Essa música deveria ser creditada ao Lennon e à Ono, pois muito dela, a letra e o conceito, vieram dela. Mas, naquele tempo, eu era mais egoísta, mais machista, e falhei em mencionar a contribuição dela", disse John numa entrevista para a rádio em 1980. "Eu sinto que, no panorama geral, o fato de John e eu termos nos conhecido foi para fazer essa música", completa Yoko.
Mais do que isso, o filme mostra como "Imagine" conseguiu sintetizar John e Yoko: a resistência contundente —e pacífica— à guerra do Vietnã, as roupas, os gestos, as entrevistas. Toda a força de comunicação do casal que virou um dos símbolos mais relevantes do século 20. E o contraste da imagem pública com a doméstica.
Uma das melhores cenas ocorre quando um jovem fã aparece na porta da casa. Seu nome é Claudio. Ele havia lutado no Vietnã e aparece com o olhar vago, perdido. A polícia queria prendê-lo, mas John interveio e resolveu falar pessoalmente com ele. "Então nós nos conhecemos. Eu sou apenas um cara que compõe músicas", diz John Lennon.
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