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Podcast 'Nós' é exercício de escuta que conta os dois lados da história

Roberta Martinelli e Sarah Oliveira constroem narrativas sensíveis e cheias de empatia ao ouvir as versões

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Nós

  • Onde Spotify
  • Produção Trovão Mídia
  • Narração Roberta Martinelli e Sarah Oliveira

Quando as apresentadoras Roberta Martinelli e Sarah Oliveira anunciaram que fariam um podcast juntas, era natural imaginar que o assunto seria a música. Afinal de contas, seus principais trabalhos em rádio e TV foram pautados em torno dessa temática.

Martinelli é conhecida por sua curadoria de novidades da música alternativa nos programas "Cultura Livre", exibido desde 2011 na TV Cultura, e "Som a Pino", na rádio Eldorado. Oliveira destrincha a relação entre música e memória afetiva no "Minha Canção", também na rádio Eldorado, e tem no currículo seus cinco anos à frente da parada de sucessos "Disk MTV", da antiga MTV Brasil.

Mas, no podcast "Nós", as apresentadoras deixam a música em segundo plano para dar lugar a outro tema, as relações humanas. "Histórias reais, de todo tipo de pessoa —e de como elas se relacionam. Histórias sobre os nossos nós", repetem na introdução dos 24 episódios —a primeira temporada foi encerrada em 18 de outubro.

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Apresentadoras do podcast 'Nós', Roberta Martinelli e Sarah Oliveira - Nadja Kouchi/Divulgação

Produção original do Spotify, o programa mescla oportunamente os formatos documentário, entrevista e bate-papo. Por meio da narração, a dupla conecta trechos das conversas com os convidados e compartilham impressões sobre os relatos. Assim, conduzem o ouvinte a uma potente reflexão sobre os laços que unem os seres humanos.

Como irmãos gêmeos que só se conheceram aos 23 anos conciliam um abismo de diferenças? Qual é o sabor de se apaixonar por um amigo de longa data na terceira idade, após a viuvez? O que leva um casal de ex-evangélicos a fundar um clube de suingue? Esses são alguns dos "nós" que o podcast se propõe a desatar.

Para cumprir bem esse desafio, o maior acerto está na dinâmica escolhida pela produção. Os episódios têm sempre dois entrevistados, que compartilham diferentes pontos de vista sobre a mesma história. Enquanto Martinelli ouve um lado, Oliveira conversa com o outro. Mas a riqueza do processo se mostra no momento em que as duas versões são confrontadas.

É nessa parte em que surgem as revelações, as quebras de expectativas e as justificativas inesperadas. Com isso, a narrativa se mantém viva e cheia de fôlego. Ganha também outras camadas, que permitem ao ouvinte traçar um perfil mais amplo dos entrevistados e, assim, se conectar com os relatos que escuta.

Com uma longa amizade, as comadres Rô e Sá —como se apelidam— estão bem afinadas na condução do programa. O tom informal adotado por elas dá mais leveza ao podcast, que, por vezes, trata de temas delicados. As intervenções das âncoras não soam roteirizadas e acontecem na medida certa, sem competir com os entrevistados pelo protagonismo.

Em "Nós", a música pode até não ser o assunto principal, mas está presente. Além das frequentes citações musicais feitas pelas apresentadoras, os títulos dos episódios fazem referência a canções que têm relação com a história da vez. Entre as escolhas já feitas, vale destacar "Precisamos de Irmãos", em referência à canção de Rita Lee, e "Não Existe Pecado ao Sul do Equador", como na música de Chico Buarque.

A trilha de abertura é outra escolha muito acertada. Entoada pela cantora Mahmundi, "Seu Olhar" é a síntese perfeita da proposta do podcast. A composição de Arnaldo Antunes e Paulo Tatit diz "o seu olhar melhora o meu". Além da mensagem bonita, a sonoridade da faixa contribui para o clima calmo e reflexivo dos episódios.

A música é também o ponto de partida do programa. O projeto surgiu do desejo das apresentadoras de mostrar para o mundo histórias que recebem de seus espectadores, como afirmam no primeiro episódio. Na produção, elas aprofundam o exercício de storytelling que já fazem em seus programas. E o fazem com muita sensibilidade.

Com episódios de 30 a 40 minutos, "Nós" é uma ótima opção para quem deseja aquecer o coração. Fisgado por uma história bem contada, o público é conduzido em meio a um exercício de empatia, de ouvir e entender "o outro lado". Mas antes de apertar o play, o ouvinte mais emotivo também deve se preparar para lidar com os "nós" —os da garganta, nesse caso.

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