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'The Rescue' reconstitui o resgate dos meninos presos em caverna da Tailândia

Filme do diretor de 'Free Solo' segura espectador até o fim ao investir na vida de mergulhadores

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Los Angeles

A ideia era "terrível, absolutamente ridícula" —anestesiar 12 garotos de um time de futebol presos numa caverna para que fossem transportados por mergulhadores debaixo de águas turvas, numa travessia sinuosa de duas horas.

"Parecia algo muito errado, parecia eutanásia", lembra o médico e mergulhador australiano autor do plano mirabolante, num novo documentário com imagens inéditas do resgate que mobilizou o mundo no norte da Tailândia, em 2018.

"The Rescue", que estreou nos Estados Unidos no mês passado —e ainda não tem data para desembarcar no Brasil—, ganhou prêmio do público no Festival de Toronto e anda bem cotado para a temporada de prêmios de Hollywood.

O filme traz detalhes dos 18 dias de resgate que teve ajuda de centenas de voluntários e especialistas internacionais, com destaque para uma equipe improvável de mergulhadores de caverna. Na liderança está o britânico Rick Stanton, um bombeiro aposentado de 60 anos, obcecado por mergulhar em cavernas.

Stanton arrisca a própria vida e sua reputação de ser um dos melhores mergulhadores do mundo para executar o único plano possível, ainda que estapafúrdio, elaborado pelo colega Richard Harris. A trupe conta também com o consultor de tecnologia John Volanthen, um britânico de 50 anos que explora cavernas por hobby há duas décadas.

"Trabalho com pessoas assim há 20 anos. Nem chamamos de esportes radicais, mas de estilo de vida, porque essas pessoas mudam suas vidas inteiras ao redor das suas atividades", disse o diretor Jimmy Chin, ganhador do Oscar de documentário por "Free Solo", de 2018, filme sobre a escalada sem cordas de Alex Honnold num famoso paredão de 975 metros, no parque Yosemite, na Califórnia.

"Em mergulho de caverna ou escalada livre, os riscos são altos demais, não há espaço para erro. Isso atrai um certo tipo de gente, no geral pessoas incrivelmente inteligentes porque conseguem avaliar e calcular o risco num nível extraordinário. É como elas sobrevivem", disse Chin, após uma das primeiras exibições públicas do filme, em Los Angeles.

Escalador e esquiador profissional, Chin divide a direção com sua mulher, Chai Vasarhelyi, também diretora de "Free Solo". "The Rescue" é o primeiro trabalho da dupla pós-Oscar.

Imagens inéditas mostram o momento em que Stanton e Volanthen emergem das águas depois de dois quilômetros de mergulho e localizam os garotos e seu técnico de futebol com vida. Eles estão amontoados num buraco cavernoso, formado após uma chuva torrencial inundar o local, nove dias antes. "Acredite, acredite", diz Volanthen para si mesmo, incrédulo de os ter encontrado.

Há também cenas de Harris anestesiando os garotos e seus colegas aplicando doses extras de anestesia no meio do caminho para os manter desacordados. "Muitos tailandeses ainda acham que os meninos saíram da caverna nadando, não sabem da anestesia", comentou Chin.

A produção teve acesso a essas filmagens inéditas do Exército Real Tailandês após dois anos de negociações. "Depois que Chai conseguiu se vacinar, ela foi até o país, fez quarentena e insistiu de novo", contou Chin. "Pensamos que teríamos alguns minutos, e conseguimos 87 horas. Nosso filme já estava pronto, tivemos que reeditar. Ninguém dormiu no verão."

O documentário, produzido pela National Geographic, também faz uso de reconstituições para as cenas subaquáticas, com ajuda dos próprios mergulhadores num estúdio no Reino Unido. "Nunca havia feito reconstituições e estava na dúvida. Mas os mergulhadores foram essenciais para ajudar a manter a autenticidade. Já estive dos dois lados da câmera e dói demais ver uma cena de escalada que não faz sentido", disse o diretor.

O que falta ao documentário é a versão das crianças e do técnico, mas os direitos dessa parte da história foram comprados pela Netflix para uma série ainda sem nome e data de estreia. Ainda assim, "The Rescue" segura o espectador até o final ao investir na vida pessoal dos mergulhadores.

"Eles tinham tudo a perder e, mesmo assim, seguiram em frente com o resgate. Achavam que teriam sorte se resgatassem uma criança apenas", disse Chin. "No papel, a ideia era absolutamente ridícula. Então, se tivesse dado errado, com o mundo todo de olho, como iriam justificar? É um filme sobre a humanidade e a responsabilidade moral que compartilhamos."

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