Descrição de chapéu Livros Bienal do Livro

Bienal do Rio da pandemia tem fãs e autores separados por paredes de plástico

Feira é conhecida por promover encontros entre leitores e seus ídolos, tratados como verdadeiras estrelas

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Rio de Janeiro

Não foi à toa que Thalita Rebouças ganhou o apelido de Rainha da Bienal do Livro carioca. A escritora esculpiu sua carreira no evento a partir do instante em que decidiu subir numa cadeira para chamar a atenção dos leitores e autografar uma dúzia de livros.

Não tinha vergonha. Faria o que fosse preciso para conquistar seu espaço entre sucessos como "Harry Potter", que chegava ao Brasil naquele mesmo 2001 em que ela lançou o primeiro de seus mais de 20 títulos. Mas ao retornar para a Bienal do Livro do Rio de Janeiro neste sábado, Rebouças decidiu não fazer encontros com seus leitores.

Ela costumava não só autografar, mas beijar e deixar marca de batom nos livros. Agora, de máscara e numa interação com os fãs intermediada por uma parede de plástico, para evitar a contaminação pelo coronavírus, a prática seria impossível.

Isso sem considerar as aglomerações. Suas sessões de encontros com os fãs não raro reúnem centenas de leitores. Os anos se passaram e, hoje, ela precisa andar escoltada por seguranças na feira.

"Foi uma decisão que tomei com o coração partido. Já tive que cancelar sessão de autógrafo porque, se continuássemos ali, os leitores derrubariam o estande da editora. Por mais que esteja tudo organizado, não quis colocar meus leitores em risco. Eu estaria segura, mas eles talvez não", diz ela, que participou de um painel no evento ao lado do cantor Vitor Kley e da escritora Paula Pimenta.

Sua decisão ilustra a maneira como se dá o contato entre autores e leitores nesta edição da Bienal. A feira é conhecida como um dos maiores pontos de encontro entre autores e leitores —ou melhor, fãs de livros, que tratam escritores como astros do cinema e da música.

É o lugar onde adolescentes histéricas já chegaram a arremessar sapatos umas nas outras para conseguir uma assinatura de Nicholas Sparks ou idosas com andadores brigaram para conseguir o autógrafo de um padre.

São os autores o principal chamariz do evento, que neste ano terá 180 convidados, 40% a menos do que na edição passada.

Entre eles, há os que, como Rebouças, decidiram não atender os fãs. Mas há os que decidiram autografar os livros, caso de Kley, que lançou no sábado uma série de livros infantis, "Turma do Sol". É derivada de um de seus principais sucessos, a canção "O Sol".

Nas sessões dentro dos estandes das editoras, normalmente com autores menos famosos, quem decide como se dará o contato são as casas. Já nas sessões promovidas pela própria feira, caso de Kley, há algumas regras gerais. Além da tal parede de plástico, todos precisam usar máscara e apresentar um comprovante de vacinação.

Algumas personalidades, como a atriz Giovanna Antonelli, decidiram respeitar à risca as orientações dos organizadores. A atriz pedia que seus fãs entregassem "Vai Dar Certo", seu livro sobre empreendedorismo, por meio do acetato. As fotos também eram tiradas por intermédio da placa.

Outros, como Kley, aceitaram receber mais de perto os fãs que queriam uma foto abraçados. Foi assim que fizeram as universitárias Paloma Locatel, 26, e Mirella Fontes, 25. Donas de um fã-clube do cantor, o "Malucada do VK", elas vieram à Bienal só para rever o ídolo. "A gente deixou todo mundo passar na nossa frente para ter mais tempo para conversar com ele", contaram.

Foi também o que fez boa parte dos fãs de Lulu Santos. Para comemorar os 40 anos de carreira, o cantor lançou um livro que traz uma seleção de suas principais canções. Elas são acompanhadas de cifras e ilustrações de Daniel Kondo, que Lulu conheceu no Twitter, virou fã e convidou para o trabalho em conjunto.

painel
Lulu Santos conversa com uma fã durante sessão de autógrafos na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, no Riocentro; escritores e leitores eram separados por uma parede de plástico, mas podiam ingnorá-la se assim preferissem - Divulgação

"Na Bienal, sou eu que venho para ver o público. É diferente dos palcos, onde há uma distância natural entre nós. Aqui, vieram pessoas que não só gostam da minha música, mas me admiram. São pessoas que pegam minha mão e choram."

A obra, conta, já estava pronta havia alguns meses, mas aguardou a Bienal para ser lançada. Durante a sessão de autógrafos, que teve 150 senhas esgotadas rapidamente, Lulu perguntou a cada um qual era a música favorita de sua vida, quis saber o porquê e, de máscara, também aceitou tirar fotos com os fãs.

"A esta altura, já nos acostumamos com a máscara. Quem está de máscara está do lado certo da vida. Já tomei as três doses da vacina, faço teste de Covid toda semana e, mesmo com as restrições, consigo sentir a emoção de cada um."

O jornalista viajou a convite da Bienal do Livro do Rio de Janeiro

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