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Cantar é uma maneira de se comunicar com as plantas, afirmam poetas na Flip

Júlia de Carvalho Hansen, Leonardo Fróes e Cecilia Vicuña debatem em mesa do evento literário

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São Paulo

Como os seres humanos se comunicam com as plantas? Esta parece ter sido a questão principal a ocupar os autores da mesa "Fios de Palavra", a nona desta edição da Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty, nesta quarta-feira. De maneiras diferentes, os escritores convidados concordaram que o diálogo entre as espécies se dá por cantos ou sons que existem à parte da linguagem racional.

Para a poeta Júlia de Carvalho Hansen, ele acontece por cantos em línguas que ela não conhece, como o iorubá. Cecilia Vicuña, poeta e artista plástica chilena que trabalha desde os anos 1960 chamando a atenção do público para a destruição do meio ambiente, canta para as plantas, hábito que aprendeu com sua mãe.

"A única forma de se conectar com as plantas é entrar nesse espaço em que o humano não é exatamente humano, a planta não é a planta. É um espaço onde se produz outra forma de comunicação, outra realidade sonora", afirmou Vicuña.

Leonardo Fróes é um homem magro, sorridente, de cabelos totalmente brancos; veste uma camiseta rosa e está em meio à vegetação
O poeta Leonardo Fróes, fotografado no sítio Petiterra, em Secretário, onde ele mora desde os anos 1970 com sua mulher, Regina - Cassiano Lustosa Fróes/Divulgação

A artista falou brevemente dos desastres mundiais e da destruição das florestas, não somente no Brasil. Segundo ela, ainda não começamos a reflorestar o planeta porque não estamos totalmente prontos para aceitar e encarnar o amor por tudo o que vive. Estamos semiprontos para atender a este momento urgente, ela disse, comparando esse estado humano com o de uma semente, um vegetal prestes a dar uma nova vida.

"A questão da semente é que, ao eclodir, ela perde a própria flor. Sempre que a semente brotar, ela precisa entrar em processo de transformação, que tem a ver com perder-se", completou Hansen, respondendo à uma pergunta da mediadora Ludmilla Lis sobre o que é semente e o que é raiz, ou seja, o que está para nascer ou o que está na profundidade de cada um.

O outro convidado, o poeta Leonardo Fróes —radicado há 50 anos na serra de Petrópolis, estado do Rio de Janeiro, onde plantou uma floresta que viu nascer— fez uma comparação das plantas e dos animais com os homens. Se as árvores passam por um período de latência, quando no inverno secam e perdem as suas folhas, e lagartos hibernam nos meses de junho, julho e agosto, deixando a vida de lado por um tempo, "eu morro e renasço a cada dia", ele afirmou.

"Eu morro quando eu durmo, não sou mais a mesma pessoa, e eu renasço na manhã seguinte. Se nós compreendermos que vida e morte são a mesma coisa, nós vamos entender a lição do [filósofo francês Michel de] Montaigne, que escreveu que viver é aprender a morrer. A separação entre vida e morte é que me parece um pouco absurda."

Os três autores também falaram de seus processos de criação. Experientes, concordaram que os versos dos poemas lhes chegam prontos, "aterrissam no meio da noite", nas palavras de Vicuña.

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